Crise compromete rendimento de cooperativas de reciclagem em AL
Elas dizem que produção de matéria prima para reciclagem tem diminuído.
Impacto maior é na redução do valor pago pelas indústrias, diz economista.
A crise econômica que o país enfrenta afeta direta ou indiretamente a todas as classes sociais, independente da renda e do tipo de função desempenhada. Em cooperativas de reciclagem de lixo em Maceió, por exemplo, a pancada na economia é sentida por famílias que dependem do descarte gerado pelo consumo do restante da população, que procura economizar cada vez mais.
No geral, as pessoas acabam notando os efeitos da crise no reajuste do preço de alguns produtos, um aperto para pagar as contas no final do mês ou até mesmo alguma demissão no ambiente de trabalho, mas isso é apenas parte do problema.
Segundo a presidente da cooperativa, Maria José da Silva, 23 famílias chegaram a trabalhar na unidade, mas hoje o número caiu para 18. “Eles vão procurar outro trabalho melhor, até porque precisam se sustentar”, relatou.Trabalhando normalmente com 45 toneladas de materiais por mês, a Cooperativa de Recicladores de Lixo Urbano de Maceió (Cooplum), localizada no bairro Jacarecica, tem gerado no máximo 35 toneladas para revender e distribuir a renda para as famílias que lá trabalham.
De acordo com o economista Cícero Péricles, os chamados públicos C e D de consumo, aqueles de renda média e baixa, foram os que mais tiveram retração no consumo do varejo em Alagoas, mas isso não é o que mais afeta a produção do lixo que as cooperativas buscam.
“Nos bairros populares, onde vive maior parte destes segmentos, predomina a produção de lixo úmido, com menor volume de material que pode ser reciclado. O resíduo seco – papel, vidro, metal, plástico, melhor aproveitado pelos catadores, vem, na sua maior parte, dos bairros onde vive o público A e B, minoritário”, disse, ao explicar que esse público de renda média e mais alta não reduziu tão fortemente seu consumo no último ano.
Alguns dos produtos mais encontrados, como papelão e ferro, eram vendidos a 22 centavos o quilo, mas no último ano o valor caiu para 15 e 10, respectivamente, o que acaba afetando a renda adquirida na cooperativa, segundo Maria José.
“O problema maior, para catadores e intermediários, está na parte final da cadeia produtiva do material reciclável, a indústria compradora desse material, que está reduzindo suas compras em função da crise e, portanto, diminuindo tanto o valor de cada um dos itens recicláveis como reduzindo o volume adquirido dos catadores e de suas cooperativas”, explicou Péricles.
Ainda segundo o economista, o setor só pode melhorar com um crescimento, ou um sinal de melhora na economia. “A indústria irá refletir essa nova situação e voltará a comprar mais , aumentar a demanda e, portanto, os preços do material reciclável”.
Ajudando no sustento de 4 crianças em casa, Mayara dos Santos, 21, disse que apenas ajuda a completar a renda. “Se dependessem só de mim, não ia dar. Ainda bem que minha mãe trabalha. Só os 500 reais que eu ganho por mês não dariam conta”, explicou.
Para a coordenadora de educação do sistema de Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marivá Pereira de Oliveira, ter uma atividade como a que é exercida nas unidades de reciclagem é algo fundamental para a comunidade em que ela está.
“Essa crise é algo que vem afetando a todos, e essas cooperativas sentem isso também. Elas precisam tanto de insumos [matéria-prima], como também da venda deles, quando isso se torna difícil, acaba sendo um desafio para quem depende dessa renda”, explicou.
Por conta dos problemas causados pela crise, uma campanha para arrecadar alimentos não perecíveis foi iniciada para ajudar as famílias de cooperativas da capital alagoana.
As doações, em qualquer quantidade, podem ser feitas de segunda a sexta-feira na sede do Sistema OCB/AL, localizado na Av. Governador Lamenha Filho, 1880, Feitosa, entre 8h e 17h.
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