sábado, 4 de maio de 2013

Animais silvestres resgatados na área urbana de Manaus recebem atendimento especial

Animais silvestres resgatados na área urbana de Manaus recebem atendimento especial Refúgio da Vida Silvestre Saium-Castanheira garante atendimento preferencial a animais resgatados na área urbana de Manaus Manaus, 04 de Maio de 2013NELSON BRIL Você, que não tem plano de saúde pessoal nem corporativo, e depende das famigeradas filas de espera do Sistema Único de Saúde (SUS), não se sinta ofendido, mas muitos dos nossos parceiros animais irracionais estão recebendo cuidados médicos, digamos, menos pior que você. Sem precisar marcar consulta, pegar ficha ou senha e nem esperar meses para ser recebido por um médico ou fazer um exame, o jacaré capturado no último domingo, na Ponta Negra, teve “atendimento vip” no dia seguinte. Mesmo sem aparentar nenhuma “dorzinha de dente” sequer, só foi devolvido ao habitat natural depois de passar por uma junta médica, composta por conceituados biólogos e veterinários. Tanto o réptil, que estava visivelmente bem de saúde, quanto qualquer outro animal silvestre, vítima de agressão física ou psicológica, pode ser atendido rapidamente no Centro de Triagem de Animais Silvestres, uma espécie de Pronto-Socorro de Urgência e Emergência dos animais irracionais. O centro fica dentro do Refúgio da Vida Silvestre Sauim Castanheiras, no Distrito Industrial 2, Zona Leste, onde convivem os nativos “donos do pedaço”, preservados desde a criação do projeto, há dez anos. Mas nem tudo é mordomia. Assim como os corredores dos hospitais públicos estão cheios de macas, muitas ocupadas por pacientes em estado terminal ou abandonados por parentes, no “pronto-socorro” da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), a realidade não é tão diferente. Muitos animais que não conseguiram ser curados de problemas que impedem o retorno ao convívio natural continuam e, provavelmente, ficarão até o fim da vida na reserva. Pior que no cotidiano humano, onde poucos querem adotar uma criança com problemas de saúde (sem falar de outros aspectos), os bichinhos que chegam à reserva, feios, machucados ou idosos, não podem ser adotados. Rigorosamente, só existem duas formas de saírem: ou pelo retorno à vida livre ou, se não tiverem condições, físicas ou de ambientação, são doados a uma instituição autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Como os poucos zoológicos de Manaus - Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e Tropical Hotel - estão superlotados, o jeito é oferecer os bichos a entidades de outras regiões. Entretanto, além da “macacada”, espécies como araras, que viraram “made in brazil”, estão pagando caro pela fama. Já existem tantas em tantos lugares do País que até a bonita arara azul está sendo rejeitada. O clamor geral das classes menos favorecidas é unicamente por moradia e por um sistema de saúde com mais dignidade a todos os animais, racionais e irracionais. Parceria com outros órgãos A grande procura vem acarretando dificuldades à Semmas para administrar o Sauim Castanheiras. Sobram animais e falta dinheiro. Ciente de que a responsabilidade pela fauna silvestre é do Estado, o Município pediu socorro ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e ao Ibama, propondo parceria. Depois da Lei Complementar 140, que “joga” a fauna no “colo” dos Estados, em fevereiro, Ipaam e Ibama assinaram um acordo de cooperação técnica. Técnicos dos três órgãos já se reuniram para costurar a gestão compartilhada, fato confirmado pela gerente de fauna do Ipaam, Sônia Canto. “Ainda este ano o acordo de parceria será firmado”. Os centros seriam apenas para recuperar os bichos e devolvê-os à natureza, mas devido à grande demanda de outras necessidades, o Sauim Castanheiras vai além. Como muitas espécies não podem mais retornar à vida livre ou não há vagas em outras cidades, o local virou um zoológico. Primatas são ‘excluídos’ O macaco-prego é uma das espécies que melhor retrata a mais cruel “desumanidade do homem” com os animais silvestres: o abandono. Depois de seis anos de vida, ele atinge a maturidade sexual e muda radicalmente o comportamento. Por influência do hormônio, ele simula masturbação e fica agressivo. “Aí, quando começa a morder, ele deixa de ser engraçadinho e as pessoas querem se livrar do animal a qualquer custo”, explica o veterinário Laérzio Chiezorim. Por isso e também por não ser, fisicamente, nada bonito, é uma das espécies mais rejeitadas. Não por acaso, quando visitávamos a reserva, um homem ligou, pedindo o resgate de um “prego”. Minutos depois, ele voltou a ligar, dizendo que o bicho havia fugido. Aliás, o medo da rigorosa multa por manter animal em cativeiro acaba complicando a situação. Quem aceita entregar o animal, sempre distorce a verdade, dificultando o preparo dele para o retorno à vida livre. Centro fica na área urbana Com uma área de 95 hectares, o Refúgio da Vida Silvestre Sauim Castanheiras atua na proteção da fauna, por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres e do Serviço de Resgate de Animais Silvestres. Esse “mundo animal”, fincado no meio de uma cidade com dois milhões de humanos, tinha, até sexta-feira, 158 bichos das mais variadas espécies. A prioridade é o resgate, o tratamento e a reabilitação dos animais da fauna regional para que sejam devolvidos à vida livre, na natureza. O Serviço de Resgates oferece atendimento a qualquer animal silvestre em risco ou que represente risco à população. Na reserva são desenvolvidos vários programas, dentre eles, o “Sauim-de-Manaus”, em parceria com a ONG “Sapeca” e com o apoio da Petrobras. Resgates Manaus possui apenas dois Centros de Triagem de Animais Silvestres, o Refúgio Sauim Castanheiras e o Ibama, e cerca de 900 animais são recebidos por mês. Destes, 80% é proveniente de entregas expontâneas e, o restante, é produto de resgates, apreensões, etc. O maior número é de quelônios, seguido de aves e mamíferos. Captura Segundo os veterinários e biólogos, é praticamente impossível o homem conseguir capturar um filhote de macaco, em seu habitat natural, sem, para isso, matar a mãe dele. O motivo é simples, explicam os especialistas: os filhotes de macacos costumam ficar sempre nas costas da mãe, e não é raro a arma do predador matar os dois na captura. O telefone para atendimento do Refúgio da Vida Silvestre Sauim Castanheiras, que também serve para pedido de resgate de animais silvestres é o (92) 3618-9345, e o serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Devido ao trabalho com animais silvestres de vida livre, o local não é aberto à visitação pública.

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