Publicado em 30/10/2018 07:46
A eleição de Jair Bolsonaro como novo presidente do Brasil nesse domingo é uma mistura de protesto legítimo contra o petismo, clamor por mais firmeza no combate à criminalidade e desejo consciente de uma guinada à direita, num País dominado pela esquerda. Mas o que vem depois?
Bolsonaro terá um enorme desafio pela frente. Para começo de conversa na área econômica. O País está quebrado após décadas de esquerdismo, em especial do populismo do PT. Os gastos públicos cresceram sem parar, e reformas estruturais são inadiáveis. Resta saber se o plano de governo desenhado por Paulo Guedes e sua equipe será mesmo adotado.
Os investidores estão contando com isso. Sem essas reformas, uma crise grave será questão de tempo. Se Bolsonaro realmente seguir a orientação do seu “guru” e o Congresso se mostrar à altura do desafio, então o Brasil terá uma luz no fim do túnel, e não será um trem vindo em sua direção, como aconteceu com Lula e Dilma. Mas ninguém acredita que será fácil implementar tais reformas, privatizar as estatais, estancar a sangria do setor público.
Na área externa, o governo precisa abandonar o velho protecionismo, deixar de lado o Mercosul ideológico, e partir para acordos comerciais com uma postura mais liberal. É a intenção anunciada pelo então candidato, mas será preciso ver o que sairá de concreto aqui também. O País não aguenta mais esse mercantilismo ultrapassado que protege grandes grupos à custa da população.
Além da economia, Bolsonaro terá de mudar a postura no combate ao crime, uma de suas principais bandeiras. Não basta armar os cidadãos de bem ou conceder uma licença para matar aos policiais. O buraco é bem mais embaixo. Mas certamente uma drástica mudança de mentalidade se faz necessária, em que o bandido deixa de ser uma “vítima da sociedade”. Bolsonaro precisa seguir os passos de Giuliani em Nova York e adotar a política de “tolerância zero”, inclusive para pequenos delitos. Não é “bandido bom é bandido morto”, como pedem alguns em desespero, mas sim enfrentar com determinação a marginalidade.
Por fim, há a crucial questão da limpeza da máquina estatal, totalmente aparelhada pelos vermelhos. Declarar guerra a esse establishment, ao “deep state”, e livrar o setor público dos apaniguados petistas é simplesmente imperativo para um bom governo. Haverá muitos obstáculos no caminho, e espera-se que Bolsonaro tenha a coragem de comprar essa briga.
Como se vê — e isso é apenas o começo — o que vem após a vitória é o que realmente importa. O futuro está em aberto. O fato é que Bolsonaro terá a oportunidade de realmente fazer a diferença, mirar no liberalismo econômico e no conservadorismo dos costumes. Se assim fizer, poderá se tornar um estadista.
(por RODRIGO CONSTANTINO, Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ).
Bolsonaro promete ‘Nação grande, livre e próspera’. Mas como? (por ELIANE CANTANHÊDE)
O grande desafio a partir de agora é decifrar quem é, o que pretende e o que vai conseguir efetivamente fazer o novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que quebra todos os paradigmas e foi eleito num dos maiores movimentos de renovação já vistos no País. Há uma esperança enorme, mas também muitos temores.
Após a vitória, Bolsonaro fez um apelo à pacificação de um País que sai profundamente dividido da eleição e se comprometeu com “a Constituição, a democracia e a liberdade”. Isso é importante não só para a Nação, mas para o próprio Bolsonaro, que chocava ao defender a ditadura e a tortura, mas deixa para trás a persona candidato e assume a de presidente eleito, contemporizador e pragmático como deve ser.
Mais do que as palavras, destacam-se no primeiro pronunciamento os símbolos. Ele desdenhou a TV e optou pelas redes sociais, tão fundamentais para a construção de sua candidatura e a vitória. E mais: a simplicidade dele e de sua mulher, a Bíblia e a Constituição sobre a mesa, o broche de deputado federal na lapela do paletó, sem gravata.
Além de símbolos, porém, Bolsonaro precisa finalmente mostrar a que veio, detalhar um programa econômico sólido, definir prioridades e metas. Nada disso ficou claro durante a campanha, mas acabou o tempo. Não há alternativa: é mostrar ou mostrar qual será o governo, e com quem.
Para começar, tem de deixar claro qual a autonomia do economista Paulo Guedes, a dimensão e a forma do ajuste fiscal e do enxugamento do Estado. E, afinal, onde se encaixa a fundamental preocupação social?
Bolsonaro não ganhou de goleada, mas saiu das urnas com enorme legitimidade e corre um risco: qualquer erro será amplificado proporcionalmente ao tamanho da expectativa gerada. Foram muitas as promessas, serão igualmente muitas as cobranças. E, além de encarnar o “novo”, os valores da família, da ordem e do progresso, muito pouco, praticamente nada, se sabe do capitão que chegou à Presidência da República.
Todos os candidatos, todos os cidadãos querem e sonham transformar o Brasil “numa grande, livre e próspera Nação”, como ele anunciou ontem. O problema não é querer, é saber como e em quanto tempo fazer.
Empresários esperam confirmação de agenda liberal no governo de Bolsonaro (no ESTADÃO)
Empresários e executivos de grandes empresas aguardam a formação da equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para ter maior clareza das políticas que serão adotadas a partir de 2019. A agenda liberal defendida pelo economista Paulo Guedes, alçado a superministro de Bolsonaro, é defendida para a retomada do crescimento do País.
“O Brasil tem um enorme potencial de crescimento, mas a equipe (econômica) tem de transmitir segurança. Tem muita coisa a se fazer no País. Podemos atrair investimento sim, mas é preciso fazer a lição de casa, com um marco regulatório adequado e um ambiente de negócios mais amigável”, disse Pedro Passos, acionista da Natura.
A aprovação das reformas é vista como prioridade para colocar o País na rota do crescimento, embora haja o desafio do candidato eleito em convencer o Congresso a votar a favor de medidas impopulares. “O presidente recém-eleito e o novo Congresso não poderão se dar ao luxo de esperar”, disse João Miranda, presidente do grupo Votorantim. A expectativa é de que a aprovação das reformas ganhe ritmo no início de 2019. Além de enfrentar a questão fiscal, que passa pela reforma da Previdência, a redução da dívida pública precisa ser prioridade para o novo presidente.
Para Walter Schalka, presidente da Suzano, o ideal seria se o novo governo adotasse parte da reforma previdenciária de Michel Temer. “A reforma de Temer não era a melhor do mundo, mas se nós conseguíssemos aprová-la até o fim do ano, o governo já entraria com um assunto tão sensível na economia endereçado. Tenho receio de que eles queiram fazer a reforma perfeita, mas tenham muita dificuldade de aprovação”, disse.
Para Schalka, esse é o momento de uma união nacional em torno das reformas econômicas. “Acho que esse é o momento de passar o Brasil a limpo. É uma oportunidade única de se fazer isso. E tem de acabar com a questão política do nós contra eles. A eleição terminou e não vamos fazer o terceiro turno”, disse o executivo.
O presidente da Lojas Renner, José Galló, lembrou que o discurso da vitória de Jair Bolsonaro abordou diretamente questões de política econômica que já vinham sendo discutidas durante a campanha, como o combate à ineficiência e a redução do tamanho da máquina pública. Para o executivo, o resultado das urnas é um sinal de que a população “comprou” o discurso de austeridade propagado pelo candidato. “A proposta vencedora é pró-mercado, mostra um desejo por racionalidade. A sociedade começa a se dar conta de que o Brasil não suporta um Estado do tamanho que está hoje. É uma onda de conscientização”, disse Galló.
Todos, no entanto, apontam que o investimento no País só virá de forma significativa no País quando a fase do discurso for superada e as reformas finalmente forem concretizadas.
Pedro Passos, acionista da Natura
“A primeira coisa que Jair Bolsonaro tem de fazer é clarear seu plano de ação. Durante a campanha, pouca coisa ficou clara do ponto de vista de programa de governo. Ele vai ter de enfrentar uma contradição interna. Uma parte do apoio dele vem do lado da economia liberal de Paulo Guedes. Do outro, tem grupo de apoiadores de formação nacionalista, digamos assim, que representa o raciocínio das forças armadas que podem representar um obstáculo para (colocar em prática) o plano de ação. Se ele fizer as coisas certas, apesar de uma agenda difícil pela frente, aproveitará a retomada de crescimento e engatará uma fase melhor. Um dos primeiros desafios será definir a estratégia para enfrentar o problema fiscal, que passa pelo conjunto de reforma, sobretudo a da Previdência. A segunda é combater a enorme divida pública. As privatizações podem ajudar.”
João Miranda, presidente do grupo Votorantim
“Temos um novo presidente, eleito pela maioria, que defende preceitos liberais para a economia e conservadorismo nos costumes. O resultado das urnas para o Congresso também foi revelador, com índice alto de renovação. Esta eleição mostra uma preocupação clara com a segurança pública, assim como o combate à corrupção. O presidente e o novo Congresso não poderão se dar ao luxo de esperar. Além da busca do equilíbrio fiscal, espero encontrar respaldo em propostas que permitam que o País e seus segmentos econômicos se tornem mais competitivos. Estamos aguardando a formação da equipe econômica. Espero que não haja por parte dos apoiadores e mesmo dos líderes que já estão próximos a ele pruridos de autor e que o governo aceite contribuições das mais variadas pessoas que já tenham sucesso na administração pública.”
Walter Schalka, presidente da Suzano
"Ainda não sabemos se as reformas necessárias virão. Está cedo para cobrar, mas é bom lembrar que discurso não faz reforma. As primeiras declarações foram positivas, mas superficiais. Precisamos ver se, na hora da onça beber água, de tirar supostos direitos de muita gente, o governo terá a força necessária no Congresso e o apoio da população. No que se refere à Previdência, acharia importante usar a reforma previdenciária do governo Michel Temer. Ela não é perfeita, mas prefiro uma reforma que resolva 90% dos problemas e que tenha boas chances de ser aprovada do que uma mais abrangente de difícil implementação política. E, por fim, precisamos evitar que parte do empresariado ou as pessoas mais próximas ao novo governo tentem obter vantagens para si. Sou contra qualquer tipo de subsídio (para setores específicos da economia)."
José Galló, presidente da Renner
“Os planos apresentados nos levam na direção certa. Isso dá um alento de curto prazo. Acho que precisamos acompanhar a equipe que vai ser formada para a materialização dessas propostas. Por fim, precisamos ver as reformas acontecerem. É a partir dessa terceira fase que vai haver um estímulo para investimentos. Nos últimos meses, o que a gente mais escutou foram as empresas falando que iam ‘esperar para ver’ antes de investir. De qualquer forma, a proposta do vencedor é pró-mercado, mostra um desejo por racionalidade e redução do tamanho do Estado. Tenho certeza de que, com uma administração mais racional, haveria um aproveitamento de recursos de 15% a 20% superior no setor público. Há cargos desnecessários, desperdício. A sociedade começa a se dar conta de que o Brasil não suporta um Estado do tamanho atual. É uma onda de conscientização."
Fonte: Blog Rodrigo Constantino
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