Tempestade perfeita’? Quatro fatos que fizeram de 2015 o ano das más notícias econômicas
Luís Barrucho/Da BBC Brasil em Londres
Se ainda restavam dúvidas de que economia e política realmente andam juntas, 2015 serviu para comprovar que a velha máxima faz sentido.
A crise política instalada em Brasília, cujo desfecho ainda não é conhecido, suspendeu decisões importantes, gerou desconfiança entre os investidores e contaminou os mercados.
Em contrapartida, a desaceleração da economia reduziu as receitas do governo que, sem dinheiro em caixa, foi obrigado a cortar gastos e a aumentar impostos, movimento que erodiu ainda mais a popularidade da presidente Dilma Rousseff.
A turbulência econômica também atingiu em cheio o bolso dos brasileiros, que não devem sentir saudades de 2015.
Foram diversas notícias negativas: recessão, inflação alta, taxa de juros elevada, aumento da conta de luz, ondas de demissões e dólar acima de R$ 4 pela primeira vez desde a criação do Plano Real.
Mas não é só. Com um rombo nas contas públicas, o Brasil perdeu o grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, conquistado a duras penas durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também deu adeus a um ministro da Fazenda. Há menos de duas semanas, Joaquim Levy ─ um nome desde o princípio associado ao mercado ─ foi substituído por Nelson Barbosa, até então ministro do Planejamento.
A conjuntura externa tampouco foi favorável ao país. Com a economia dando sinais de enfraquecimento, a China, principal parceira comercial do Brasil, comprou menos.
E as previsões para o ano que vem não são otimistas. A inflação deve ficar novamente acima do teto da meta (de 6,5%), os juros devem subir e o PIB (soma dos bens e serviços produzidos pelo país) deve registrar novamente uma retração.
Em meio à tormenta que afeta a economia brasileira, a BBC Brasil listou abaixo quatro fatores que derrubaram o país em 2015, criando uma "tempestade perfeita":
1) Crise política
Em meio à disputa entre o Executivo e o Legislativo, decisões importantes que poderiam aliviar as contas públicas e retomar o crescimento da economia do país estão suspensas temporariamente ou foram adiadas.
Um dos exemplos mais notórios é a reforma da Previdência, considerado o principal sugadouro fiscal do Brasil.
Segundo o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, a proporção dos gastos do INSS sobre o PIB subiu de 3,4% em 1991 para 7,7% no ano passado.
Atualmente, nove brasileiros em idade ativa trabalham para sustentar um aposentado acima de 65 anos. Se nada for feito, em 2040, essa proporção será de quatro trabalhadores para cada aposentado, aumentando significativamente a pressão sobre as contas públicas.
Também há outros desafios importantes ─ e de curto prazo, como o chamado ajuste fiscal, ou seja, o esforço para equilibrar as contas públicas. Em outras palavras, gastar menos do que se arrecada.
Mas o fracasso na aprovação de algumas medidas, como a volta da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), lança dúvidas se o governo terá dinheiro suficiente para fechar no azul.
Quanto menor a certeza, maior a desconfiança dos mercados.
Sem alternativa para financiar seus gastos, o governo acaba tendo de oferecer um retorno maior a quem quer emprestar dinheiro ao país – no caso, na forma de juros mais altos. Em 2016, estima-se que a taxa básica de juros, a Selic, deva subir dos atuais 14,25% para 14,75%.
Só que juros maiores significam menos dinheiro para aplicar em outras áreas, como saúde e educação.
2) Lava Jato
A operação que investiga o esquema milionário de desvio de verbas na Petrobras - e que resultou na acusação contra algumas das maiores empreiteiras do país - atingiu em cheio a já combalida economia brasileira.
Segundo cálculos da consultoria Tendências, o impacto foi de 2,5 pontos percentuais no PIB deste ano.
Economistas calculam que a economia brasileira deve encolher 3,7% em 2015. Para o ano que vem, a estimativa é de retração de 2,8%.
Se confirmadas as previsões, será a primeira vez que o país registra dois anos consecutivos de queda no PIB desde o início da série histórica, em 1948.
"A Lava Jato paralisou setores que têm um peso grande nos investimentos totais da economia, então é natural que tenha um impacto negativo expressivo no PIB no curto prazo", explicou Alessandra Ribeiro, da Tendências, à BBC Brasil no início de dezembro.
"O lado positivo dessa história é que as instituições estão funcionando e o risco de os corruptos serem pegos está aumentando - o que tende a limitar a corrupção no longo prazo", acrescentou ela.
3) Cenário externo
Fatores externos também tiveram seu peso no mau desempenho da economia brasileira neste ano.
E o principal revés veio da China, maior parceiro comercial do Brasil.
Com a atividade econômica enfraquecida, resultado da queda das exportações e do menor consumo das famílias, o gigante asiático comprou menos, impactando as vendas externas brasileiras.
Paralelamente, caiu o preço das commodities (principais produtos de exportação brasileiros), refletindo uma menor demanda global, especialmente da China.
E, há duas semanas, o Fed, o Banco Central americano, decidiu subir juros pela primeira vez desde a crise financeira de 2008.
Apesar do retorno baixo, os títulos públicos do Tesouro americano são considerados investimentos de confiança (já que o risco de calote dos Estados Unidos, por ser a principal economia do mundo e poder imprimir dólar à vontade, praticamente inexiste). O resultado é uma debandada de investimentos alocados em países emergentes, entre eles o Brasil.
4) Ajuste
Na tentativa de fazer as contas públicas voltarem ao azul, o governo lançou mão de algumas medidas de ajuste fiscal no início de 2015.
Além disso, preços há muito tempo represados, como energia e gasolina, subiram e impactaram a inflação que, segundo economistas ouvidos pelo Banco Central, deve terminar o ano em 10,7%. Se a previsão for confirmada, será o maior valor desde 2002 (12,53%).
A Cide, taxa sobre a gasolina e o óleo diesel foi reinstituída, afetando os preços do combustível. E a forte seca que atingiu o país também reduziu a produção de energia hidrelétrica e forçou o uso da termelétrica, mais cara.
Paralelamente, desde maio, o governo vem anunciando seguidos cortes de gastos para reduzir o tamanho do rombo nas contas públicas.
Apesar do arrocho, o Brasil pode fechar 2015 com um déficit (despesas maiores que as receitas) recorde de até R$ 117,9 bilhões. O valor consideraria o abatimento de até R$ 55 bilhões para compensação das chamadas "pedaladas fiscais" (pagamentos atrasados a bancos públicos).
O problema é que, com menos dinheiro para pagar os juros dos empréstimos que toma para se financiar, o governo passa a ser visto com maior desconfiança pelos agentes econômicos.
Em parte em função disso, o Brasil perdeu o "chamado grau de investimento", uma espécie de selo de bom pagador, por duas das maiores agências de classificação de risco do mundo, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings.
Sem esse atestado, o país agora é considerado "grau especulativo", o que, aos olhos do mercado, significa que o país tem menos capacidade de honrar suas dívidas.
A crise política instalada em Brasília, cujo desfecho ainda não é conhecido, suspendeu decisões importantes, gerou desconfiança entre os investidores e contaminou os mercados.
Em contrapartida, a desaceleração da economia reduziu as receitas do governo que, sem dinheiro em caixa, foi obrigado a cortar gastos e a aumentar impostos, movimento que erodiu ainda mais a popularidade da presidente Dilma Rousseff.
A turbulência econômica também atingiu em cheio o bolso dos brasileiros, que não devem sentir saudades de 2015.
Foram diversas notícias negativas: recessão, inflação alta, taxa de juros elevada, aumento da conta de luz, ondas de demissões e dólar acima de R$ 4 pela primeira vez desde a criação do Plano Real.
Mas não é só. Com um rombo nas contas públicas, o Brasil perdeu o grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, conquistado a duras penas durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também deu adeus a um ministro da Fazenda. Há menos de duas semanas, Joaquim Levy ─ um nome desde o princípio associado ao mercado ─ foi substituído por Nelson Barbosa, até então ministro do Planejamento.
A conjuntura externa tampouco foi favorável ao país. Com a economia dando sinais de enfraquecimento, a China, principal parceira comercial do Brasil, comprou menos.
E as previsões para o ano que vem não são otimistas. A inflação deve ficar novamente acima do teto da meta (de 6,5%), os juros devem subir e o PIB (soma dos bens e serviços produzidos pelo país) deve registrar novamente uma retração.
Em meio à tormenta que afeta a economia brasileira, a BBC Brasil listou abaixo quatro fatores que derrubaram o país em 2015, criando uma "tempestade perfeita":
1) Crise política
Em meio à disputa entre o Executivo e o Legislativo, decisões importantes que poderiam aliviar as contas públicas e retomar o crescimento da economia do país estão suspensas temporariamente ou foram adiadas.
Um dos exemplos mais notórios é a reforma da Previdência, considerado o principal sugadouro fiscal do Brasil.
Segundo o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, a proporção dos gastos do INSS sobre o PIB subiu de 3,4% em 1991 para 7,7% no ano passado.
Atualmente, nove brasileiros em idade ativa trabalham para sustentar um aposentado acima de 65 anos. Se nada for feito, em 2040, essa proporção será de quatro trabalhadores para cada aposentado, aumentando significativamente a pressão sobre as contas públicas.
Também há outros desafios importantes ─ e de curto prazo, como o chamado ajuste fiscal, ou seja, o esforço para equilibrar as contas públicas. Em outras palavras, gastar menos do que se arrecada.
Mas o fracasso na aprovação de algumas medidas, como a volta da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), lança dúvidas se o governo terá dinheiro suficiente para fechar no azul.
Quanto menor a certeza, maior a desconfiança dos mercados.
Sem alternativa para financiar seus gastos, o governo acaba tendo de oferecer um retorno maior a quem quer emprestar dinheiro ao país – no caso, na forma de juros mais altos. Em 2016, estima-se que a taxa básica de juros, a Selic, deva subir dos atuais 14,25% para 14,75%.
Só que juros maiores significam menos dinheiro para aplicar em outras áreas, como saúde e educação.
2) Lava Jato
A operação que investiga o esquema milionário de desvio de verbas na Petrobras - e que resultou na acusação contra algumas das maiores empreiteiras do país - atingiu em cheio a já combalida economia brasileira.
Segundo cálculos da consultoria Tendências, o impacto foi de 2,5 pontos percentuais no PIB deste ano.
Economistas calculam que a economia brasileira deve encolher 3,7% em 2015. Para o ano que vem, a estimativa é de retração de 2,8%.
Se confirmadas as previsões, será a primeira vez que o país registra dois anos consecutivos de queda no PIB desde o início da série histórica, em 1948.
"A Lava Jato paralisou setores que têm um peso grande nos investimentos totais da economia, então é natural que tenha um impacto negativo expressivo no PIB no curto prazo", explicou Alessandra Ribeiro, da Tendências, à BBC Brasil no início de dezembro.
"O lado positivo dessa história é que as instituições estão funcionando e o risco de os corruptos serem pegos está aumentando - o que tende a limitar a corrupção no longo prazo", acrescentou ela.
3) Cenário externo
Fatores externos também tiveram seu peso no mau desempenho da economia brasileira neste ano.
E o principal revés veio da China, maior parceiro comercial do Brasil.
Com a atividade econômica enfraquecida, resultado da queda das exportações e do menor consumo das famílias, o gigante asiático comprou menos, impactando as vendas externas brasileiras.
Paralelamente, caiu o preço das commodities (principais produtos de exportação brasileiros), refletindo uma menor demanda global, especialmente da China.
E, há duas semanas, o Fed, o Banco Central americano, decidiu subir juros pela primeira vez desde a crise financeira de 2008.
Apesar do retorno baixo, os títulos públicos do Tesouro americano são considerados investimentos de confiança (já que o risco de calote dos Estados Unidos, por ser a principal economia do mundo e poder imprimir dólar à vontade, praticamente inexiste). O resultado é uma debandada de investimentos alocados em países emergentes, entre eles o Brasil.
4) Ajuste
Na tentativa de fazer as contas públicas voltarem ao azul, o governo lançou mão de algumas medidas de ajuste fiscal no início de 2015.
Além disso, preços há muito tempo represados, como energia e gasolina, subiram e impactaram a inflação que, segundo economistas ouvidos pelo Banco Central, deve terminar o ano em 10,7%. Se a previsão for confirmada, será o maior valor desde 2002 (12,53%).
A Cide, taxa sobre a gasolina e o óleo diesel foi reinstituída, afetando os preços do combustível. E a forte seca que atingiu o país também reduziu a produção de energia hidrelétrica e forçou o uso da termelétrica, mais cara.
Paralelamente, desde maio, o governo vem anunciando seguidos cortes de gastos para reduzir o tamanho do rombo nas contas públicas.
Apesar do arrocho, o Brasil pode fechar 2015 com um déficit (despesas maiores que as receitas) recorde de até R$ 117,9 bilhões. O valor consideraria o abatimento de até R$ 55 bilhões para compensação das chamadas "pedaladas fiscais" (pagamentos atrasados a bancos públicos).
O problema é que, com menos dinheiro para pagar os juros dos empréstimos que toma para se financiar, o governo passa a ser visto com maior desconfiança pelos agentes econômicos.
Em parte em função disso, o Brasil perdeu o "chamado grau de investimento", uma espécie de selo de bom pagador, por duas das maiores agências de classificação de risco do mundo, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings.
Sem esse atestado, o país agora é considerado "grau especulativo", o que, aos olhos do mercado, significa que o país tem menos capacidade de honrar suas dívidas.
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