quarta-feira, 22 de maio de 2013

Marcas sem fronteiras

Marcas sem fronteiras Relacionamento de longo prazo, preço competitivo e muito jogo de cintura são alguns dos diferenciais das empresas que mais exportam a partir do Sul do País 22/05/2013 Portal Amanhã Em 1974, a Perdigão completava quatro décadas de vida sem nunca ter colocado o pé fora do Brasil. Era hora de testar a aceitação de seus produtos no mercado internacional. Para isso, a empresa fundada em Videira (SC), em 1934, uniu-se a outros 15 produtores de frango brasileiros, dando origem à União Nacional dos Exportadores de Frango (Unef). Do outro lado do mundo, o consórcio fez sucesso. Caiu no gosto dos consumidores do Iraque, um país com economia em plena ascensão – graças ao boom do petróleo. Mas a aceitação do frango brasileiro no Oriente Médio chamou a atenção de uma concorrente poderosa: a Sadia. Que decidiu desbravar a Arábia Saudita por conta própria, sem se associar a ninguém – e conseguiu. Perdigão e Sadia ilustram mais do que casos de sucesso no disputado mercado internacional. Elas também mostram que não há uma receita única para se tornar um grande exportador. Com estratégias bem diferentes, as duas companhias conquistaram espaço lá fora e colocaram Santa Catarina no mapa global do mercado de carnes. Juntas, elas deram origem à BRF – Brasil Foods, hoje a maior companhia exportadora da região sul. Anunciada em 2009, a fusão gerou um colosso com negócios que chegam a mais de 100 países. Só em 2012, a receita de exportações da BRF passou de US$ 5,8 bilhões. Desse total, cerca de US$ 3,3 bilhões saíram pelos portos da região sul, onde se concentra parte da produção da maior indústria de alimentos do Brasil. “Fizemos uma base muito forte no sul e começamos a exportar a partir do Porto de Itajaí. Foi por ali, pelo oeste catarinense, que começou o Brasil exportador de frangos”, orgulha-se José Antônio do Prado Fay, CEO da BRF. Hoje, diz ele, a companhia emprega entre 25 e 30 mil pessoas nos três estados. “O sul é o grande polo de exportação dos nossos produtos”. Grandes exportadores como BRF, no entanto, ainda são raros – não só no sul, mas em todo o Brasil. De um contingente de 6 milhões de empresas existentes no país, apenas 19 mil (ou cerca de 0,3%) já cruzaram fronteiras, segundo os cálculos da Agência Brasileira de Promoção às Exportações (Apex-Brasil). Na visão de Regina Silverio, diretora de gestão e planejamento da Apex, a ausência de tradição exportadora se deve, principalmente, ao fato de que o país tem um mercado interno grande e aquecido. “Fica complicado convencer o empresário a pensar globalmente, até porque ele pode perder espaço aqui dentro. O cenário internacional ainda é muito difícil”, afirma. Contrariando a praxe histórica das empresas brasileiras, que costumam traçar estratégias de negócio deixando de lado o mercado externo, a BRF tem a dimensão exata da importância de falar outros idiomas. Nada menos que 40% do seu faturamento anual – que chegou a R$ 28,5 bilhões em 2012 – vem das exportações. O valor é resultado da expansão dos negócios não apenas em solo brasileiro como também em todos os mercados, do tradicional Oriente Médio às novas incursões pelo continente africano – onde a marca Sadia está sendo relançada em 16 países. Terceira maior exportadora do país, atrás apenas de Petrobras e Vale, a multinacional envia mais de 200 mil toneladas por mês para cerca de 140 destinos. “A BRF é a empresa que mais leva uma marca brasileira ao exterior, chegando aos consumidores em pequenas quantidades, em caixinhas”, diz Antônio Augusto De Toni, vice-presidente de mercado externo da BRF. Em proporções menores, outra empresa que tem conseguido se equilibrar na onda exportadora do sul é a Aurora Alimentos. Em 2012, a cooperativa de Chapecó (SC) agregou US$ 311 milhões de exportações à sua receita total de R$ 4,6 bilhões – pouco mais de 13% do faturamento. Na Aurora, assim como na BRF, os resultados foram puxados pelo frango, responsável por metade das vendas externas. “Todo mundo come frango porque é mais barato. Até os muçulmanos consomem. Até 2018, o suíno, que ainda é a carne mais vendida no mundo, será ultrapassado pelo frango”, prevê Mario Lanznaster, presidente da Aurora. Tal como acontece com a BRF, a empresa concentra cerca de 30% do volume de suas vendas externas no mercado árabe. Não por acaso, a BRF pretende inaugurar, ainda neste ano, sua primeira unidade construída fora do Brasil – justamente em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. A planta de processados deverá produzir 80 mil toneladas anuais de empanados, hambúrgueres, pizzas e industrializados, chegando a 22 países da Liga Árabe. “Ao fabricar localmente produtos frescos e resfriados, conseguiremos acessar melhor esses mercados, alguns fechados para o Brasil por falta de acordos sanitários”, revela De Toni. Não são poucas as razões que levaram o frango brasileiro a cair no gosto do mundo. Uma delas é que, por aqui, as aves são alimentadas com milho, que confere uma coloração “mais bonita” à carne, como explica Lanznaster. Enquanto isso, os produtores da Europa tratam as aves com sorgo, aveia e trigo, o que deixa o produto mais esbranquiçado. Outro diferencial brasileiro é a capacidade de entregar o que o consumidor quer. Europa e Estados Unidos dão preferência ao peito de frango. Asiáticos são mais afeitos às carnes de sabor acentuado – como coxa e sobrecoxa. Já os árabes gostam do frango inteiro, desde que pequeno. “Na China, as asinhas e o pé de frango são consumidos em grande volume como aperitivos”, conta De Toni. A Coamo não exporta frango, mas suas atividades estão diretamente relacionadas a esse mercado. A maior cooperativa agrícola da América Latina costuma fazer grandes embarques mensais para o exterior de soja e milho – matéria-prima para a fabricação da ração animal. Em 2012, mais de 20% da receita da Coamo veio do mercado externo – o que não é pouco, a julgar pelo faturamento de R$ 7,1 bilhões registrado no ano passado. “Calculei por alto aqui e somei 38 países”, avisou Aroldo Galassini, tão logo soube das razões pelas quais concederia entrevista a AMANHÃ. A espontaneidade do presidente da Coamo revela o tom com que os executivos da cooperativa de Campo Mourão (PR) lidam com a clientela externa. “Aqui, o contato é direto com o presidente, com o chefe da indústria. É tudo mais simples, bem diferente de uma multinacional”, diz Galassini. Ainda que a China seja o maior cliente individual da soja e do milho da Coamo, são os europeus que respondem por uma relação mais sólida – e que vai além dos negócios. “Tem uma coisa de amizade, em que a gente sempre vai para lá em abril e setembro e os recebemos aqui em novembro, quando eles vêm fazer as compras para o ano seguinte”, conta Galassini. Para a Europa, diz ele, a cooperativa faz vendas diretas. Para a China, porém, os negócios são intermediados por tradings. “É um mercado mais desconhecido e complicado. Os preços variam muito lá”, explica Galassini. Em dezembro, ele esteve no Japão para firmar parceria com uma cooperativa local, visando à comercialização de milho naquele país. O esforço da Coamo para aproveitar os bons preços dos alimentos no mercado internacional reflete o fato de o Paraná ser, hoje, o maior exportador do sul do país. “Os paranaenses mantêm um olho no gato e o outro no rato, atentos tanto ao mercado interno, que segurou o consumo, como ao externo, percebendo agora o dólar um pouco melhor”, avalia Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Apesar de ser puxado por uma montadora de veículos, a Renault, o ranking dos maiores exportadores do Paraná é formado basicamente por companhias relacionadas ao campo – como Coamo, Bunge, Cargill e BRF. Veja aqui o ranking com as 90 empresas que mais exportam a partir do Sul. Notícias de Setor Agroindustrial

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