quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Pesquisa comprova uso da batata-doce na geração de álcool
Estudo inédito no Estado, liderado pela Fepagro, será lançado no início de 2016
Alimento tradicional da culinária do Rio Grande do Sul, seja cozida, frita ou assada, a batata-doce alcança um novo patamar com pesquisa inédita no Estado, feita pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Até então restrito à mesa dos gaúchos, o produto, com grande volume de biomassa, passa a também ser transformado em álcool. "É considerado de superior qualidade para componentes farmacológicos, bebidas especiais e combustão", explica o pesquisador Zeferino Genésio Chielle (64), que está à frente do estudo pela Fepagro Vale do Taquari - Centro de Pesquisa Emílio Schenk.
O processo de avaliação do potencial da batata-doce levou cerca de dez anos e contou com a parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que fez as análises em laboratório. A descoberta, por enquanto, permanece sob a tutela da Fepagro, mas tem previsão de lançamento no início do ano que vem, na Expoagro Afubra .
A partir daí, conforme Chielle, o projeto poderá se transformar em realidade se houver interesse político e da iniciativa privada, mas já é uma ideia "semeada" entre os agricultores. "A batata-doce pode ser aproveitada integralmente, tanto a parte aérea como os tubérculos. Muito resíduo é desperdiçado", esclarece o pesquisador. Além disso, o álcool processado a partir da batata-doce é uma bioenergia, por ser totalmente renovável.
No Estado, a matéria-prima, não é o problema, tendo em vista que a cidade de Mariana Pimentel, na região Metropolitana de Porto Alegre, se destaca por ser a maior produtora de batata-doce no Brasil são cerca de mil hectares. "A propriedade agropecuária é uma indústria muito complexa. A evolução e o desenvolvimento dependem da sabedoria do seu dono ou usuário", frisa Chielle.
Outra vantagem do processamento da batata-doce é a quantidade de álcool produzida e a utilização da terra para o cultivo de outros alimentos. De acordo com o pesquisador, uma tonelada de tubérculos pode gerar de 160 a 180 litros de etanol. O principal: tudo isso em quatro meses, que é o tempo do cultivo da batata-doce, do plantio à colheita. "Isso dá três vezes mais do que a cana-de- açúcar por hectare", observa. Em um ano, a batata-doce tem capacidade de processar 27 mil litros, enquanto a cana-de-açúcar tem oito mil.
Farinha e farelo de mandioca e batata-doce
O pesquisador Zeferino Chielle atua na Fepagro Vale do Taquari desde 1978. Mestre em Produção Vegetal, ele se dedica a pesquisar as potencialidades, além da batata-doce, do sorgo, mandioca e agroprocesso.
Além do álcool, ele descobriu, por meio do seu trabalho, que a raiz e a parte aérea da mandioca e da batata-doce podem se transformar em ingredientes como farinha para pão, farelo para ração animal, entre outros. "O objetivo é o aproveitamento integral das culturas para evitar o desperdício, tendo em vista a alta capacidade nutricional de toda a planta", destaca.
Saiba mais
Criado em 1929, o Centro de Pesquisa Emílio Schenk Fepagro Vale do Taquari é um dos mais antigos em atividade no país. Historicamente, foi pioneiro e desenvolveu diversas pesquisas, ações de fomento e ensino principalmente na área de citricultura.
Em 1994 incorporou a área do Parque Apícola de Taquari, que foi pioneiro na apicultura racional no país, através das pesquisas de Emílio Schenk. Num período mais recente, passou a contar também com pesquisas nas áreas de sorgo, mandioca e agroprocesso, contando com coleções de variedades destas culturas. Atualmente, a área é de aproximadamente 460 hectares, em sua maior parte constituída de mata nativa e maciços de eucalipto. A Fepagro Vale do Taquari está localizada no 1º Distrito de Fonte Grande, em Taquari.
Projeto semelhante no Tocantins
A Universidade Federal do Tocantins (UFT), após 12 anos de pesquisa e de vários testes, construiu uma usina de álcool feita a partir do processamento da batata-doce. A inauguração foi em março deste ano, em Palmas, Tocantins, e é resultado de um convênio da universidade com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
O projeto para a implantação da usina nasceu em 1996, através de um projeto de pesquisa elaborado pelo professor Márcio Antônio da Silveira, com um investimento inicial de R$ 20 mil, feito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Hoje, o projeto conta com um aporte financeiro de R$ 1,2 milhão e envolve em média 44 profissionais, sendo 25 doutores, nove alunos de mestrado e dez acadêmicos de graduação. A capacidade total da usina é de três mil litros de etanol por dia.
Data de Publicação: 12/08/2015 às 13:45hs
Fonte: FEPAGRO
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