segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pouco ‘trabalho’ para muito emprego

A indústria pagou um alto preço ao país em 2012. O setor entregou para os “concorrentes” do comércio e dos serviços as alegrias de um bom ano ao não conseguir crescer e ganhar competitividade, mesmo com todos os estímulos gerados pelo governo. Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 2,7% no ano passado. Tão ruim quanto o próprio resultado, é a evolução do setor nos últimos anos. Em 2009, reflexo da crise do ano anterior, a queda foi de 7,4%. Em 2010, a expansão foi de 10,5%, caindo para minguados 0,4% em 2011. Podemos quase dizer que a indústria brasileira está sofrendo de bipolaridade, o que não é nada bom. “A produtividade está estagnada num nível muito baixo. E ela tem sido responsável indiretamente pela fraca geração de empregos na indústria e na construção civil. Quando conjuga produtividade baixa com falta de mão-de-obra, o custo unitário por trabalhador explode. As empresas estão sendo obrigadas a bancar esse custo unitário com o lucro. Sem lucro, não tem dinheiro para investir e inovar”, diz o professor, sociólogo e especialista em relações do Trabalho, José Pastore. Emprego e produção têm uma forte correlação em economia. No Brasil, essa interdependência anda meio distorcida, já que temos desemprego muito baixo e economia fraca. Outro indicador que ratifica essa realidade é a diferença entre o crescimento da renda e da produtividade. No nosso caso, a primeira tem crescido mais do que a segunda. “A produtividade vai ficar adormecida no país enquanto esse quadro da economia não mudar. Não é possível falar em salto de produtividade em seis meses ou um ano. A concorrência lá fora é selvagem, feroz. A indústria brasileira não está em condições de competir com quase nada. Eu vejo 4,6% de desemprego e fico com uma vontade louca para comemorar, mas não tenho coragem porque o quadro econômico atrás da geração do emprego não está favorável”, afirma Pastore. O professor cita dados sobre os índices de ganhos de produtividade em outros países em comparação com o Brasil para corroborar sua tese sobre a fragilidade da competitividade da indústria brasileira. De acordo com José Pastore, no período entre 2001 e 2011, o ganho de produtividade foi de 26% no Brasil. Na Coreia, no mesmo período, foi de 76%; e na China, de 93%. Para dar mais um empurrãozinho (para baixo), a balança comercial brasileira registra o pior resultado dos últimos 20 anos. Reflexo do dólar mais barato, da renda maior e de um apetite de consumo que não se satisfaz com o produto nacional. A economia vai ter dificuldades de encontrar o tão sonhado caminho do crescimento sustentável enquanto tivermos mais emprego do que “trabalho” para fazer, o que em economês se chama produção.

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