quarta-feira, 30 de maio de 2018

Folha revela que recuo do Agro sobre caminhoneiros foi decidido no "bate-boca"



Publicado em 30/05/2018 17:00 e atualizado em 30/05/2018 22:20


Recuo foi decidido em Brasilia na sede do IPA depois da evidencia de que o movimento havia sido tomado por grupos radicais de extrema direita (por Raquel Landim , Daniel Carvalho e MAURO ZAFALON, da Folha de S. Paulo)




Nas regiões de maior produção agrícola, a greve dos caminhoneiros vinha tendo apoio expressivo do setor rural, até que a percepção da entrada de movimentos politicos radicais na paralisação obrigou as lideranças do Agro a um recuo extremo, com divulgação de comunicados urgentes na tentativa de se dissociar do movimento de paralisação das estradas. Segundo a Folha de S. Paulo, a posição das lideranças do agronegócio foi tomada após uma reunião tensa em Brasília nesta terça.
Segundo relatos de pessoas presentes, houve bate-boca a portas fechadas entre os representantes de 18 entidades, incluindo os setores de de grãos, aves e suínos, frigoríficos, caminhoneiros autônomos e transportadoras.
Com os animais morrendo de inanição nas granjas por falta de ração, frigoríficos exortavam os produtores de grãos a "parar de levar comida para a beira da estrada" aos manifestantes.
Os produtores de grãos, por sua vez, respondiam que os manifestantes tinham razão de reclamar da escalada do preço do óleo diesel, enquanto os caminhoneiros diziam que conhecem a realidade do campo porque vêm de famílias de produtores rurais.
No fim da reunião, acabou prevalecendo um posicionamento contrário à paralisação, por receio de que o movimento seja usado politicamente por grupos favoráveis a uma intervenção militar.
Entidades e parlamentares saíram do encontro declarando publicamente que haviam "terroristas infiltrados nas mobilizações" e pedindo ao governo que efetue prisões.
"O que no começo era uma greve legítima se transformou num instrumento de caos social", disse à Folha o deputado Marcos Pontes (PSD-MG)
Também pesou no recuo do setor agrícola o fato de os caminhoneiros terem conseguido do governo uma tabela de frete mínimo, o que prejudica os produtores.
"Não concordamos com isso. O tabelamento dos fretes é repassar os custos de um setor para outro", disse Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT.
Nos primeiros dias da paralisação, Galvan chegou a gravar um vídeo de apoio aos grevistas, conclamando os produtores a levar tratores para bloquear estradas.
Alexandre Schenkel, presidente da Ampa (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão), outra entidade que apoiou a manifestação, disse agora que o protesto chegou a um estágio político de baderna.
"Já há uma insegurança e risco para todo o agronegócio, principalmente para os irmãos da produção de proteínas", afirmou.
Após nove dias de paralisação, a conta chegou para diversos setores: milhões de aves ainda podem morrer de inanição; 400 mil toneladas de soja deixaram de ser escoadas; 360 milhões de litros de leite foram jogados fora e as usinas de açúcar e álcool estão todas paradas.
Segundo a CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária), a perda estimada de produção agrícola já ultrapassa R$ 6,6 bilhões.
Os produtores vinham apoiando os caminhoneiros por causa do aumento do diesel e da insatisfação com o governo Michel Temer.
Os agricultores estão especialmente insatisfeitos com o embate sobre o Funrural.
O imposto havia sido declarado inconstitucional pela Justiça, mas a União recorreu e venceu, deixando uma pesada dívida para o setor.
Também colaborou o fato de que muitos produtores aproveitaram os juros baratos do Finame/BNDES durante o governo Dilma Rousseff para comprar caminhões e abrir pequenas transportadoras.
Em razão disso, o aumento do preço do diesel passou a impactá-los não só dentro da propriedade, mas também no novo negócio. Muitos nem acabaram de pagar o financiamento dos veículos.
A percepção das pessoas presentes ao encontro em Brasília é que os caminhoneiros não confiam na medida provisória assinada por Temer e querem esperar a publicação da tabela de frete mínimo, o que deve ocorrer nos próximos dias, para ter a certeza de que os valores ficarão acima dos atuais.
Caso isso não aconteça, prometem voltar aos acostamentos. Para tanto, basta acionarem novamente seus grupos de whatswapp. (NA).

‘Único caminho de acesso ao poder é pelo voto’, diz ministro da Defesa (ESTADÃO)

General Joaquim Silva e Luna afirma que pedidos de intervenção incomodam os militares, por parecer que há conivência deles
BRASÍLIA - Incomodado com as manifestações de pedido de intervenção militar, principalmente na greve dos caminhoneiros, que parou o País nos últimos nove dias, o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, rechaçou essa possibilidade, em entrevista ao EstadoO ministro lembrou que as Forças Armadas só agem dentro da legalidade e declarou que o “único caminho” para os militares chegarem ao poder “é pelo voto”. Primeiro militar a assumir o Ministério da Defesa, o general Silva e Luna disse ainda que as Forças Armadas estão 100% empenhadas no estabelecimento do abastecimento do País. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Estamos vendo seguidos apelos de grupos pedindo intervenção militar. Existe essa possibilidade diante dos problemas que estamos enfrentando?
As Forças Armadas trabalham 100% apoiadas na legalidade, com base na Constituição e sob a autoridade do presidente da República. E esse dispositivo, intervenção militar, não existe na Constituição.
Incomoda a vocês, militares, esses pedidos de intervenção?
Incomoda sim, porque pode dar a impressão de que as Forças Armadas estão por trás de uma insuflação, o que não é verdade. Além disso, intervenção militar é inconstitucional. O caminho do acesso ao poder é pelo voto. É o único caminho.
A que o sr. atribui esses pedidos de intervenção?
Com relação a manifestações políticas, não nos cabe comentar intenções partidárias de segmentos da população, que tem direito de se manifestar.
As paralisações que se mantêm são por interferência política ou ainda por reivindicações não atendidas?
O movimento reivindicatório se esgotou depois do acordo que o presidente da República fez com os representantes dos caminhoneiros, concedendo tudo que foi pedido. Daí para a frente, as resistências têm pouco a ver com essas reivindicações. Passa a impressão de que há mais fundo político-partidário.
A convocação das Forças Armadas para esse tipo de ação de desobstrução de pistas e fim de greve é um problema para vocês?
O emprego das Forças Armadas em Garantia da Lei e da Ordem é 100% legal. Está na Constituição. Nós estamos agindo em todo o País, evitando um dano muito maior.
Há previsão de quando a normalidade volta ao País?
Terminar uma consequência. Insisto que não se pode fazer promessas. Temos de entregar resultados. E resultados, estamos entregando.
Que resultados o sr. destacaria?
Abastecimento de combustível de aviação em todo o País. Normalidade de transporte nas principais capitais. O volume de carga transportada, por exemplo, dobrou de segunda para terça em todo o País. Foram liberados 300 caminhões de hortifrutigranjeiros no Rio. Tivemos 270 carretas de combustíveis transportadas.
As Forças Armadas podem atuar para tirar os caminhões e manifestantes que estão impedindo a passagem de outros trabalhadores nas estradas?
As Forças Armadas podem tirar sim. Mas o que é que se faz primeiro? Esgota-se os meios policiais presentes (policiais militares ou Polícia Rodoviária Federal).
O governo está falando em grupos infiltrados impedindo o fim da greve e agitando manifestações? O sr. sabe quem são?
Não temos identificação. Mas está caracterizado que existe.
Greve dos caminhoneirosO ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, diz que Forças Armadas estão 100% empenhadas no restabelecimento do abastecimento no País Foto: Andre Dusek/Estadão

‘Ter um Estado maior é pagar mais impostos' (PEDRO MALAN)

Ex-ministro Pedro Malan diz que há lições a serem aprendidas com a greve dos caminhoneiros
A população brasileira precisa decidir se prefere pagar menos impostos ou se quer um Estado que resolva todos os seus problemas. Com essa provocação, o economista Pedro Malan, abriu o segundo painel do Fórum Estadão A Reconstrução do Brasil, um País mais amigável aos negócios, que aconteceu ontem na capital paulista.
Parte da equipe que criou o Plano Real, durante o governo Itamar Franco, Malan foi ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso e também trabalhou na reestruturação da dívida externa brasileira.
Fórum EstadãoPara Malan, é preciso cobrar que as discussões sobre responsabilidade fiscal estejam na pauta dos candidatos à Presidência Foto: Amanda Perobelli/Estadão
No evento de ontem, ele disse que não se pode subestimar a capacidade da população brasileira de reivindicar, ao mesmo tempo, impostos reduzidos e um governo grande. “Esse é o paradoxo, uma mistura tóxica, não resolvida, de uma população que não quer mais impostos, mas quer que o governo continue muito ativo na resolução de problemas.”
A lição que pode ser extraída do debate que tem ocorrido em torno da paralisação dos caminhoneiros, segundo Malan, é que a população está desalentada, mas continua exigindo que o governo resolva os seus problemas. Não se percebe, no entanto, que o Estado não produz recursos, que vem da tributação da geração atual, endividamento, inflação ou uso indevido de fundos de pensão.
O ex-ministro lembrou que, durante a transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participaram desse momento o atual presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn; o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia; e o presidente da Petrobrás, Pedro Parente. “Com essa equipe continuando, poderá ter papel importante na transição para o próximo governo”, afirmou.
Antes de pensar na transição para o próximo governo, no entanto, Malan defendeu que é preciso cobrar que o tema da responsabilidade fiscal esteja presente nos discursos dos candidatos. Para ele, os políticos precisam encontrar uma forma de passar essa mensagem para outros eleitores, que não sejam “convertidos” às suas ideias e deixar claro quem eles são, com quem trabalham, “para não ter estelionato eleitoral.”
Caminhoneiros. O ex-ministro também defendeu a permanência de Pedro Parente na presidência da Petrobrás, após o desgaste dos últimos dias, com a greve dos caminhoneiros. “Nós trabalhamos juntos no governo e acho que ele faz um ótimo trabalho na Petrobrás, dado o momento delicado e tudo o que fizeram com a empresa.”
No entanto, Malan lamentou que as ações da estatal e seu valor de mercado tenham caído nos últimos dias. “Sofremos um duplo golpe, com o preço do barril do petróleo chegando muito rapidamente a US$ 80 e com a alta dos juros nos Estados Unidos, que deixa mais atrativo investir a longo prazo nos títulos americanos, levando a uma desvalorização das moedas dos emergentes”, disse.
“Com o preço elevado, em um País que importa uma grande quantidade de diesel, há uma angústia com a correção automática de preços”, acrescentou o ex-ministro, que avalia que a expectativa agora é que, com os preços no mercado internacional não subindo mais tão rapidamente e o dólar com um comportamento mais estável, a Petrobrás consiga fazer o ajuste do preço do diesel somente a cada 30 dias, com a compensação a cada fim de mês.

Maré pessimista, por FÁBIO ALVES

Muitos analistas nem precisaram esperar pela divulgação hoje do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre para revisar para baixo suas projeções para o desempenho da economia brasileira em 2018. Já existem até estimativas de um crescimento abaixo de 2%.
Essa perda de fôlego da atividade econômica, além de conter o repasse aos preços da recente disparada na cotação do dólar, pode resultar numa nova onda desinflacionária mais adiante em 2019.
Na mais recente pesquisa Focus, do Banco Central, a expectativa de inflação em 2018 subiu para 3,60%. Há quatro semanas, estava em 3,49%. Mas a projeção do IPCA para 2019 permaneceu em 4,0%, em comparação com 4,03% há quatro semanas.
Ou seja, os analistas reagiram à alta do dólar nas suas projeções do IPCA neste ano, via previsão de maior elevação nos preços administrados, mas não veem, por enquanto, essa pressão contaminando a inflação em 2019.
Talvez porque a fraqueza da recuperação econômica torne mais lento o fechamento do hiato do produto, isto é, que a economia siga crescendo a um ritmo abaixo do seu potencial por mais tempo, o que ameniza pressões futuras da demanda sobre os preços.
Na pesquisa Focus, a estimativa do crescimento do PIB neste ano caiu para 2,37% ante 2,75% há quatro semanas. E a maré pessimista com o desempenho do PIB neste ano deverá ganhar força quando se contabilizar detalhadamente o impacto da greve dos caminhoneiros que praticamente paralisou o País nos últimos dias.
A greve causa um choque de oferta imediato, reduzindo a capacidade de produção no País, ao atingir várias cadeias produtivas, o que, no curto prazo, gera uma alta nos preços de muitos itens, como os agrícolas.
Mas, além de ter um impacto negativo direto na atividade econômica, a paralisação dos caminhoneiros pode afetar os índices de confiança de empresários e consumidores, que colocarão em dúvida a capacidade do governo Temer de evitar que novas categorias profissionais promovam protestos com impacto semelhante ao da greve dos caminhoneiros – na economia e nas contas públicas. E a queda nos índices de confiança pode resultar em menores níveis de investimento e consumo.
A greve dos caminhoneiros é posterior à última reunião do Copom, quando o BC manteve a taxa Selic inalterada em 6,50%, surpreendendo o mercado, que esperava um corte dos juros. A decisão refletiu a piora no cenário externo que acabou levando a uma alta acelerada do dólar.
Se, no curto prazo, a disparada da moeda americana em relação ao real impediu um novo corte de juros pelo BC e levou muitos analistas a elevar suas projeções de inflação em 2018, no médio prazo os efeitos negativos sobre a economia da greve dos caminhoneiros podem não somente compensar a alta do dólar, como também resultar numa pressão desinflacionária.
Há analistas que lembram que a situação vivida atualmente no Brasil é semelhante a de 2008, quando a crise financeira global fez o dólar disparar 31% em relação ao real, mas a inflação ficou em 5,90%, abaixo do teto da meta de inflação para aquele ano, de 6,50%.
No último trimestre de 2008, no auge da crise financeira mundial, o PIB brasileiro caiu 3,6% em relação ao terceiro trimestre, refletindo, entre outros fatores, em queda brutal nos índices de confiança. Resultado: para reavivar a economia, o BC cortou a Selic em 1 ponto porcentual, em janeiro de 2009, apesar da alta do dólar até então.
Mesmo porque, como o Brasil deixou de ter uma elevada dívida em dólar, registrada até no início dos anos 2000, a alta da moeda americana passou a contaminar menos as expectativas inflacionárias de longo prazo refletindo um temor sobre um eventual impacto fiscal (se o governo decidisse monetizar essa dívida para viabilizar seu pagamento) da desvalorização do câmbio.
Como o Copom abordará agora o impacto da greve dos caminhoneiros? Se as projeções do PIB convergirem para um crescimento de 2,0% ou até abaixo disso, a Selic ficará em 6,50% por mais tempo do que o esperado mesmo se o dólar seguir subindo? A resposta talvez só após o desfecho das eleições, quando o próximo presidente da República disser o que pretende fazer em termos de reformas econômicas em 2019. (COLUNISTA DO BROADCAST/ESTADÃO).
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Fonte: Folha de S. Paulo/Estadão

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