quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Soldado admite vazamento para WikiLeaks
Em depoimento militar, Bradley Manning assume ter entregado ao site centenas de milhares de telegramas sigilosos
Ex-analista pode ser condenado a 20 anos pelo que já confessou; preso desde 2010, ele diz sofrer maus-tratos
LUCIANA COELHODE WASHINGTON
O recruta Bradley Manning, 25, admitiu ontem a um tribunal militar que entregou centenas de milhares de telegramas militares e diplomáticos sigilosos ao site WikiLeaks, que os expôs na internet em 2010 e causou constrangimento ao governo dos EUA.
Ao declarar-se culpado de dez delitos menores referentes à má administração de material sigiloso, ele afirmou que queria "fazer do mundo um lugar melhor" e detonar um debate sobre diplomacia -o que acabou conseguindo.
"Acreditei que se o público em geral, sobretudo o americano, tivesse acesso à informação, isso poderia dar início a um debate doméstico sobre o papel dos militares e da política externa", disse em depoimento lido ao tribunal.
"Ninguém na organização WikiLeaks pressionou pelo envio de informações. Assumo responsabilidade total."
Pelos delitos que confessou, o ex-analista militar no Iraque pode ser condenado a 20 anos de prisão. O processo, porém, inclui acusações mais graves, como espionagem e auxílio ao inimigo.
Segundo Manning, ele primeiro tentou contatar o jornal "Washington Post" em janeiro de 2010 para publicar o material, mas avaliou que o repórter contatado estava desinteressado. Depois, deixou uma mensagem de voz ao ombudsman do "New York Times", que não o procurou.
Acabou optando pelo WikiLeaks, um site de ativismo que já divulgara filmagens sigilosas de operações americanas no Iraque, e enviou os primeiros arquivos do café de uma livraria em Maryland.
Manning, um rapaz franzino para o padrão militar e que aparenta menos idade, foi preso em maio de 2010 e acusa seus detentores de mantê-lo confinado em solitária, vítima de maus-tratos. Está sendo julgado há um ano por corte marcial em Fort Meade, no Estado de Maryland.
Seu caso atraiu a atenção da mídia nacional e internacional, e seu nome passou a ser celebrado por ativistas como uma espécie de herói da liberdade de informação.
Embora os telegramas diplomáticos que entregou ao WikiLeaks não tenham revelado segredos de Estado, o vazamento é tratado como o maior da história dos EUA e deixou diplomatas americanos -e do mundo todo- em saias justas ante a revelação de procedimentos e conversas em linguagem franca.
O WikiLeaks começou a publicar os documentos em fevereiro de 2010, primeiro em parceria com jornais de vários países, incluindo a Folha.
O site, que teve suas finanças estranguladas por medidas americanas, é coordenado por Julian Assange, hoje asilado pelo Equador para escapar de um mandado de prisão sueco referente a acusações de agressão sexual que emergiram quando o escândalo do vazamento crescia.
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