quarta-feira, 2 de abril de 2014
02/04/2014 - 12:48
02/04/2014 - 12:48
Queda de preços encolhe superávit em março
Valor Econômico
O recuo na exportação de petróleo em março voltou a frustrar a expectativa de melhor desempenho do produto para a balança comercial deste ano. Ao mesmo tempo, a queda de preços de commodities e a retração no embarque de manufaturados fizeram o valor das exportações recuar 4% em março contra o mesmo mês do ano passado, no critério da média diária. No trimestre, o recuo do valor exportado foi de 4,1%. A redução das exportações em ritmo maior que a das importações - queda de 2,2% no trimestre - resultou em um déficit comercial recorde no acumulado do ano.
A exportação de produtos básicos chegou a crescer 9,5% em março, contra igual mês de 2013, sempre no critério da média diária. A alta resultou principalmente da antecipação dos embarques de soja, de acordo com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Em março, o Brasil embarcou, em volume, 85,4% a mais de soja em relação ao mesmo mês do ano passado, mas com preço médio 6,5% menor. No acumulado do ano, as exportações do produto estão em 9 milhões de toneladas. Em 2013, as exportações estavam em 4,4 milhões de toneladas entre janeiro e março.
"Dois fatores explicam a antecipação: o primeiro é a expectativa de que os preços deverão cair mais. E o segundo é que em agosto é esperada uma safra recorde nos Estados Unidos. Diferentemente do ano passado, quando houve embarques ao longo de quase todo o ano, neste ano o grosso dos embarques deve ir só até julho", afirma Castro.
A queda de preços atingiu os produtos básicos de forma generalizada em março. As oito commodities básicas mais exportadas pelo Brasil tiveram preços médios menores em março ante o mesmo mês de 2013. O minério de ferro, por exemplo, foi vendido a um preço por tonelada 11,7% menor. Carne de frango, 17,4%. Milho, 28%. "E em abril o preço do minério deve cair mais. O aumento dos básicos em março foi causado pela soja. E ela, sozinha, não consegue ajudar na reversão do déficit da balança", diz Castro.
Entre os semimanufaturados, o preço também castigou itens importantes, como o açúcar em bruto. Com queda de preço de 18,8% em março, esse tipo de açúcar também teve queda de 20,6% na quantidade embarcada. O valor exportado caiu 35,5%.
O agravante para o quadro de exportação, diz Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da Uerj (Cedes /Uerj), é que a recuperação de preços gerais de commodities é uma possibilidade remota ainda para este ano. "Os preços estão sendo determinantes, mas essa variável não deve mudar tão cedo."
Os preços estão sofrendo influência da gradual retirada de estímulos do Banco Central dos Estados Unidos à economia americana e da desaceleração mais forte do que o previsto da atividade chinesa. Para a balança comercial ficar superavitária, diz Castro, será necessário "um colchão" grande de resultados positivos até julho. "Depois de julho não tem mais por onde as exportações ajudarem a balança. O câmbio não está ajudando a segurar as importações da indústria, as principais commodities não se recuperam em preços e a indústria exporta menos. Estamos claramente com viés de déficit comercial para este ano", diz.
Para Branco, um saldo positivo ao fim do ano depende da recuperação da exportação de petróleo. Até agora, porém, essa expectativa não tem se realizado. Em março, as exportações de petróleo bruto do Brasil recuaram 20,4% na média diária de março ante o mesmo mês do ano passado. É o segundo mês consecutivo que há diminuição dos embarques do produto, após um janeiro favorável.
Branco destaca, porém, que as importações começam a mostrar um recuo maior. "A desvalorização do real frente ao dólar pode começar a fazer uma diferença maior e pressionar menos a balança.".
Em março contra mesmo mês de 2013, a queda foi de 3,8% na média diária. No trimestre, a redução foi de 2,2%. Intermediários e bens de consumo duráveis, porém, tiveram alta em março, de 1,4% e 6,1%, respectivamente.
Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, afirma que a depreciação cambial do ano passado está segurando o nível das importações. "Ocorreu uma valorização recente, mas a tendência baseada nas contas externas do país é de manutenção neste ano do patamar de R$ 2,40 para o dólar."
A consultoria, que no começo do ano estimava superávit de US$ 8,2 bilhões para a balança comercial de 2014, agora projeta resultado positivo de US$ 5,3 bilhões, já que o desempenho ruim das exportações deve ser compensado pelo recuo ainda maior das importações.
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