segunda-feira, 28 de abril de 2014
28/04/2014 - 09:39
28/04/2014 - 09:39
INPE: Novo sistema vai prever mudanças climáticas na América do Sul
Ocepar
A partir de maio, o Brasil começará a disseminar os cenários de mudanças climáticas globais que serão produzidos a partir de seu próprio modelo do sistema climático global. O sistema vai apresentar informações relevantes e mais precisas sobre as condições climáticas da América do Sul, hoje ausentes dos modelos globais gerados por outros centros de pesquisa estrangeiros.
Inpe - O desenvolvimento desse modelo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com 17 instituições, mobilizadas pela Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima).
Sofisticado - Segundo o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, o modelo brasileiro é muito sofisticado e da mesma classe do inglês Hardley, utilizado hoje no país. "Por ser desenvolvido no Brasil, teremos mais agilidade para ajustar esse modelo para as questões climáticas da América do Sul, do Atlântico e do Pacífico", diz.
Simulação confiável- Nobre explica que a maioria dos modelos utilizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para as previsões sobre as condições climáticas da Amazônia, por exemplo, não consegue fazer uma simulação confiável para o regime de chuvas da região. "Chamamos isso de erro sistemático, mas todos os modelos que nós usávamos no Brasil também tinham esse defeito."
Volume menor- Devido a esse erro, era indicada a ocorrência de um volume de chuvas menor do que o que acontecia na realidade, fato relacionado aos ventos do Atlântico, que mudam muito as temperaturas e as correntes na região amazônica. No novo modelo, isso foi corrigido, afirma Nobre.
Investimento - A Rede Clima, de acordo com Nobre, investiu R$ 15 milhões no desenvolvimento do novo programa de modelagem do clima global. A compra do supercomputador Tupã, em 2010 - o ministério investiu R$ 35 milhões, e a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) outros R$ 15 milhões - também foi fundamental para viabilizar o projeto.
Países - Atualmente, segundo Nobre, apenas 11 países, incluindo o Brasil, possuem esse tipo de modelo para previsão climática. A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República também ajudou a financiar o projeto do Inpe, com R$ 2 milhões, via Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). "O que o Inpe vai fazer agora é colocar uma lente sobre o Brasil. A partir de maio vamos trabalhar com três modelos: o brasileiro, o japonês e o inglês, que já era utilizado", disse o subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE, Sergio Margulis.
Melhor entendimento- O modelo brasileiro, segundo Nobre, vai permitir ainda um melhor entendimento dos ciclos de carbono continental e oceânico, a dinâmica de fogos em pastagens, florestas e culturas agrícolas, assim como as secas no Nordeste e as enchentes no Sul do país e o efeito das queimadas no clima.
Eventos extremos- Quanto às previsões sobre eventos climáticos extremos, como o que aconteceu recentemente no Reino Unido, que registrou recorde de chuvas no inverno, Nobre diz que os modelos existentes hoje ainda não são capazes de fazer. "Hoje, nenhum modelo consegue estabelecer estatísticas confiáveis de fenômenos climáticos extremos. Ainda não temos recursos computacionais para fazer isso", afirma Nobre. "Os modelos atuais fazem cerca de dez simulações de cenários, mas precisaríamos aumentar este número para cem, para obter dados mais confiáveis sobre esses extremos. "
Amazônia - Em relação à Amazônia, o aquecimento global já teria provocado aumento de um grau na temperatura da região, segundo dados do IPCC. "A sequência de extremos climáticos que observamos na Amazônia em 2005 e 2010, quando houve uma superseca, e em 2009 e 2012, com supercheias, indicam a influência provável do aquecimento global", afirma Nobre. Os cenários futuros de mudanças climáticas para a Amazônia, segundo ele, mostram uma tendência de ocorrência de novos extremos de chuva e de seca na região.
Estudo multissetorial- As informações produzidas pelo modelo brasileiro também vão subsidiar o estudo multissetorial que a SAE está desenvolvendo para medir os prováveis impactos das mudanças climáticas sobre as atividades humanas no Brasil até 2040. O objetivo, segundo Margulis, é identificar e discutir estratégias alternativas de adaptação às consequências das mudanças do clima sobre a saúde humana, a agricultura, a energia e a infraestrutura urbana, costeira e de transportes.
Recursos hídricos- A primeira análise a ser desenvolvida sobre o tema, de acordo com Margulis, está relacionada ao impacto das mudanças climáticas nos recursos hídricos. "O que aconteceu em São Paulo [a falta de chuvas e redução recorde do nível dos reservatórios] não foi uma surpresa. Os fenômenos climáticos estão ocorrendo com maior frequência e os danos ambientais aumentam de intensidade", disse.
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