29/12/15 - 00:00
No jardim de casa, o engenheiro agrônomo Adolfo Corrêa, 72 anos, cultiva as uvas cabernet sauvignon e sirrah e faz a alegria de amigos e familiares produzindo o próprio vinho. A cena seria comum caso fosse imaginada no Planalto Serrano, região que tem apostado no enoturismo e na produção de vinhos nos últimos anos. Mas todo o processo artesanal feito por Adolfo ocorre em um local incomum para o cultivo de uvas: Florianópolis, no bairro João Paulo, bem perto do mar.
A peculiaridade do local para o cultivo das uvas exige do engenheiro um cuidado especial com as frutas. Os parreirais que tomaram conta de 200 metros quadrados do jardim de sua casa demandam atenção diária que só um amante de vinhos como Adolfo tem.
“As uvas sofrem muito aqui por causa da alta umidade e do calor. Ou seja, tudo que elas gostariam de não ter. Por isso, fico sempre medindo o teor do açúcar, controlando o dia certo para a colheita e faço todo o manejo que permite a uma pequena quantidade poder produzir o vinho”, explica ele, que usa a água da chuva para irrigar as plantas do vinhedo.
O primeiro plantio de uvas viníferas feito por Adolfo foi em 2011. A primeira colheita veio dois anos depois, em 2013, quando foram produzidas cerca de 40 garrafas do vinho Flórida a partir de uvas sirrah. No ano seguinte, com cortes de merlot, mais 80 garrafas foram produzidas e mais 40 estão em maturação para a safra 2015.
Adolfo faz todo o processo sozinho e dentro de casa. No jardim, ele planta as uvas, controla as pragas e o açúcar das plantas. Depois, colhe os cachos, separa uva por uva e, na garagem de casa, esmaga, faz o caldo e as coloca em tanques inoxidáveis.
“Aí começa o processo de fermentação e levo o vinho para a adega para controlar a fermentação alcoólica”, explica ele.
Com aproximadamente um ano de idade, os vinhos são engarrafados, rotulados e dispostos na adega, em um espaço propício para receber os amigos para uma degustação.
Uma vida de relação com o vinho
A paixão de Adolfo por vinhos começou ainda na infância. Natural de Tubarão, ele observava os vizinhos a sua volta produzirem vinhos no quintal de casa no Sul do Estado.
“No Sul é difícil um lugar que você vá e não tenha uma parreira, sempre tem alguém fazendo vinho e é assim até hoje. Todo mundo tem um pezinho de uva”, diz ele.
O tempo passou, Adolfo se formou como engenheiro agrônomo, morou em várias cidades de Santa Catarina e em outros Estados, e a paixão por vinhos sempre o acompanhou. Na década de 1990, com um grupo de amigos, começou a fazer parte do Clube do Vinho de Florianópolis, do qual foi presidente.
“Foi uma forma excelente de poder conhecer mais e melhor os vinhos não só do país como os de fora”, comenta ele.
Apesar de trabalhar com agronomia, as uvas nunca passaram pelas mãos de Adolfo como engenheiro. Ao longo dos anos, ele viu a serra catarinense ganhar status de produtora de vinho e a valorização de seu Estado alçar fama na produção nacional da bebida e dar início ao enoturismo, aposta certeira, na avaliação do enófilo.
“Acho admiráveis esses empreendedores com paixão. Eles se lançaram a produzir vinhos de qualidade, investindo muito em tempo e recursos. Viajam, experimentam e têm um valor enorme para o Estado, por que temos um potencial de desenvolvimento da região muito grande tanto para o turismo quanto para a economia da própria região”, avalia ele.
Motivação de apreciador
As uvas cultivadas por Adolfo em Florianópolis, cabernet sauvignon e sirrah, são dois tipos comuns na serra catarinense. Dos cerca de cem pés de uvas em seu quintal no João Paulo, hoje só são produzidos vinhos tintos. Do total de frutas colhidas, 60% são cabernet e 40% sirrah.
Além da diferença do terroir (local que abriga solo e clima ideais para a produção de vinhos), a colheita na Ilha precisa ser adiantada quando comparada à serra.
Enquanto que lá, as uvas estão prontas por volta de março ou abril, na Capital elas precisam ser colhidas em janeiro para não serem expostas a um período tão grande de sol e calor. Apesar da dificuldade, Adolfo fica satisfeito de estar plantando e colhendo no quintal de casa e realizar um sonho antigo.
Ainda não passa pela cabeça dele produzir vinhos como negócio. O que ele quer mesmo é continuar a produzir o “verdadeiro vinho de garagem”, como diz, movido por uma forte motivação de um apreciador de vinhos.
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