segunda-feira, 1 de abril de 2013

Banco do Brics chega com promessas e dúvidas

por John Fraser, da IPS Para os sindicalistas sul-africanos, o novo Banco de Desenvolvimento do Brics deve ter entre suas metas a geração de empregos. Foto: Chris Stein/IPS Johannesburgo, África do Sul, 1/4/2013 – O banco que os chefes de Estado e de governo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) acordaram criar para promover o desenvolvimento e a infraestrutura é visto com ceticismo por alguns, segundo os quais não terá o efeito esperado. “Não creio que terá muito impacto na África do Sul, onde o capital não é um problema, mas sim a política”, disse à IPS o subchefe-executivo do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais, Frans Cronje. A constituição da entidade financeira foi aprovada na quinta cúpula do Brics, realizada nos dias 26 e 27 de março, na cidade sul-africana de Durban. Há preocupação porque alguns detalhes fundamentais ainda devem ser acordados. Analistas dizem que as operações do novo Banco de Desenvolvimento do Brics deverão ser acompanhadas muito de perto para se conseguir um impacto real no sul. “Esta nova instituição será muito menor do que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), por isso sua influência será marginal comparada com o dessas instituições”, apontou Cronje. A ideia com que se lida é que todas as nações do Brics contribuam com US$ 10 bilhões para o capital inicial do banco. Mas Cronje considera “estranho” a África do Sul também pagar essa quantia, considerando que representa apenas 2% do produto interno bruto do grupo. “Este é um projeto presunçoso para a África do Sul? Afastar-se do equilíbrio do Banco Mundial e do FMI é simples romantismo ideológico?”, questionou. Já está claro que o banco se concentrará em projetos de infraestrutura, mas ainda há incerteza sobre vários detalhes, incluindo seu alcance geográfico, o lugar onde ficará sua sede central e a moeda, ou moedas, com a qual vai operar. “A primeira atenção do banco será a infraestrutura, e assim deve ser”, disse à IPS o economista independente Mike Schussler, de Johannesburgo. “Haverá discussões sobre onde colocar o dinheiro, pois tanto África do Sul quanto Brasil, Rússia e Índia necessitam de infreaestrutura, e haverá carência de fundos”, alertou Schussler. “Assim, o desafio será ver até quanto pode se comprometer com os recursos, que são inicialmente escassos”, indicou. Memory Dube, pesquisadora do não governamental Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, afirmou que a decisão dos Brics de criar um banco foi um passo “significativo” do grupo em sua evolução para uma aliança sólida e sustentável. “Proporciona institucionalização ao Brics, que até agora era uma agrupação pouco estruturada, e unirá mais os seus membros”, previu. “Esta é uma instituição que pertence ao Brics e será administrada pelo Brics. Não há dúvida de que o grupo continuará existindo dentro de dez ou 20 anos. Isto é algo tangível”, declarou à IPS. No entanto, o porta-voz do Congresso de Sindicatos Sul-Africanos, Patrick Craven, mostrou-se cauteloso sobre a criação do banco. “É muito cedo para fazer uma avaliação. Queremos saber sobre muitos detalhes a respeito de como vai operar e quem o dirigirá”, acrescentou. “Insistiremos em que seu mandato seja muito diferente em relação ao do Banco Mundial e do FMI, que são utilizados para reforçar o domínio das economias da América do Norte e Europa ocidental, e têm um efeito muito negativo nos países em desenvolvimento ao impor condições para os empréstimos”, afirmou. Para ele, o novo organismo do Brics “deverá promover o desenvolvimento, a industrialização e a criação de empregos”. O empreendedor Sandile Zungu é um dos cinco delegados sul-africanos que ocuparão o novo Conselho de Negócios do Brics, também lançado na cúpula de Durban. “No geral, os projetos de infraestrutura na África do Sul e no resto da África têm o potencial de beneficiar um ou mais países do Brics”, disse à IPS por telefone, de Durban. “Com o novo Banco de Desenvolvimento do Brics, esses projetos terão melhores possibilidades de obter financiamento do que com o Banco Mundial. Haverá maior reserva de fundos”, opinou. No entanto, Dube disse estar ansiosa para saber onde ficará a sede central do banco. A África do Sul expressou seu interesse em ser a sede, mas a China é outro forte candidato. Porém, Zungu acredita que a África do Sul é a melhor opção entre as nações do Brics. “Pode-se dizer que a África do Sul tem o melhor sistema de serviços financeiros de todos os países do Brics, e o Banco Mundial o corrobora. Também estamos mais perto da área necessitada de desenvolvimento de infraestrutura”, destacou. Dube também disse desejar conhecer mais detalhes sobre o novo banco. “Se sua estrutura for adequada, poderá fazer uma grande diferença”, afirmou. A especialista destacou a importância da estrutura de financiamento do novo organismo. “Ouvimos que cada país do Brics contribuirá com US$ 10 bilhões. Mas, será o suficiente? Também quero saber mais detalhes da estrutura de tomada de decisões” da nova instituição, pontuou. “Além disso, precisamos ver as regiões onde vai operar. Será para todas as nações em desenvolvimento ou apenas para os membros do Brics? Depois, temos que ver quais serão suas prioridades de investimento e com qual moeda vai operar. Será o dólar norte-americano ou as nações do Brics decidirão operar com suas próprias moedas?”, perguntou Dube. Envolverde/IPS (IPS)

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