sexta-feira, 29 de maio de 2015
Opinião: Embutidos
29/05/2015 13h06 - Atualizado em 29/05/2015 13h06
Opinião: Embutidos
O custo de compliance representa mais de 5% do custo da soja em MT.
Com dólar novo, espera-se uma rentabilidade muito baixa.
Ciro Antonio Rosolem
Especial para o Agrodebate
Você sabe o que é custo de compliance? Belo nome! Deve ser assim uma coisa como um carrão, caro, vistoso, potente. Ou um novo modelo de colhedeira. Talvez um primo do GPS. Só que é um pouco pior: trata-se dos custos incorridos para cumprir a legislação, seja tributária, trabalhista, ambiental, ou seja, custo “embutido”. Nem sempre levado em conta pelos produtores rurais. Mas estão lá! A Scott Consultoria estima que pode variar de R$ 150,00 a pouco mais de R$ 500,00 por hectare em produção. Não é pouco.
Por exemplo, o custo médio de produção de um hectare de soja para a próxima safra está estimado de R$ 2.700,00 a R$ 3.000,00 pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Ou seja, o custo de compliance representa mais de 5% do custo da soja. Só para lembrar, o custo de consultoria não costuma passar de 3%. Pagamos mais pelos custos embutidos que pelo conhecimento.
Muito bem. Estamos terminando uma safra que foi, no mínimo, emocionante. Os custos de implantação foram em dólares do ano passado, o valor de venda no dólar atual. Os custos estavam muito apertados. Apertados mesmo. Salvos pelo gongo da desvalorização cambial e das produtividades generosas (viva São Pedro). Mas, e a próxima safra? Com dólar novo, espera-se uma rentabilidade muito baixa. Talvez não suficiente para pagar o arrendamento! Na verdade, a perspectiva não é boa para as duas próximas safras.
Como fazer? O preço, por se tratar de commodities, não dá pra mudar. Como cortar custos? Usar menos tecnologia? Isso leva a menor produtividade e maior custo por unidade produzida, maior prejuízo. Diminuir a área? E como pagar as dívidas que ficaram para trás?
Vejo dois caminhos principais que não são e não devem ser excludentes. É chegada a hora da verdade. Um deles depende só do agricultor. Sabe aquele talhão que sempre produz pouco? Aquele mais arenoso? Está na hora de acabar a brincadeira de produzir em solo sem aptidão para culturas anuais. É melhor não produzir em áreas que resultam em prejuízo. Sempre há uma Reserva Legal ou APP a compensar. Agora é a hora! É hora de jogar na retranca. Empate é bom!
O outro caminho depende de nossos governantes. É passado o tempo de diminuir os custos de compliance. É fundamental adequar a legislação trabalhista à realidade das fazendas. É preciso reestudar a política tarifária. É fundamental que se comece a pagar o agricultor pelos serviços ambientais, de modo a assegurar a implantação da legislação ambiental sem onerar inocentes. É hora de se tomar providências para diminuir drasticamente estes custos “embutidos”, que corroem, como cupim, o interior das finanças do agricultor.
Ciro Antonio Rosolem é vice-presidente de estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).
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