sábado, 30 de maio de 2015

Nova Zelândia foi o último lugar do mundo a ser descoberto pelo homem

Edição do dia 29/05/2015 29/05/2015 23h24 - Atualizado em 29/05/2015 23h58 Nova Zelândia foi o último lugar do mundo a ser descoberto pelo homem País tem hoje um dos maiores índices de desenvolvimento humano do planeta, além de diversos projetos de recuperação do meio ambiente. GLOBO REPORTER
Uma natureza única! O isolamento favoreceu o arquipélago da Nova Zelândia. Longe de tudo, longe de todos, durante milênios as ilhas estiveram protegidas. A Nova Zelândia é conhecida no mundo inteiro pelo vento que não para nunca e também pela criação de ovelhas - são mais de 30 milhões, quase dez vezes a quantidade de habitantes do país. Em uma fazenda, como em muitas outras, elas vivem em um paraíso à beira-mar. Durante muito tempo, a criação de ovelhas foi a principal atividade econômica do país - herança dos primeiros colonizadores que vieram da Inglaterra, para onde a carne era exportada. A vida selvagem frágil sofreu com a ocupação humana. Antes dos ingleses, os primeiros habitantes daquelas terras foram povos que migraram de ilhas da Polinésia há mais de 800 anos para o arquipélago da Nova Zelândia. Os Maoris, como hoje são conhecidos, foram atrás terras para a agricultura. E as focas eram o principal alvo das caçadas. Hoje a vida está renascendo na Nova Zelândia. Os animais eram caçados ao longo de séculos e séculos, até chegar ao ponto de não ter mais nenhuma foca lá. O berçário estava vazio, até que a caça foi proibida e a natureza reagiu. O lugar conhecido como piscina sagrada não poderia ter nome melhor. Lá os bebês focas aprendem a pescar os primeiros peixinhos. Os povos nativos usavam a carne, a pele e os ossos destes animais para fazer roupas e utensílios. Desde 1946 a caça está proibida. Enquanto os filhotes brincam na piscina, as mamães ficam ao redor tomando conta dos bichinhos. Projeto ambiental protege animais vulneráveis da Nova Zelândia Mas como ajudar animais ainda mais vulneráveis? É o que a Nova Zelândia está tentando fazer. O país tem hoje um dos maiores índices de desenvolvimento humano do mundo. Na maior cidade, Auckland, 1,5 milhão de pessoas. A Nova Zelândia foi o último lugar do mundo a ser descoberto pelos seres humanos. Quando eles chegaram lá, não havia mamíferos: macacos, onças, nem ratos. Praticamente não havia predadores. Por outro lado, eram inúmeras as espécies de pássaros: era o paraíso das aves. As aves reinavam. E muitas delas, na sua longa evolução, deixaram de voar. Nem precisavam: não havia perigos! A poucos quilômetros de Auckland, a equipe do Globo Repórter conheceu um projeto ambiental ambicioso, que está recuperando um pedaço do país. O objetivo é reconstituir o meio ambiente, como ele era antes da chegada dos seres humanos. Tiritiri Matangi. Uma ilha na entrada da baía de Auckland. O anfitrião, John Stewart, nos leva em um dos dois únicos veículos da ilha. Ele coordena os trabalhos em Tiritiri. Ele conta que foram levadas para lá 12 espécies de animais ameaçados. E os nomes são pra lá de engraçados: um deles é Pukeko, que hoje se espalhou pela ilha. Outro é o Takahe. Lá só existem quatro casais. As aves têm transmissores que ajudam os pesquisadores a acompanhar cada passo que elas dão. O pessoal lá consegue monitorar cada um deles, saber onde eles estão, onde estão fazendo os ninhos, quando eles trocam de par para fazer o acasalamento, e também quando eles morrem, o que é uma pena, por que só existem 270 animais destes em toda a natureza. Tão raros, botam ovos uma vez por ano, e apenas dois. Há 300 anos, nos barcos que levaram os europeus para lá, vieram ratos, a principal ameaça aos ovos e filhotes destas aves terrestres. Hoje, depois de três décadas de trabalho, a ilha de Tiritiri Matangi é um lugar seguro para elas. Havia uma época em que a ilha era utilizada para a criação de animais. Chegou um ponto em que praticamente já não havia mais vegetação. A ilha também era usada para sinalizar para os navios que se aproximavam de Auckland. Em uma casa de apoio do faroleiro, um rádio antigo, instrumentos de meteorologia, bandeiras de sinalização. No restante da ilha, no lugar dos campos desmatados, uma imensa floresta. John conta que foi um longo caminho até que a terra fosse novamente coberta pela vegetação. “Gado e ovelhas foram criados aqui pelos europeus durante cem anos. Toda a vida nativa desapareceu. Mas em 1970, o governo decidiu transformar a ilha em uma reserva natural. O arrendamento da terra expirou e o fazendeiro teve que sair, levando tudo”, afirma John Stewart, presidente da associação de voluntários Tiritiri Matangi. Mas a recuperação teria ainda uma nova batalha. A eliminação dos ratos que impediam a reintrodução das aves ameaçadas. “Com um helicóptero foi jogado veneno em toda a ilha, e os ratos foram dizimados. Voluntários conseguiram permissão para criar um viveiro de plantas nativas. Em um período de dez anos, de 84 a 94 foram plantadas 280 mil árvores”, conta John. Uma voluntária daquela época ainda está por lá. Diana de 90 anos, anota no calendário os dias que virá trabalhar nos próximos meses: todas as quintas-feiras. “Eu estou como guia há nove anos. Antes disso eu morava mais longe e a gente costumava vir acampar e plantar árvores. Quando eu me mudei para Auckland decidi vir e me tornar uma voluntária”, diz Diana Dombroski. O tesouro de Diana é Tiritiri Matangi. Passaria ainda mais tempo lá se pudesse. Como não pode morar, vai sempre para trabalhar. “É um sentimento maravilhoso estar numa ilha onde a natureza é como ela deveria ser”, diz ela. Todos os dias, centenas de visitantes chegam a Tiritiri para aprender sobre história, voluntariado, preservação. Victoria e Rachel vêm também, mas para pesquisar um pequeno pássaro chamado Hihi. “É importante que a gente mantenha um olho neles, para saber como está a população, para termos certeza que podemos levá-los e aumentar a quantidade de pássaros em outros lugares”, diz a bióloga Rachel Shepherd. Já Victoria Frank diz que está muito honrada de estar lá. “Eu vim do Reino Unido para fazer o meu trabalho de campo. É um lugar muito especial para trabalhar”, afirma a bióloga. Assim, a Nova Zelândia tenta proteger o seu maior símbolo. O Kiwi, uma das espécies mais ameaçadas pelo desmatamento e pelos animais invasores. O nome foi emprestado de uma fruta: kiwi. Uma fruta que veio da China, mas que é um símbolo na Nova Zelândia. As pessoas que nascem no país são chamadas de kiwis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário