terça-feira, 19 de junho de 2018

Bilhões desapareceram com a greve no transporte, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves



Publicado em 19/06/2018 15:02


Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio




Os últimos 30 dias foram de grandes impactos do macroambiente no agronegócio. Os problemas principais trouxeram como consequência a deterioração de boa parte dos indicadores econômicos. O Relatório Focus do Banco Central derrubou a expectativa de crescimento de 2,18% para 1,94% e a de 2019 recuou de 3,0% para 2,8%. A expectativa da inflação também subiu de 3,65% para 3,82% e em 2019 de 4,00% para 4,07%. Ressalto que aqui ainda temos um número a ser comemorado. Para as taxas de juros, ficam estáveis em 6,5% para o final deste ano e 8,0% para o final do ano que vem. Finalmente o câmbio, cuja expectativa no início do ano era de algo próximo a R$ 3,30/dólar em dezembro e agora passou para R$ 3,50/dólar, ainda abaixo da cotação de hoje.
Convivemos também com dias de grande instabilidade na taxa de câmbio com o US$ chegando a valer próximo de 4 reais, e a Bolsa de Valores também perdeu diversos US$ bilhões, com a expectativa de aumento de juros nos EUA para conter um pouco a aceleração econômica e a situação interna. Para as cadeias nitidamente exportadoras, esta desvalorização tem o fator positivo de trazer melhores preços em reais, mas para as de mercado interno, o impacto acaba sendo mais negativo, pois encarecem-se os insumos precificados em dólar e temos um mercado interno com pouca reação, não permitindo aumentos de preços. O cenário interno político é bem complexo ainda, com a falta de uma candidatura de centro e de consenso que possa começar a crescer com mais vigor e se cacifar para o segundo turno, com chances de vitória. Mas ainda tenho esperanças que isto deve acontecer, após a Copa do Mundo, com o fortalecimento das alianças eleitorais e em caso de vitória deste cenário, arrisco um dólar de R$ 3,45 em dezembro.
Nossa agenda de reformas que possam aumentar a competitividade praticamente parou, mesmo com a manutenção das estruturas e do pagamento dos salários aos responsáveis por estas. Estamos vendo os EUA com políticas agressivas de redução de impostos incidentes no lucro e em outras atividades das empresas, que vem sendo seguidas por outros países e outras coisas acontecendo no mundo, e pouco se escuta de mudanças no Brasil, de concessões e outros. Ainda temos 6 meses neste ano, que não podem ser desperdiçados, senão aprofunda mais ainda o fosso da competitividade.
No agro, refletindo os impactos da seca, a nona estimativa da CONAB traz produção esperada de 229,7 milhões de toneladas de grãos (3,4% menor que a safra anterior) em 61,6 milhões de hectares, área 1,1% maior que a safra anterior. Algodão vem bem com maior área (25,2%) e produtividade (2,1%). Segunda safra de milho deve cair 13,6% em relação à safra passada e 7,5% em relação à estimativa anterior, como previ aqui mês passado. Quase 13 milhões de toneladas de milho a menos que a safra anterior. Para a soja são esperadas 118 milhões de toneladas. Trigo com crescimento de 4% na área e de quase 10% na produtividade com produção de 4,9 milhões de toneladas.
Talvez a primeira boa notícia do texto vem das surpreendentes exportações do agro em maio, que mesmo com a greve que interrompeu o Porto de Santos em mais de uma semana, foi de praticamente US$ 10 bilhões (3% acima de maio de 2017) e retirando-se as importações de US$ 1,1 bilhão, ficou um superávit 4,7% maior, de US$ 8,9 bilhões. A soja foi o destaque, com quase 23% acima do mesmo mês de 2017, algo próximo a US$ 5,8 bilhões. Na sequência vem outro excelente resultado dos produtos florestais, com quase 15% de crescimento (US$ 1,1 bilhão no mês). O tombo maior foi nas carnes, que perderam mais de US$ 1,1 bilhão, um recuo de quase 10%. Houve grande tombo também em açúcar e etanol (36,4%) e café (42,3%). Fechamos os primeiros cinco meses 3,8% acima de 2017, vendendo US$ 40,3 bilhões. Importamos 2,4% a menos (US$ 4,91 bilhões) o que dá um saldo de US$ 34,5 bilhões (4,8% maior). Ou seja, as exportações vem se comportando muito bem e devem ser mais impulsionadas com a nova situação cambial, assim que o frete se normalizar.
Contato: favaneves@gmail.com
Tags:
 
Fonte: Marcos Fava Neves

Nenhum comentário:

Postar um comentário