quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Trump sobre China no Twitter motiva altas de 30 pts para soja em Chicago



Publicado em 01/11/2018 16:30 e atualizado em 01/11/2018 17:47





Tweet Donald Trump China
LOGO nalogo
"Tive uma longa e muito boa conversa com o presidente da China, Xi Jinping. Conversamos sobre muitos assuntos, com forte ênfase no comércio. Essas discussões estão indo muito bem com as reuniões sendo agendadas no G-20 na Argentina. Também tivemos uma boa discussão sobre a Coreia do Norte!"
O presidente americano Donald Trump voltou ao Twitter nesta quinta-feira, 1º de novembro, e soltou a faísca que o mercado da soja precisava para se aquecer novamente na Bolsa de Chicago. As cotações reagiram imediatamente à declaração de Trump, que foi combustível para altas de quase 30 pontos no fechamento deste pregão. 
Os preços da oleginosa vinham, há semanas, caminhando de lado e registrando algumas de suas mínimas em meses e, como explicaram analistas internacionais, "os investidores estão buscando razões para estarem positivos neste início de novemrbo após um outubro bastante tumultuado". 
A guerra comercial travada entre China e Estados Unidos tem provocado, afinal, danos severos que vão muito além da agricultura. Outubro foi o pior mês para as ações globais desde maio de 2012. 
O tweet de Trump chegou logo após informações da Secretaria Geral de Alfândega da China mostrarem que as importações chinesas de soja americana mostravam uma baixa de 80% em relação ao mesmo período do ano passado, ao passo em que o Brasil teria aumentado suas exportações para a nação asiática em 28% no mesmo intervalo. 
Tradicionalmente, os chineses compram a maior parte de sua soja no quarto trimestre do ano nos Estados Unidos, uma vez que com a colheita em andamento no país e a chegada da nova oferta, os preços acabam se tornando ainda mais atrativos aos importadores. Este ano, porém, a dinâmica mudou em função da guerra comercial que continua em curso. 
Os dados mostram ainda que as compras chinesas da oleaginosa brasileira, em setembro, totalizaram 7,59 milhões de toneladas, contra 5,49 milhões do mesmo mês em 2017. Dessa forma, o Brasil responde por 95% do total das importações de soja da China de 8,01 milhões de toneladas, contra 73% do mesmo período do ano passado. No mesmo período, em setembro deste ano, as importações de soja americana pela China totalizaram somente 132,248 mil toneladas, enquanto no ano passado eram 937 mil de setembro de 2017. 
Exportações Soja
Gráfico mostra o desempenho das importações da China nos últimos dois anos - Fonte: Bloomberg
Segundo números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), na semana encerrada em 25 de outubro, as vendas norte-americanas de soja somaram apenas 395,8 mil toneladas. O total é 34% menor do que a média das últimas quatro semanas, e o maior comprador foi Portugal. As expectativas variavam de 400 mil a 760 mil toneladas. 
 
Novos cancelamentos foram reportados, nesta semana de 519 mil toneladas para destinos não revelados e 62,8 mil toneladas da China. 
No acumulado da temporada, os EUA já têm comprometidas 21.450,7 milhões de toneladas, contra mais de 30,3 milhões do ano passado, nesse mesmo período. A estimativa do USDA para toda a temporada é de que o país exporte 56,07 milhões de toneladas. 
"O USDA irá ter que reduzir sua projeção para as exportações norte-americanas de soja nesta temporada diante desse começo fraco", diz Al Kluis, analista de mercado da Kluis Advisors. 
Diante desse quadro, um dos executivos da Bunge Ltd, Soren Schroder, em entrevista á Bloomberg lembra dos efeitos que essa mudança têm causado nos estoques norte-americanos. Essa falta de demanda pela soja dos EUA "tem construído um nível historicamente alto de estoques que serão carregados deste ano para o próximo", diz Schroder à agência internacional de notícias Bloomberg. 
Estoques soja
Aumento dos estoques de soja nos EUA - Fontes: Bloomberg + USDA
"No curto prazo, os deslocamentos causados pelas tarifas criam oportunidades de arbitragem que podem beneficiar os comerciantes e carregadores que estiverem  bem posicionados. Já no longo prazo, a guerra comercial é ruim para nossos negócios e é muito ruim para os agricultores dos EUA", diz Corey Jorgenson, presidente da unidade de grãos da The Andersons Inc. 
Frente a estas análises é que uma declaração como esta de Donald Trump repercute tão rapidamente entre os preços no mercado futuro norte-americano. Com as altas desta quinta-feira, o contrato novembro/18 fechou o dia com US$ 8,68 e o maio/19 com US$ 9,06.
De 1º a 31 de outubro, o vencimento novembro recuou 2,10%, com a posição terminando o mês com US$ 8,39, enquanto o maio/19 cedeu 0,68% e o contrato fechou com US$ 8,78. 
"Assim, o mercado fica mesmo mais animado com essa notícia. Mas ainda não está tudo certo, não há nada assinado e não voltamos a vender soja aos EUA. Amanhã, o mercado pode voltar a cair novamente, mas não às mínimas", explicou o analista de mercado da Price Futuros, Jack Scoville, direto de Chicago para o Notícias Agrícolas. 
Como explica o executivo, desde o início este impasse, "os preços já perderam cerca de US$ 2,00, sendo US$ 1,00 por conta da guerra comercial e US$ 1,00 em função da boa colheita nos Estados Unidos. Para mim, porém, hoje foi pura especulação". 
O próximo encontro de Donald Trump e o presidente Xi Jinping será na Argentina no encontro do G20 e o líder asiático diz estar bastante confiante nas próximas rodadas de conversa e negociações, esperançoso na formação de uma relação estável e saudável entre as duas economias.
"Ambos temos bons desejos sobre o desenvolvimento saudável e estável das relações entre China e Estados Unidos e da expansão da economia e do comércio entre os dois países. Temos que trabalhar duro para que estas visões se tornem realidade", disse Xi em entrevista à uma rede chinesa de TV. 
Como explicou o analista de mercado Matheus Pereira, da ARC Mercosul, tudo ainda é muito especulativo, de ambos os lados, e principalmente da parte de Trump, que está prestes a viver a eleição de meio mandato nos EUA nos próximos meses. 
"Ele quer atrair de volta o eleitor que o colocou no poder para votar em representantes republicanos para assumir no Congresso em 2019 e, essas próximas semanas ele vai querer 'acariciar' o potencial eleitor republicano, mais poder político para 2019", explica. "Não temos nada concreto agora, temos que estar atentos do lado chinês (...) O mercado vai entender como concreto e sólido agora qualquer informação que venha do pragmático e objetivo mercado chinês", completa.   
A seguir, veja a íntegra da entrevista de Matheus Pereira ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira:
Mercado Brasileiro
Para o produtor brasileiro, os impactos da disparada dos preços da soja na Bolsa de Chicago foram limitados nesta quinta-feira. No interior, os ganhos foram pontuais, como no Oeste da Bahia, onde o preço subiu 6,56% para R$ 65,00 por saca. Algumas leves altas foram registrada também em praças do Paraná. 
Nos portos, o dia foi de estabilidade também em Paranaguá. A soja disponível manteve os R$ 86,00 por saca, enquanto a safra nova ficou nos R$ 76,00. Já em Rio Grande, as cotações subiram. O spot foi a R$ 89,60 por saca, subindo 1,82%, e a referência para o mês seguinte subiu 2,26% para R$ 90,50. 
"A mensagem geral é a de que novas oportunidades estão sendo criadas agora. Temos um momento especulativo na CBOT agora, mas ainda sem dados concretos para afirmar que esses novos patamares serão mantidos. Então, aproveite. Temos um dólar em retração já precificando que em 2019 Bolsonaro terá um governo saudável, e se temos a confirmação dessa agenda no primeiro semestre do ano que vem com o presidente conseguindo aprovar medidas reformistas para o Brasil, temos um dólar, potencialmente, caminhando para os R$ 3,40 / R$ 3,20", orienta o analista da ARC.
O importante, portanto, é o produtor brasileiro estar atento às oportuniddes e ir travando parte de sua nova safra, aproveitando, mesmo que parcialmente, as janelas de comercialização que forem se abrindo com essas situações especulativas. 
Nesta quinta, o dólar voltou a recuar e mais uma vez perdeu os R$ 3,70. A moeda americana caiu 0,79%¨e fechou o dia com R$ 3,6943. Na semana, porém, a divisa subiu 1,095, encerrando nesta sessão seus negócios, já que se comemora nesta sexta-feira (2) o feriado nacional do Dia de Finados no Brasil. 
"Equipe econômica e projetos do governo Bolsonaro continuam sendo o foco do mercado nesse período de transição", destacou a Elite Corretora em relatório.
Leia mais:
Tags:
 
Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

Nenhum comentário:

Postar um comentário