Acompanhamento da Safra de Soja 2015/16 e Liquidez do Produtor Rural
30/03/16 - 10:36
O Índice de Liquidez do Produtor Rural tem como objetivo conferir uma visão além da Rentabilidade Operacional, pois considera em seu cálculo as parcelas das dívidas de compra de máquinas e outros movimentos de caixa do produtor rural. Se o Índice de Liquidez for superior a 1,00, significa que sobrou caixa ao fim da safra para o produtor; se for inferior a esse valor, indica caixa negativo.
Em Londrina/PR, tanto a Margem de Lucro quanto o índice de Liquidez estão em níveis excelentes. Apesar do excesso de chuvas, a produtividade média está na faixa de 54 scs/ha na região Norte e 57 scs/ha no Oeste do estado. Em Rio Verde/GO a safra de soja está chegando ao fim e a produtividade média é de 55 scs/ha. Apesar da boa rentabilidade na safra 2015/16, alguns produtores trouxeram pendências das safras passadas, resultado de duas quebras seguidas de 15% na produtividade.
No Noroeste do Rio Grande do Sul, cerca de 15% da área foi colhida e as lavouras apresentam bom aspecto. A expectativa é de uma produtividade entre 48 e 50 scs/ha, que é considerada excelente para a região. No Sul do Mato Grosso do Sul, a qualidade dos grãos foi prejudicada pelo excesso de chuvas na colheita, implicando em descontos no preço de venda do produtor. A estimativa de produtividade média é de 50 scs/ha na região de Dourados.
No Piauí, a falta de chuvas fez com que grande parte das lavouras fosse plantada apenas em janeiro, portanto, poucas áreas foram colhidas até o momento. A estiagem de 30 dias em fevereiro e as precipitações abaixo da média em março já sinalizam uma quebra entre 20 e 30% na produtividade. Caso a falta de chuvas persista até abril, a quebra pode ser ainda mais severa. Considerando que a quebra é recorrente na região, pode-se considerar a possibilidade de dificuldades de recebimento das contas. Esse cenário se assemelha também aos vizinhos Maranhão e Tocantins.
Em Sorriso/MT, a quebra de safra foi muito mais amena do que se esperava e a produtividade média no município é de 49 scs/ha. Mesmo com rentabilidade estimada em 9,4%, o Índice de Liquidez ficará abaixo de 1,00, devido às parcelas de dívidas com compra de máquinas e equipamentos que o produtor tem a pagar no ano. Para os produtores com maior percentual de arrendamento, a conta simplesmente não fecha. Muitos credores, sobretudo bancos estrangeiros, já estão indo à Justiça executar garantias, de acordo com a matéria “Renegociações de dívida ganham força no campo” veiculada no jornal Valor Econômico.
Na Bahia temos novamente um ano de quebra de safra. Cerca de 20% da área de soja já foi colhida e os números não são bons. A soja plantada entre final de outubro e metade de novembro sofreu com uma estiagem de 30 dias em fevereiro, que coincidiu com os estágios de floração e enchimento de grãos da planta, justamente onde há uma maior necessidade hídrica. As precipitações em março estão bem abaixo da média, impedindo a recuperação da soja de variedade tardia. A expectativa é de uma produtividade abaixo de 40 scs/ha. No Quadro 1 acima, a rentabilidade estimada em 8,8% é sustentada pelo algodão, que se desenvolve bem até o momento. Os produtores que plantaram apenas soja e milho verão estão com margem zero ou negativa. Considerando ainda os passivos com compra de máquinas e terras, além das dívidas roladas das safras anteriores, fica claro que a situação de liquidez dos produtores da região é preocupante. Nos casos onde ocorre arrendamento ou compra de terra em percentuais elevados, a situação de liquidez é bastante delicada.
Com a recente queda do dólar e a consequente baixa nas cotações de soja no país, dois aspectos que devem ser analisados são a curva de comercialização e o perfil do endividamento (real ou dólar) do produtor rural. Os produtores que venderam a soja antecipadamente em R$ garantiram bons preços devido ao dólar elevado nos meses anteriores. Já os produtores que fixaram em US$ ou esperaram para vender no mercado spot viram seu preço médio cair até 10% no último mês. Contudo, cabe lembrar que os produtores com custeio dolarizado possuem um hedge natural, assim, a queda na receita (devido ao dólar mais baixo) foi acompanhada por uma queda nos custos de produção.
Quadro 1 - Rentabilidade Operacional x Índice de Liquidez
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