segunda-feira, 1 de junho de 2015
Planejamento da sojicultura se dá com insumo em alta e cotação em baixa
01/06/15 - 00:00
Planejamento do novo ciclo vai sendo alicerçado em um cenário de alta de custo e de baixa renda
Planejamento da sojicultura se dá com insumo em alta e cotação em baixa
MARIANNA PERES
O cenário para a safra 2015/16 já preocupa os produtores rurais. Em linhas gerais, os mato-grossenses já sabem que o plantio de soja, por exemplo, a principal commodity agrícola ofertada pelo Estado, terá custos de produção recordes e que dependendo do ritmo da taxa de câmbio, do momento da compra dos insumos e das formas de negociações, pode romper a casa dos R$ 3 mil por hectare (ha) e atingir níveis históricos.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) chama à atenção para o contexto que envolve o planejamento do novo ciclo que se dá com o dólar em alta, exigindo mais gastos com os insumos para a próxima safra, com defensivos e fertilizantes, pois grande parte destes produtos é importada. Fora isso, o temor pelo desequilíbrio entre custos e receita aumenta porque a previsão é de queda da rentabilidade para as principais commodities negociadas em Bolsa, “o que deve gerar margens mais apertadas de lucro e crescimento em menor ritmo do setor agropecuário”, destaca a direção da CNA.
O cenário para o novo ciclo foi tratado em reunião do Grupo de Trabalho (GT) Econômico da CNA, na última semana. O GT busca propostas para sanar os gargalos da produção e apresentá-las ao governo federal. As entidades participantes – de vários estados do país - aproveitaram as discussões para encaminhar suas demandas e relatar os principais problemas vividos nos estados pelos produtores.
A preocupação do setor com a situação econômica do país foi confirmada em palestra do economista Luiz Suzigan, da LCA Consultores. “No ano passado, os insumos foram adquiridos com o dólar em um patamar inferior aos preços de comercialização. Isso deu um fôlego ao produtor. Neste ano, o que observamos é uma tendência de inversão de cenário”, alertou o coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon, que coordenou a reunião.
ANÁLISE - Como explica o Gestor Técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), ao se analisar a evolução do custo de produção da soja, em Mato Grosso, nos últimos quatro anos, é possível destacar que entre os vários fatores que contribuíram para a majoração dos desembolsos. “É possível eleger quatro, os quais são os principais responsáveis pelo aumento dos custos de produção das últimas safras. O primeiro é a pressão de demanda que houve com aumento da área da oleaginosa, puxado pelo bom cenário de mercado, nos últimos anos e o segundo é o câmbio, mais recentemente. Além desses, vale destacar também que tanto a tecnologia inserida nos produtos, em especial nas sementes, quanto o uso mais intensivo dos defensivos para combater as pragas contribuíram de maneira decisiva para a evolução do custeio”.
Até abril, o Imea estimava um custo de produção total de cerca de R$ 2,70 mil/ha, considerando um dólar médio de R$ 2,76. Mas, até meados de maio o dólar tinha média de R$ 3,03 e certamente, exigiu revisão dos números e das projeções para os produtores que adquiriram insumos ou travaram negócios no período.
Na série do Imea das últimas quatro safras, da 2012/13 até a previsão para a 2015/16, o dólar médio do ciclo foi evoluindo de R$ 1,89 para R$ 2,11, R$ 2,28 e R$ 2,76 (previsão) e o custo de produção, de R$ 1,96 mil, para R$ 2,29 mil, R$ 2,46 mil e R$ 2,70 mil (previsão), respectivamente. Em quatro anos, o dólar aumentou 46%, o custo de produção, 37,75% e a área plantada (até a safra 2014/15, 13%.
ESTRATÉGIAS - “Boa produtividade para a próxima temporada será primordial, pois os preços estão amenizando atualmente a elevação do custo por causa do dólar, variável volátil demais para servir de esteio a menos que se faça a sua fixação. Além disso, as cotações internacionais podem sofrer nova pressão pela expectativa de boa safra nos Estados Unidos”, ou seja, por mais que o dólar possa estacionar, mesmo que em patamar acima do que era há um ano, há uma pressão de oferta vinda dos norte-americanos que tende a empurrar as cotações para baixo, movimento que seguirá tornando a relação de troca mais pesada ao produtor.
A relação de troca é o termo utilizado para quantificar as sacas que o produtor precisa disponibilizar a uma revenda/fornecedor, para ter acesso aos insumos que garantam o plantio da lavoura. Nesse caso, onde a soja é moeda do produtor para aquisição dos insumos, se o plantio do ciclo 2015/16 começasse hoje, no Estado, o produtor precisaria de quase 35 sacas para fazer um hectare de soja e para haver vantagem no ‘negócio’, necessita de uma produtividade muito boa, bem acima de 50 sacas, para fazer frente a outros investimentos no decorrer do desenvolvimento da safra, bem como, extrair sua remuneração.
Diário de Cuiabá
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