domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mercado de açúcar: CABEÇA DE BACALHAU

CABEÇA DE BACALHAU E mais uma vez o mercado de açúcar em NY fechou em baixa. O fechamento de sexta-feira, cravando 18 centavos de dólar por libra-peso no vencimento das opções de março/2013, não foi sem um suspiro uníssono de alívio para os quase 15.000 lotes de puts (opções de venda) desse preço de exercício que devem ter causado algumas crises de vesícula para os vendidos a descoberto. Como consta em Derivativos 101, não tente ganhar o último centavo de time-value para opções at-the-money (no dinheiro) porque o gama negativo vai te morder o calcanhar. Deve ter tido muita gente nessa situação dada as oscilações ocorridas no março/2013 nesses últimos dias. De qualquer modo, o fechamento de 18 centavos de dólar por libra-peso no março representou uma queda de apenas 14 pontos na semana, pouco mais de 3 dólares por tonelada. Os demais vencimentos, no entanto, foram horríveis. Queda média de 12 dólares por tonelada na semana para os meses que representam a safra 2013/2014. Novas baixas inauguradas com o março visitando 17,87 centavos de dólar por libra-peso, a mais baixa cotação desde agosto de 2010. Um executivo da área de alimentos comemorava a meia-dúzia de jantares que ganhou numa aposta em que afirmava que os 18 centavos iriam para o espaço. E foram. Pela primeira vez desde o final do primeiro semestre de 2010 o valor líquido do açúcar VHP está abaixo do custo de produção. E também pela primeira vez desde a crise de 2008 (e algumas semanas de desabastecimento de etanol em 2011) o hidratado liquida acima do açúcar NY. Nos últimos 1.000 dias, o hidratado em reais por saca de açúcar equivalente só liquidou melhor para o produtor do que o açúcar em NY em 3,8% das vezes. Coisas raras de ver, como cabeça de bacalhau, por exemplo, e merecem ser citadas. Só para ter uma ideia da “crueldade” do hidratado para o produtor, o anidro liquidou melhor que o açúcar em 3 vezes mais ocasiões do que o hidratado. Ainda na categoria raridades: nos últimos 4 anos, NY negociou abaixo do custo de produção em apenas 3,2% das ocasiões. Se compactássemos esses 4 anos em um dia de 24 horas, é como se o açúcar negociasse com prejuízo para as usinas das 23 e 15 horas até meia-noite. Pode ser que a passagem do meteoro perto da Terra nesta sexta-feira tenha me afetado alguns neurônios. A ver. Os fundos continuam aumentando suas posições vendidas como se não houvesse amanhã. Agora possuem um volume líquido de vendas de 81.000 contratos. Isto é a bagatela de 4,1 milhões de toneladas de açúcar equivalente. Os fundamentos estão fincados no solo e nada parece mudar o estado de coisas. Alguns traders comentam que os fundos estão com preço médio vendido acima de 19,50 centavos de dólar por libra-peso, portanto, se acreditarmos nessas projeções, os fundos têm nesse momento de fechamento, um lucro ainda não realizado de 160 milhões de dólares. Fazem cócegas nas mãos de qualquer gestor. O ponto é quando que eles começarão a realizar lucros? Um rally (subida repentina de preços após uma baixa) pode estar batendo à sua porta. Por outro lado, tem muita gente que achava que comprar açúcar a 20 centavos de dólar por libra-peso era barato demais. 19 centavos de dólar por libra-peso era tudo de bom. 18,50 centavos de dólar por libra-peso nem se fale. E esse pessoal hoje contabiliza um prejuízo, ainda que não realizado. Só que prejuízo na bolsa, a gente sente na chamada de margem no dia seguinte. Diferentemente de quando se está sentado em cima de uma enorme posição física, com milhares de sacas de açúcar empilhadas num armazém. O prejuízo é o mesmo, mas os mercados futuros têm aquela “péssima mania” de zerar os lucros e prejuízos no final do dia, portanto, ficam mais visíveis. É como se um maçarico aceso teleguiado nos espreitasse a todo o momento. Os preços de NY convertidos em reais por libra-peso estão mesmo no ponto mais baixo dos últimos 21 meses. São 35,26 centavos de real por libra-peso (NY a 18 centavos de dólar por libra-peso com dólar a 1,9589) contra a cotação de 24 de maio de 2011 (NY a 21,91 centavos de dólar por libra-peso e dólar a 1,6241). A semana foi encurtada pelo Carnaval e não muita coisa aconteceu no mercado físico. Também agora como sempre ocorre no Brasil, o ano começa a partir dessa segunda-feira. O dólar a 1,9589 coloca o custo de produção de açúcar apurado pelo modelo desenvolvido pela Archer Consulting em 18,17 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, sem custo financeiro. Para as usinas mais eficientes, esse custo pode ficar abaixo dos 17 centavos de dólar por libra-peso. Segunda-feira NY está fechada. Três dias de folga para se recuperar dos excessos carnavalescos. Bom final de semana para todos. Arnaldo Luiz Corrêa Fonte: Archer Consulting

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