Em cachos ou suco, uva gera lucro para produtores de Mato Grosso
Suco de uva produzido em Nova Mutum é vendido em supermercados.
Em Chapada dos Guimarães, uva é vendida logo após colheita.
Amanda SampaioDo G1 MT
O clima tropical de Mato Grosso é ideal para a produção de soja, milho, algodão e, quem diria, também de uva. O sócio-proprietário da empresa que produz suco de uva em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá, Michel Le Plus, faz questão de destacar que as uvas para a produção de sucos adoram, apesar de boa parte da produção ser feita na região sul do país, de tempo seco e calor, clima característico do estado entre os meses de maio a outubro.
“Se você vê a uva como ela é hoje aqui, sem nenhum grão podre, nenhuma mancha, é porque temos um clima extraordinário. Uva adora o calor. A água estamos colocando com irrigação, então isso é um trunfo”, ressalta.
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O produtor destina 30 hectares da propriedade dele ao cultivo de uvas para suco e de mesa e mais 5 hectares para variedades de uvas para pesquisa.
Le Plus é francês e mantém a empresa em sociedade com o irmão, que vive na França. Ele se mudou para o país na década de 1970 e se estabeleceu em Mato Grosso. Na França, antes de vir para o Brasil, já teve sociedade com um chateaux que produzia vinhos.
Fábrica de sucos
Em 2001, teve início a produção de suco de uva com 100 mil litros engarrafados pela fábrica. Já de 15 de julho a 15 de novembro deste ano, durante a safra de uva, a fábrica produziu cerca de 350 mil litros de suco, 30% a mais que em 2014. No entanto, a capacidade total poderia chegar a 650 mil litros de suco ao ano se houvesse uma quantidade maior de matéria-prima e de funcionários.
Em 2001, teve início a produção de suco de uva com 100 mil litros engarrafados pela fábrica. Já de 15 de julho a 15 de novembro deste ano, durante a safra de uva, a fábrica produziu cerca de 350 mil litros de suco, 30% a mais que em 2014. No entanto, a capacidade total poderia chegar a 650 mil litros de suco ao ano se houvesse uma quantidade maior de matéria-prima e de funcionários.
A busca por um produto mais saudável tem mostrado o mercado de sucos como promissor, segundo Le Plus. “Acho que as pessoas estão diminuindo o consumo de refrigerantes, há uma conscientização, uma mudança de hábitos. Acredito que o consumo de suco de frutas vai aumentar muito”, afirma.
As primeiras garrafas produzidas usavam a variedade Isabel Precoce pura. A mistura evoluiu para Isabel Precoce BRS Cora e desde 2006 é usada a mistura de 80% de Isabel Precoce, que traz a doçura e o paladar ao suco, e 20% de Violet, que é mais ácida, mas dá a cor escura à bebida.
Para serem engarrafadas, as uvas passam pela desbagaçadeira, onde os frutos são separados do cacho. As uvas passam por uma tubulação aquecida e caem em uma caldeira, onde permanecerá por 40 minutos. Depois segue para outra máquina onde são espremidas e perdem bagaços e sementes. O líquido chega a ser aquecido a 85ºC e em seguida é resfriado novamente e chega ao setor onde é colocado em garrafas, que recebem tampas e etiquetas.
As garrafas saem da fábrica ainda aquecidas e recebem um esguicho de água para serem resfriadas e armazenadas.
Le Plus explica que o suco de uva é integral, pois não são acrescentados ingredientes como água ou açúcar ao líquido. O aquecimento do suco garante a pasteurização e dispensa a adição de conservantes. “O suco tem validade de 2 anos, não porque estrague após esse tempo, mas porque é o prazo de validade que o fabricante da tampa nos dá”, diz.
A criação de uma empresa bem-sucedida, no entanto, não aconteceu do dia para a noite. Foi preciso muita pesquisa para encontrar variedades que se adaptassem bem às características de Mato Grosso.
'O pulo do gato'
Para que o cultivo do parreiral se tornasse possível no Cerrado, no entanto, o produtor e o engenheiro agrônomo responsável pelo projeto, Gervásio Becker, tiveram que entender como lidar com as plantas em um clima mais quente. O primeiro plantio foi feito em 1998, em fase experimental, em uma área de apenas 1 hectare, onde foi avaliado o desempenho de 14 variedades na fazenda.
Para que o cultivo do parreiral se tornasse possível no Cerrado, no entanto, o produtor e o engenheiro agrônomo responsável pelo projeto, Gervásio Becker, tiveram que entender como lidar com as plantas em um clima mais quente. O primeiro plantio foi feito em 1998, em fase experimental, em uma área de apenas 1 hectare, onde foi avaliado o desempenho de 14 variedades na fazenda.
Como os meses de dezembro a abril são mais chuvosos no estado, optou-se por fazer apenas uma safra por ano, durante a estiagem. A frutificação na época mais seca do ano facilita o manejo e mantém as árvores longe de doenças fúngicas, o que diminui, inclusive, o uso de defensivos agrícolas.
“Fazemos o que nós chamamos de poda de formação no início das chuvas após a colheita [nos três últimos meses do ano], para formar os ramos e depois, no início da seca, em abril e maio, uma poda de frutificação. Assim a parreira descansa mais tempo e temos uma qualidade de uva incomparável. Para o suco, chegamos a 21 BRICS [medida de açúcar do suco da fruta], o que no Sul do país não existe”, destaca Becker.
Outra vantagem da estiagem em Mato Grosso é o inverno sem baixas temperaturas, que chega a 15º C de madrugada e 30º C durante o dia. “Uma fruta para ter bastante cor, doçura, aroma e qualidades precisa de muita luz e amplitude térmica e vamos ter uma fruta sadia, com qualidade e as folhas sem nenhuma mancha”, complementa.
Foi preciso também descobrir que a planta se comporta diferente no Cerrado. Em climas temperados, como na Europa e no sul do país, os pés de uva perdem suas folhas no outono, mas na primavera rebrotam usando as energias da raiz e, em seguida, surgem os frutos. No clima tropical, as parreiras fazem a reserva nas folhas, já que o calor permanece durante o inverno e, quando falta água durante a estiagem, ela é reposta por irrigação.
“Se você não cuida de guardar essas folhas após a colheita, nos meses chuvosos, de dezembro a fevereiro, ela não consegue fazer as reservas para a próxima safra. Isso é o que faz sua capacidade de produção e isso nós demoramos alguns anos para entender”, explica Le Plus.
Preparação do solo
A formação do parreiral começou com a adubação da terra. O procedimento normal seria fazer um perfil de solo de 20 centímetros de profundidade, mas o engenheiro agrônomo responsável pelo projeto, criou um perfil de solo de 80 centímetros. Os sulcos na terra para aplicação do adubo foram feitos de uma ponta a outra dos lotes e depois diagonalmente.
A formação do parreiral começou com a adubação da terra. O procedimento normal seria fazer um perfil de solo de 20 centímetros de profundidade, mas o engenheiro agrônomo responsável pelo projeto, criou um perfil de solo de 80 centímetros. Os sulcos na terra para aplicação do adubo foram feitos de uma ponta a outra dos lotes e depois diagonalmente.
A intenção era formar uma base abundante, depositando nitrogênio e fosfato, como se fosse dinheiro depositado em uma poupança de banco para “render” por muitos anos, repondo apenas o necessário, já que a parreira é uma cultura perene.
Busca por variedades adaptadas
Desde o início, a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundamental para o teste de variedades que mais funcionaria para a região. “Sempre trabalhamos com essas as Embrapas de Jales e Bento Gonçalves nos ajudando. Se mudamos para uma safra só, também foi a Embrapa. Sem esta ajuda não teríamos sucesso”, comenta o produtor.
Desde o início, a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundamental para o teste de variedades que mais funcionaria para a região. “Sempre trabalhamos com essas as Embrapas de Jales e Bento Gonçalves nos ajudando. Se mudamos para uma safra só, também foi a Embrapa. Sem esta ajuda não teríamos sucesso”, comenta o produtor.
Depois da formação do solo, veio da Embrapa também a ideia de usar o caroço de algodão, que era descartado pela fazenda vizinha, como composto orgânico para ser incorporado ao solo.
Para que o pé de uva brote, é usado um porta-enxerto na raiz de uma trepadeira da América Central. A uva de mesa que mais se adaptou à região foi a Niágara Rosa. Segundo Le Plus, a variedade de produção média é de cerca de 14 quilos por pé e de 15 a 25 toneladas por hectare, porém dá pouco trabalho e se mostra bem resistente às doenças do estado.
Ele conta que, quando começou na atividade, os municípios da região não eram tão populosos como hoje. Mas, atualmente, a uva de mesa é vendida para supermercados de Cuiabá, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sorriso e Sinop. Juntos, esses municípios somam um milhão de habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010).
Para os mercados, são vendidos cachos com as uvas maiores, em embalagens plásticas de 500g a 600g. Além disso, ele também faz a venda na própria fazenda para pessoas que revendem o produto em estabelecimentos menores ou em carros nas ruas de Lucas do Rio Verde.
A venda da fruta in natura rende um lucro maior ao produtor, já que a embalagem custa cerca de R$ 0,30 e não tem o custo agregado da garrafa, tampa, rótulo, caixa e transporte que tem o suco. No entanto, ele destaca que é ideal diversificar com a fabricação do suco. “A uva de mesa não espera, não é que nem o suco, que espera ser vendido. Se você não consegue vender a uva de mesa, você perde. A uva de suco, se vem uma chuva forte e elas estragam um pouco visualmente, não tem importância porque vai ser esmagada depois”, explica.
Expansão
O suco produzido em Nova Mutum ganhou ainda mais reconhecimento quando passou a ser um dos produtos vendidos por uma rede de supermercados em todo o país. Cerca de 40% da produção é destinada à rede de hipermercados, que é criteriosa e todo ano envia um auditor para a fazenda, que verifica se estão sendo cumpridos quase 50 requisitos necessários para que o produto possa continuar sendo vendido em suas lojas.
O suco produzido em Nova Mutum ganhou ainda mais reconhecimento quando passou a ser um dos produtos vendidos por uma rede de supermercados em todo o país. Cerca de 40% da produção é destinada à rede de hipermercados, que é criteriosa e todo ano envia um auditor para a fazenda, que verifica se estão sendo cumpridos quase 50 requisitos necessários para que o produto possa continuar sendo vendido em suas lojas.
Essas exigências passam por questões sociais, qualidade da água do rio usada na irrigação, higiene dos funcionários ao manusear as frutas, instalação de placas nos locais de trabalho, etc. A bebida também não pode apresentar em sua composição traços de produtos químicos.
O suco é também vendido em outras redes de supermercados de Mato Grosso.
Hoje, a empresa de sucos Melina é conhecida como um caso de sucesso, tanto é que faz parte de um roteiro de turismo tecnológico oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no estado. A intenção do projeto, que foi desenvolvido pela prefeitura de Nova Mutum em parceria com o Sebrae, é mostrar os empreendimentos de agronegócio da região.
O gerente regional do Sebrae, Rubens de Pinho Filho, explica que grupos de empresários da Alemanha e de outros países já visitaram essas propriedades rurais. “O que nos chama a atenção é que na região da soja, milho e algodão, temos um empreendimento que é a uva, uma alternativa de sucesso que vem fomentar a renda do empresário rural, então o Suco de Uva Melina também está inserida nesse projeto”, afirma.
A uva seria uma alternativa de renda que pode ser aplicada em pequenas propriedades rurais. “Acreditamos que seja realmente uma alternativa para o pequeno produtor que vai agregar valor ao produto e pode aumentar sua renda”, diz.
Uva em Chapada dos Guimarães
A prova de que a atividade pode dar certo em pequenas propriedades está a 300 km de Nova Mutum, em Chapada dos Guimarães. Em uma chácara, que virou uma espécie de condomínio para amigos, Evilar de Faria e Verônica Rodrigues separaram uma área onde cultivam 0,5 hectares com 800 pés de uva Niágara Rosa.
A prova de que a atividade pode dar certo em pequenas propriedades está a 300 km de Nova Mutum, em Chapada dos Guimarães. Em uma chácara, que virou uma espécie de condomínio para amigos, Evilar de Faria e Verônica Rodrigues separaram uma área onde cultivam 0,5 hectares com 800 pés de uva Niágara Rosa.
Ele, bancário com formação em administração, e ela, bancária aposentada e professora, encontraram na atividade um hobby para ter algo que os prendesse à terra e que agora passa a render lucro, com o aumento da produtividade ano a ano.
No quarto ano de produção, eles colheram este ano entre agosto e setembro 2 toneladas de uvas. Quem passa pela MT-251 e vê a placa anunciando a venda das uvas pode entrar na propriedade e ver os cachos serem colhidos do pé na hora da compra.
Como tudo começou
A ideia de plantar uva em Chapada dos Guimarães surgiu durante uma conversa com um agrônomo durante um almoço na cidade. Evilar queria, a princípio, cultivar verduras usando a técnica da aeroponia. Foi quando o agrônomo lhes deu a dica de tentar plantar uvas, citando como exemplo um parreiral que existia em Primavera do Leste, município que fica a 180 km de Chapada.
A ideia de plantar uva em Chapada dos Guimarães surgiu durante uma conversa com um agrônomo durante um almoço na cidade. Evilar queria, a princípio, cultivar verduras usando a técnica da aeroponia. Foi quando o agrônomo lhes deu a dica de tentar plantar uvas, citando como exemplo um parreiral que existia em Primavera do Leste, município que fica a 180 km de Chapada.
Mas o casal não acertou a mão desde o início. No primeiro ano, foi cultivado um hectare com 1,6 mil mudas, das quais apenas 260 se desenvolveram com uma baixa produtividade. Em uma nova tentativa, o hectare foi todo desfeito e eles compraram as mudas já enxertadas da Embrapa, que chegaram pelos Correios.
Desta vez, escolheram apenas 0,5 hectare onde plantaram 800 mudas, sendo que apenas cinco delas não pegaram. “Na muda que veio da Embrapa a gente vê bem a separação do porta enxerto e a variedade que se adaptou bem aqui é a IAC766, de Niágara Rosada, mais adequada aqui para a região”, afirma Evilar.
Em Chapada, o casal também percebeu que realizar apenas uma safra por ano melhorava a produtividade. A poda de formação é feita em novembro e a de frutificação em meados de março. “Assim, pegamos uma parte das chuvas e quando a uva estiver na fase de madurar os frutos, temos um estresse hídrico [durante o inverno sem chuvas], que faz com que o teor de açúcar seja mais concentrado”, explica o produtor.
Este ano, a metade da produção, ou seja, uma tonelada, deve render o lucro da plantação ao casal, cerca de 500 caixas de 2 kg sendo vendidas a R$ 15 cada, um lucro total de R$ 7,5 mil. O valor conseguido com a venda da outra tonelada servirá para custear a produção.
Planos para o futuro
Para Evilar, o clima de Chapada dos Guimarães, mais fresco pela altitude, é ideal para o cultivo de uvas e a venda com a colheita feita diretamente na parreira é um diferencial. “Não tenho dúvidas de que outros produtores se sentirão incentivados a produzir uvas aqui e vai ser muito bacana. Já pensou a Chapada como um polo produtivo de uvas!”, projeta.
Para Evilar, o clima de Chapada dos Guimarães, mais fresco pela altitude, é ideal para o cultivo de uvas e a venda com a colheita feita diretamente na parreira é um diferencial. “Não tenho dúvidas de que outros produtores se sentirão incentivados a produzir uvas aqui e vai ser muito bacana. Já pensou a Chapada como um polo produtivo de uvas!”, projeta.
A mulher, Verônica, se diz encantada com o colorido do verde e rosa da parreira e fala um pouco dos planos para o futuro. Para ela, o cenário da plantação de uvas é diferente de tudo que já fez na vida, já que nasceu em um centro urbano. “Se você tiver dedicação e tecnologia, consegue produzir. Nossa visão de futuro é produzir um vinho de qualidade”, adianta.
Agora eles têm mais um motivo para frequentarem a chácara. Na época da colheita, eles permanecem na casa do campo e vão a Cuiabá somente para trabalhar.
Como o negócio tem crescido, a intenção é melhorar a administração e o manejo. “Pretendemos procurar o Sebrae para isso e já estamos pensando em uma produção de uvas orgânicas, deixar de usar produtos químicos e depois partir para a certificação. O próximo sonho é produzir um vinho de qualidade”, conta Evilar.
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