Embargo da carne brasileira pelos EUA levanta questões sobre o produto
Manejo durante a vacinação contra aftosa volta a ser discutido.
Globo Rural acompanha o caminho da vacina, da fabricação até o frigorífico.
Com a suspensão imposta pelos Estados Unidos à carne bovina fresca brasileira, o manejo realizado durante a vacinação contra a aftosa voltou a ser discutido. Os repórteres do Globo Rural acompanharam em três estados os problemas que envolvem a imunização do gado contra a febre aftosa: a produção da vacina, a fiscalização nos frigoríficos e a vacinação correta no campo.
A vacinação cocorre em todos os estados brasileiros, com exceção de Santa Catarina, que desde 2007 é considerado pela Organização Mundial de Saúde Animal um estado livre de aftosa sem vacinação. Em Mato Grosso, na recente campanha de maio, foram vacinados mais de 30 milhões de animais.
Os técnicos do Instituto de Defesa Agropecuária do MT (Indea) explicam que, durante todo o manejo, as vacinas devem ser mantidas em baixa temperatura, entre 2ºC e 8ºC. Na propriedade, é fundamental o cuidado com a limpeza da pistola e das agulhas, o que evita também a contaminação das doses que ainda estão no frasco. “O ideal seria trocar a agulha a cada animal, mas dependendo do manejo dentro da propriedade com muitos animais, trocar a cada dez animais seria o ideal”, explica o médico veterinário do Indea, Felipe Peixoto de Arruda.
As agulhas são limpas com uma solução desinfetante ou em água fervente, como acontece em uma propriedade em Rondonópolis, no Mato Grosso, que tem um rebanho de quase três mil animais. Animais conduzidos sem violência até os currais ficam mais calmos e quando contidos em troncos garantem uma vacinação com mais qualidade. É o que afirma a zootecnista Fernanda Macitelli: “Depois de contido o animal, deve se abrir a porta lateral, perto do pescoço, puxar a pele e aplicar com a agulha paralela ao corpo do animal”.
Controle e inspeção
Em um frigorífico em Rochedo, em Mato Grosso do Sul, é possível ver como é feito o controle. Quando os bovinos chegam ao frigorífico e são separados por lotes, fica fácil perceber como a reação da vacina é comum. Animais de vários criadores apresentam os mesmos problemas.
Em um frigorífico em Rochedo, em Mato Grosso do Sul, é possível ver como é feito o controle. Quando os bovinos chegam ao frigorífico e são separados por lotes, fica fácil perceber como a reação da vacina é comum. Animais de vários criadores apresentam os mesmos problemas.
Na indústria, as carcaças passam por uma varredura. É uma rotina padronizada para a detecção inicial de qualquer tipo de contaminação na carne e os abscessos são os mais encontrados. Às vezes mais de um por animal.
São quatro procedimentos de inspeção: dois na linha de abates e outros dois após o resfriamento da carne. Os funcionários vistoriam peças que podem conter um abscesso escondido e fazem a retirada de toda a parte comprometida.
Do abate à desossa, a fiscalização é feita por funcionários do Ministério da Agricultura e da Indústria. Existe uma atenção especial aos quartos dianteiros, onde é aplicada a vacina. “Chegando na desossa, todos os quartos sofrem uma reinspeção no ponto específico, onde o colaborador da garantia da qualidade faz a verificação desse quarto”, explica Luiz Antônio Almeida Barbosa, responsável técnico da indústria.
A partir de agora, a limpeza das peças deve ser mais rigorosa. O Ministério da Agricultura já enviou aos estados as novas medidas de controle de contaminação e de reinspeção pelos agentes do serviço federal. “Para o estabelecimento, ele deve olhar agora 100% dos quartos que entrar na desossa. Não só reinspecionar, como registrar, o que não era sempre uma prática. Por exemplo, a empresa podia reinspecionar cortes de duas em duas horas”, afirma Régia Paula Queiroz, veterinária do SIPOA.
Reações à vacina
Mesmo com o manejo correto o abscesso pode se formar. Na Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo, o rebanho foi vacinado contra aftosa há pouco mais de um mês. O veterinário Enrico Ortolani explica a reação na pele dos animais: “Tem uma reação do mês de novembro do ano passado e uma reação que ocorreu na vacinação do mês de maio. É um tecido bem fibroso que o animal reage, tem um pouco de dor. Isso não acontece pelo manejo, porque cada animal que nós vacinamos foi tomada toda a precaução, com uma agulha por animal, tomando todos os cuidados de higiene. Então, isso prova que o problema não era de contaminação. Esse tipo de tecido é provocado como se fosse uma reação alérgica retardada".
Mesmo com o manejo correto o abscesso pode se formar. Na Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo, o rebanho foi vacinado contra aftosa há pouco mais de um mês. O veterinário Enrico Ortolani explica a reação na pele dos animais: “Tem uma reação do mês de novembro do ano passado e uma reação que ocorreu na vacinação do mês de maio. É um tecido bem fibroso que o animal reage, tem um pouco de dor. Isso não acontece pelo manejo, porque cada animal que nós vacinamos foi tomada toda a precaução, com uma agulha por animal, tomando todos os cuidados de higiene. Então, isso prova que o problema não era de contaminação. Esse tipo de tecido é provocado como se fosse uma reação alérgica retardada".
Até meados da década de 90, a vacina era aquosa e tinha que ser aplicada de três a quatro vezes ao ano. Os laboratórios, então, desenvolveram a vacina oleosa, que só precisa ser aplicada duas vezes por ano, simplificando o manejo dos rebanhos. A vacina oleosa tem componentes, os chamados adjuvantes, que causam uma pequena inflamação para estimular a produção de anticorpos. O efeito dela dura mais tempo, mas segundo Ortolani, essa vacina também pode provocar edemas.
O Sindicato da Indústria de Produtos Animais (Sindan) nega que a vacina seja a responsável pela suspensão à carne fresca brasileira, mas adianta que a fórmula está sendo alterada. “Nós temos uma vacina atual, com volume de 5ml, com três cepas: O, A e C. A cepa C erradicada do país será retirada já a partir de agosto na vacina. E a partir de abril do ano que vem, estaremos também reduzindo o volume de dose para 2ml. Isso pode melhorar o nível de reação. Teremos a vacina mais adequada para essa fase do problema de erradicação da aftosa no Brasil”, garante Emílio Salani, vice presidente Sindan.
Em um depósito em Vinhedo são armazenadas mais de 200 milhões de doses da vacina a cada ciclo. Elas abastecem todo o país. De cada lote da vacina, saem duas amostras para testes: uma vai para o laboratório oficial do Ministério da Agricultura e a outra para checagens de campo, em uma fazenda também do Ministério, no Rio Grande do Sul. Durante esse processo, os lotes ficam bloqueados na quarentena.
Só depois da liberação em testes é que os frascos recebem um selo, a marca de que a vacina foi aprovada para uso e está rastreada. Apesar desse controle, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luis Rangel, anunciou uma investigação complementar: “A ideia é que em 60 dias nós consigamos ter um panorama total do processo, reavaliando os controles de qualidade das empresas e checando as informações de fiscalização”.
Desde o início do ano, o governo americano barrou mais de 4,5 mil lotes de carne fresca de diferentes países. Só da Austrália, que exporta muito mais que o Brasil, foram mais de duas mil devoluções. O motivo, em geral, são problemas no transporte ou certificação. O Brasil teve 158 lotes devolvidos até o fim de maio, mas o Departamento de Agricultura apontou defeitos além dos permitidos, uma ocorrência de patógeno, que pode estar em abscessos ou outros tecidos, e outra de materiais desconhecidos na carne.
Uma missão técnica do Ministério da Agricultura vai aos Estados Unidos em julho discutir a questão do embargo.
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