quinta-feira, 31 de março de 2016

Relatório aponta condição climática como maior responsável por baixa produtividade de soja em Mato Grosso

Relatório aponta condição climática como maior responsável por baixa produtividade de soja em Mato Grosso





Relatório aponta condição climática como maior responsável por baixa produtividade de soja em Mato Grosso
31/03/16 - 10:52 


De acordo com os pesquisadores, essas condições coincidiram com a fase de desenvolvimento vegetativo e com a época de floração e enchimento de grãos de muitas lavouras, o que resultou no baixo desenvolvimento e abortamento de flores e na formação de vagens vazias ou chochas.
O relatório aponta que as temperaturas máximas médias em 2015 em Sinop (MT) ficaram em 2,5oC, 3,6 oC e 2,9 oC acima dos valores médios do ano de 2013 nos meses de outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Além disso, a precipitação registrada nesses meses na estação meteorológica da Embrapa Agrossilvipastoril foi 32% menor do que o registrado em 2013. Em fevereiro, quando algumas lavouras ainda estavam em fase de enchimento de grãos, o volume de chuva foi de apenas 15% do registrado em fevereiro de 2014 e de 18% do registrado no mesmo mês em 2015.
Doenças
Muitos consultores e produtores procuraram a Embrapa Agrossilvipastoril preocupados com as vagens vazias e grãos chochos encontrados nas lavouras.
Algumas plantas apresentavam sintomas de doenças como a mela seca e principalmente a macrophomina (ou podridão negra das raízes). De acordo com a pesquisadora Dulândula Wruck, as doenças não foram responsáveis pela perda da produtividade e sim consequência de outros problemas, como a falta de água e o impedimento químico e físico nas camadas superficiais do solo. Esses fatores fizeram com que as raízes não se aprofundassem e comprometessem o ciclo da cultura.
“A alta temperatura mais o déficit hídrico fez com que não houvesse a polinização. Mas mesmo assim ocorreu a formação de vagens, fazendo com que os produtores acreditassem que a produção seria boa. Na época da colheita é que o pessoal começou a ver que o grão não estava enchendo”, relata Dulândula Wruck.
Nos casos com ocorrência macrophomina, a pesquisadora da área de fitopatologia explica que o fungo causador da doença invadiu raízes periféricas que já estavam debilitadas ou mortas devido à falta de água e à dificuldade em descer no perfil do solo. Em condições climáticas normais, este fungo atua como decompositor de tecidos mortos. Devido à falta de chuva, eles passaram a invadir as raízes das plantas de soja.
Entretanto, a pesquisadora ressalta que assim como a mela seca, a macrophomina não foi responsável pela perda de produtividade.
“As doenças são consequência de outros fatores. Se eu tenho um solo descompactado e tenho nutrientes abaixo de 10 cm, a raiz vai descer. Numa situação de veranico essa planta conseguiria suportar melhor do que aquela que só está com a raiz superficial”, explica a pesquisadora.
Impedimento no solo
Com o veranico desta safra, foi a primeira vez que os pesquisadores observaram danos às lavouras causados indiretamente pelo impedimento físico e químico do solo na região médio norte de Mato Grosso. De acordo com o Sílvio Spera, da Embrapa Agrossilvipastoril, é preciso fazer mais pesquisas para saber se a escassez de chuva pode vir a ser recorrente de agora em diante.
Sílvio explica que soluções para problemas decorrentes da pequena espessura da camada cultivada do solo já existem. Ele aponta a escarificação e a utilização de gesso e calagem como forma de reduzir a acidez em camadas mais profundas do solo. Entretanto, é preciso verificar a viabilidade dessas operações, uma vez que ainda não se sabe se o problema dos veranicos será recorrente nos próximos anos.
De acordo com o pesquisador, em curto prazo, uma solução mais viável e barata para o produtor é a utilização de braquiária consorciada com milho.
“Como a braquiária tem um sistema radicular muito profundo e muito agressivo, ela vai facilitar a estruturação do solo nas camadas. Essa é a situação mais barata”, afirma.
De acordo com o relatório da Embrapa, é preciso que mais pesquisas sejam feitas nos próximos anos, de modo a conhecer melhor as consequências dos sistemas de produção praticados em Mato Grosso e a prever os cenários decorrentes da mudança climática. Essas informações serão fundamentais para subsidiar os produtores na busca pela sustentabilidade dos sistemas produtivos.


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