Contra desperdício, Agrishow tem sistemas de irrigação a partir de R$ 20
Agricultores buscam tecnologias diante da escassez de água e de chuvas.
Embrapa leva para feira em Ribeirão Preto (SP) irrigador solar feito em casa.
As altas temperaturas e a escassez de chuvas em março e abril voltaram a deixar em alerta agricultores do centro-oeste e do sudeste brasileiro. O medo é que a seca enfrentada há dois anos se repita e prejudique as lavouras.
Em busca de soluções para o problema, produtores de todo o país buscam na 23ª Agrishow tecnologias que que consigam aliar economia de água com máxima produtividade no campo. A feira oferece opções de sistemas a partir de R$ 20.
Produtor de milho, João Sebastião Sanchez viajou 650 quilômetros até Ribeirão Preto (SP) na expectativa de encontrar um sistema que o ajude a monitorar a irrigação da propriedade de 200 hectares em Goiás. A principal exigência é que o produto caiba no orçamento.
“A gente sabe que a falta de água é uma realidade, e que pode piorar. Então, mesmo nessa crise, acaba sendo obrigado a investir em irrigação para não perder tudo o que tem”, diz o agricultor, surpreso com as opções disponíveis na feira.
A que mais chamou a atenção de Sanchez é o sistema que monitora dados climáticos e do solo em tempo real, a partir de equipamentos instalados na lavoura. A central calcula temperatura e umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento, radiação solar, nível de evaporação e umidade do solo em diferentes profundidades.
As informações são disponibilizadas em um aplicativo no celular do produtor rural a cada 15 minutos. A partir daí, é possível determinar a necessidade de irrigação e ainda avaliar se as condições apresentadas são favoráveis ao surgimento de fungos e pragas, evitando perdas.
“Com a variação climática que acontece hoje, talvez não tenha muito valor tomar decisões em cima do que ocorreu no ano passado, no ano retrasado. O sistema permite tomada de decisão em tempo real. Isso é o uso inteligente e racional da água”, diz o gerente da empresa Marcelo Zlochevsky.
Pecuária
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% da água potável do planeta é utilizada na agricultura. Ao mesmo tempo, a pecuária também consome parte considerável desse recurso e, por isso, criadores também buscam na 23ª Agrishow alternativas para economizar água.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% da água potável do planeta é utilizada na agricultura. Ao mesmo tempo, a pecuária também consome parte considerável desse recurso e, por isso, criadores também buscam na 23ª Agrishow alternativas para economizar água.
A principal preocupação é com a destinação dos resíduos gerados pelos animais nas propriedades. Os locais de ordenha, por exemplo, devem ser lavados diariamente e essa água, misturada a fezes e urina dos animais, muitas vezes é despejada no campo.
“O problema é que isso acaba sobrecarregando o solo de matéria de orgânica. O excesso disso acaba indo para o lençol freático e até para os rios e acaba contaminando essa água”, explica Marcos Espósito, gerente de vendas de uma empresa expositora na Agrishow.
O grupo apresenta um equipamento que separa os dejetos da lavagem dos currais em duas partes: uma sólida, que pode ser usada como fertilizante nas lavouras e forragem para o gado, e outra líquida, com ainda mais utilidades.
“A parte líquida vai para o biodigestor e o gás gerado ali é transformado em energia elétrica para a própria fazenda. O líquido restante é usado na lavoura, na forma de irrigação, ou mesmo para lavar as áreas de manejo”, afirma Espósito.
O separador, que também pode ser usado em abatedouros e nas indústrias alimentícia e farmacêutica, custa entre R$ 120 mil e R$ 240 mil. Segundo o gerente de vendas, o investimento é recuperado em até um ano e meio.
“O produtor está percebendo que pode transformar um problema em dinheiro. Economiza água da irrigação e da lavagem dos locais de ordenha, economiza energia elétrica da rede, economiza na compra de fertilizantes e ainda contabiliza aumento de produção”, diz.
Agricultura familiar
Os pequenos agricultores também encontram opções mais acessíveis para economizar água nas lavouras. Uma delas é o irrigador solar desenvolvido pelo físico e pesquisador da Embrapa Washington Luiz de Barros Melo, que pode ser montado no campo por R$ 20.
Os pequenos agricultores também encontram opções mais acessíveis para economizar água nas lavouras. Uma delas é o irrigador solar desenvolvido pelo físico e pesquisador da Embrapa Washington Luiz de Barros Melo, que pode ser montado no campo por R$ 20.
O sistema por gotejamento é montado com quatro recipientes conectados com mangueiras, e é acionado pelo calor gerado pela luz solar. O pesquisador explica que o sistema é controlado pela temperatura do ambiente e pelo nível dos reservatórios.
“Quando o sol vai embora, a pressão diminui e para de funcionar, esse é o princípio. Se chover, fizer frio, fica parado. Quando o sol aparece, ele volta a funcionar, dependendo também da intensidade do calor e da umidade do solo”, explica o pesquisador.
A ideia surgiu há quatro anos, durante as férias de Melo, e o primeiro protótipo foi construído em casa mesmo, com garrafas PET e uma bexiga de aniversário. O modelo foi aperfeiçoado e o atual é capaz de irrigar uma área de 100 metros quadrados.
O pesquisador afirma que o sistema pode ser feito em escala industrial, substituindo as garrafas por reservatórios maiores. No lugar do tanque, o produtor pode usar uma caixa d’água. Já a garrafa de vidro pode ser substituída por recipiente de cobre ou alumínio.
“É só fazer recipientes maiores para acoplar mangueiras maiores. A vazão depende do diâmetro da mangueira e do nível da água no distribuidor e no tanque. Fatalmente, uma bomba com todo o sistema elétrico de irrigação, ainda fica mais caro de que um irrigador solar mais sofisticado”, diz.
Patenteado pela Embrapa, o irrigador solar já é produzido por agricultores em vários estados brasileiros e também em países como Argentina, Angola, Moçambique, Espanha, Rússia, China e Finlândia.
“Eu quero que as pessoas usem. O meu interesse é que mais pessoas usem e me deem retorno, para que o sistema possa ser aprimorado. A água é um produto que vai se tornar cada vez mais caro. Por isso, temos que usar com consciência”, conclui o pesquisador.
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