Publicado em 31/12/2019 19:53
São Paulo - Com a aprovação da reforma da Previdência e a expectativa de que a economia brasileira passará a ter resultados mais sólidos, a Bolsa engrenou uma alta pelo quarto ano consecutivo e registrou, em 2019, a maior valorização desde 2016. As ações das empresas que integram o Ibovespa (o principal índice da B3) avançaram 31,58% no ano, sem descontar a inflação, e estimativas do mercado apontam que elas devem voltar a subir em 2020, desta vez entre 12% e 21%.
Apesar do bom desempenho no ano, o Ibovespa recuou 0,76% nesta segunda-feira, 30, influenciado pelo mercado internacional, e encerrou o dia em 115,6 mil pontos. Casas como XP Investimentos e Modalmais, porém, projetam que o índice possa chegar a 140 mil pontos em 2020, o que representaria uma alta de 21%. O BTG Pactual e a Genial Investimentos falam, respectivamente, em 134 mil e 135 mil pontos.
"Esperamos que as ações brasileiras continuem em alta em 2020, depois de um desempenho forte por quatro anos consecutivos. Prevemos que a próxima etapa do rali esteja apenas começando e seja apoiada por uma recuperação econômica acelerada", escreveram, neste mês, os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, do BTG.
Bancos internacionais também reforçaram suas apostas no mercado acionário brasileiro recentemente. No início de dezembro, o Bank of America, que estima um Ibovespa a 130 mil pontos em 2020, publicou um relatório em que o Brasil aparecia como único país da região com recomendação "overweight" (peso acima do mercado). Algumas semanas antes, o UBS havia elevado a recomendação para investimentos em ações brasileiras de "overweight" para "strong overweight".
Perspectiva
O descasamento entre o resultado do Ibovespa e a atividade econômica nos últimos três anos ocorre porque os investidores trabalham com perspectivas futuras, lembra Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco Modalmais. "O mercado está operando na expectativa e o quadro é mais positivo daqui para frente", diz. Segundo Bandeira, as projeções para inflação e juros ainda baixos em 2020, além de um Produto Interno Bruto (PIB) dobrando em relação ao patamar de 2019, favorecem esse cenário positivo na Bolsa.
Com a recuperação econômica prevista para 2020 - o mercado estima alta de 2,3% no PIB, segundo o boletim Focus -, a XP, por exemplo, projeta que o lucro das empresas cresça em média 13% em 2020. O BTG estima alta de 18%.
Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, a saída da recessão - ainda que lenta - e a aprovação da reforma da Previdência trouxeram um ânimo novo para os investidores. A subida das bolsas ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, também influenciou o avanço do Ibovespa, destaca o analista. Novas altas na Bolsa, diz ele, dependerão da manutenção da agenda de reformas, e algum recuo na bolsa dos Estados Unidos pode ser um risco para o mercado brasileiro.
Empresas
Colombo atribui a maior valorização neste ano na Bolsa brasileira dos papéis de empresas do setor de varejo e do agronegócio ao aumento do consumo e à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que elevou a exportação de produtos agrícolas. Entre as empresas cujas ações mais subiram aparecem as varejistas Via Varejo (154,4%) e Magazine Luiza (112,46%). A campeã foi a Qualicorp, do setor de saúde, com um avanço de 243%. Beneficiada pela elevação do preço da proteína e se recuperando dos escândalos de corrupção, a JBS teve alta de 122,6%.
A petroquímica Braskem, que convive com os problemas da recuperação judicial da Odebrecht (uma de suas acionistas, ao lado da Petrobrás), foi a empresa do Ibovespa com o pior desempenho neste ano: as ações caíram 35,22%.
O desempenho da Braskem no mercado acionário foi prejudicado pela notícia de que a holandesa LyondellBasell desistiu, em junho, de comprar a empresa brasileira e pela crise em Alagoas. A Braskem decidiu encerrar a extração de sal-gema (matéria-prima para produzir plástico) em Maceió após ser alvo de ações judiciais que somam quase R$ 40 bilhões.
As atividades da empresa na capital alagoana estariam provocando rachaduras em construções e três bairros estariam afundado. Em nota, a Braskem afirmou estar "mostrando resiliência diante de um cenário internacional desafiador e do ciclo de baixa do mercado petroquímico". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Bolsa bate ouro e lidera entre melhores investimentos do ano
São Paulo - Ano em que o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, bateu recordes, 2019 termina com o mercado de ações liderando, ainda que tenha ficado perto do ouro, entre os rendimentos que tiveram maior retorno real, acima da inflação. Os dados foram compilados pela empresa de informações financeiras Economática.
Entre o último dia do ano passado e esta segunda-feira, 30, o Ibovespa deu retorno real (descontada a inflação) de 27,60%, ficando em vantagem em relação ao ouro, que teve retornos de 24,22%.
De acordo com o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, o ouro teve uma volatilidade bastante acentuada, mas muitos investidores acabam vendo o metal como alternativa, quando os mercados internacionais oscilam muito - como ocorreu ao longo de 2019.
Logo em seguida, aparecem a poupança, que teve retorno real de 2,96%, o CDI, com 2,72%, e o dólar (0,88%). Nesse mesmo período, o euro foi o único entre os principais investimentos que servem de referência para comparação com a Bolsa que teve queda real, de 1,35%.
Historicamente, o investidor brasileiro costuma dar preferência para a renda fixa. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que levam em conta os fundos de investimento no mercado de varejo, apontam que mais de 75% do volume financeiro está alocado em renda fixa, somando um montante de R$ 468 bilhões.
Em contrapartida, nos fundos de ações, a alocação fica em 5% do total, ou R$ 32,7 bilhões.
No entanto, com as quedas consecutivas da taxa básica de juros, a Selic, que atingiu o piso histórico de 4,5% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os investimentos em renda fixa acabaram perdendo rentabilidade.
Aplicações tradicionais, como caderneta de poupança, fundos atrelados à taxa DI, que acompanha de perto a taxa Selic, e os títulos do Tesouro Direto indexados pela Selic não devem conseguir proteger o investimento do brasileiro de perdas inflacionárias projetadas para o IPCA no ano que vem.
Década
Nos últimos dez anos, a Bolsa viveu períodos marcantes, acompanhando as reviravoltas do cenário político nacional, que acabaram afetando o seu desempenho. Ao longo da década, o ano de 2015 marcou um momento significativo, lembra Rivero, da Economática.
Se, entre 2009 e 2015, o Ibovespa teve uma queda real de retorno de 57,55%, do fim de 2015 até agora, o ganho real de retorno supera os 129%.
"O que definiu um momento de forte queda e de forte alta foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a posterior mudança de governo. Pela crise que se estendia, tudo o que se perdeu em seis anos está sendo recuperado agora", diz Rivero.
Se considerados os resultados de toda a década, o Ibovespa acaba perdendo para a inflação, tendo queda real de retorno de 3,27%.
No período, o ouro ganhou com folga entre os principais investimentos, com retorno de 87,52%, seguido por CDI (45,90%) e dólar (32,81%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Real se desvaloriza menos que outras moedas emergentes
Brasília - Apesar da pressão maior sobre o câmbio, verificada principalmente nos meses de agosto e novembro, a desvalorização do real em 2019 foi menor que a de várias moedas de países emergentes. Levantamento feito pelo Estadão/Broadcast com base em 44 moedas negociadas no mercado à vista mostra que o real foi apenas a nona moeda (entre as de emergentes) que mais perdeu valor ante o dólar americano.
Até o fechamento de sexta-feira, dia 27, o dólar à vista acumulou alta de 4,50% ante o real em 2019 no mercado internacional. No mesmo período, a moeda americana subiu 58,85% em relação ao peso argentino e 16,29% ante o peso uruguaio. Mesmo em relação a divisas conversíveis, como a coroa sueca, o dólar apresentou valorização superior ao visto em relação ao real.
O movimento de alta do dólar no exterior esteve ligado a fatores como o crescimento da economia americana, acima da média de outros países, e a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
No Brasil, o câmbio também foi influenciado ao longo de 2019 pelas idas e vindas da reforma da Previdência no Congresso e, no segundo semestre, por fatores técnicos. Com a Selic (a taxa básica de juros) nos menores níveis da história - atualmente, em 4,50% ao ano - tornou-se vantajoso para diversas multinacionais quitarem dívidas no exterior e se refinanciarem no Brasil.
Pagamentos
Com isso, a partir de agosto essas companhias intensificaram um movimento de busca por dólares, para o pagamento dos compromissos em outros países. A Petrobras liderou esse movimento, mas outras multinacionais também passaram a realizar o que o Banco Central chamou de "pré-pagamento" de dívidas.
Para fazer frente à maior demanda por dólar, o BC passou a realizar, no fim de agosto, leilões diários de moeda americana. Simultaneamente, a instituição promovia operações de swap cambial (reverso e tradicional), o que permitiu aos agentes interessados trocar posições compradas em dólar no mercado futuro pela moeda americana à vista - aquela que, de fato, era demandada pelas empresas.
Essa dinâmica reduziu a volatilidade no câmbio, mas para alguns analistas também evitou que a cotação do dólar recuasse de forma mais intensa ante o real - algo que ocorreria se os leilões fossem apenas de venda à vista de dólares, sem os swaps.
O fato é que, com as atuações no mercado, o BC evitou uma pressão. Tanto que, após ter subido 8,71% ante o real em agosto, pela cotação spot do mercado internacional, o dólar ficou praticamente estável em setembro (+0,27%) e recuou em outubro (-3,26%).
Em novembro, surgiu nova pressão para o câmbio, devido ao resultado do leilão de petróleo do pré-sal ter ficado abaixo do esperado pelo mercado. Em dezembro, o movimento arrefeceu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Agência Estado