sábado, 1 de junho de 2013

Japão espera que nova política econômica mude rumos do

Japão espera que nova política econômica mude rumos do país2/6/2013 às 00h28 A economia japonesa de dez trilhões de reais cresceu a um ritmo robusto de 3,5 % ao ano no primeiro trimestre de 2013 Depois de anos terríveis, o Japão parece estar finalmente voltando ao jogo Ko Sasaki/The New York TImes Depois figurar no panteão das empresas "Made in Japan", a Sony, bem mais modesta, voltou a ficar no azul pela primeira vez em cinco anos, graças à queda do iene. A Honda, outro ícone do mundo corporativo japonês, anunciou triunfalmente o retorno de sua equipe à Fórmula 1, juntando-se novamente ao clube das montadoras de carros de alto desempenho, depois de ter abandonado a competição durante a crise financeira. Até mesmo alguns dos cautelosos consumidores japoneses estão começando a gastar mais. Na Takashimaya, uma loja de departamentos luxuosa no distrito financeiro de Tóquio, um atendente afirmou que relógios de 20.000 dólares estão entre os mais vendidos. Além disso, uma rede de restaurantes de sushi de baixo custo acaba de inaugurar uma linha de restaurantes chiques, voltada para clientes com dinheiro suficiente para gastar com pequenos prazeres. O castelo que virou máquina de fazer dinheiro Nas prateleiras de Hong Kong, informações ilícitas sobre a elite chinesa Autoridades chinesas recorrem ao feng shui para crescer na carreira Por que tanta exuberância? Esses são os primeiros sinais de que a terapia de choque econômico do novo primeiro-ministro Shinzo Abe, apelidada de "abenomia", pode estar funcionando, embora muitas pessoas vejam essa tendência com reserva. Seu plano é um dos experimentos mais audaciosos do mundo em termos de política econômica nos últimos anos e combina um grande influxo de dinheiro barato (duplicando a emissão de dinheiro em dois anos), pacotes de estímulo fiscal tradicionais e a desregulamentação da famosa cultura corporativa japonesa. A esperança é que isso retire o Japão da debilitante espiral deflacionária que leva a economia nacional a uma queda constante de preços e expectativas, dando vida ao que Keynes chamava de "espíritos animais" de investidores e consumidores. Aparentemente, foi isso o que aconteceu: o mercado de ações cresceu 70 por cento no último ano e o iene perdeu mais de um quarto do valor, elevando o faturamento das empresas em um país muito dependente das exportações. Em maio, a "abenomia" apresentou seus primeiros resultados parciais. A economia japonesa de cinco trilhões de dólares cresceu a um ritmo robusto de 3,5 por cento ao ano no primeiro trimestre e o consumo das famílias foi responsável pela maior parte do crescimento, confirmando a noção de que a confiança do consumidor é fundamental para o país. Embora existam alguns sinais de fraqueza, especialmente por conta de uma queda no investimento em empresas, os números são um sinal promissor de que a boa notícia não se limita ao mercado financeiro. "Jovens e até pessoas com 40 e poucos anos não se lembram dos tempos de glória do Japão", afirmou Hiroshi Sato, um executivo de 64 anos que comprava um dos relógios caros à venda na Takashimaya. Escolhendo os modelos em uma bandeja de veludo preto, ele explicou a compra como uma aposta no sucesso de Abe após duas décadas de fracassos por parte de seus predecessores. "Tenho esperanças de que essa seja finalmente uma recuperação real", afirmou. Até o momento, esse otimismo parece limitado às classes abastadas, incluindo os poucos donos de ações do país, uma vez que o enfraquecimento do iene está criando tensões em relação aos vizinhos asiáticos. Contudo, se isso se espalhar, o Japão terá dado um primeiro passo importante em direção à recuperação, convencendo seus poupadores, famosos pela cautela, a gastarem mais dinheiro para reavivar a economia. "Essa é a melhor chance nos últimos 20 anos de o Japão fugir dessa mentalidade deflacionária", afirmou Hajime Takata, economista chefe do Instituto de Pesquisa Mizuho, em Tóquio. O fato de o Japão adotar uma política aparentemente radical após anos de paralisia política indica um novo senso de urgência no país. Com as ambições econômicas e territoriais da China se tornando cada vez maiores, os japoneses passaram a ver os perigos de se resignarem ao que muitos chamam de "declínio gentil". O medo deu a Abe, que assumiu o cargo em dezembro, alguma margem de manobra para cumprir até mesmo sua promessa de afetar os interesses de alguns grupos por meio da desregulamentação e do aumento da inflação. O crescimento da inflação poderia ser negativo para a legião de aposentados politicamente ativos do país, mas seria positivo para pessoas que gastaram antes da perda de valor do dinheiro – revertendo a psicologia negativa de evitar determinadas compras na esperança de que os preços caiam ainda mais. Essa tendência também o alçou a um papel incomum para o primeiro-ministro japonês, que geralmente é uma figura insossa que toma todas as decisões a portas fechadas. Abe, de 58 anos, transformou-se no principal animador de torcidas do país, afirmando ao público que "o Japão renasceu", além de compartilhar dados pessoais que a maior parte dos políticos esconde. Ao falar sobre sua saída humilhante do cargo durante o primeiro mandato em função de uma doença ligada ao estresse, Abe afirma ao público que, assim como ele, eles também podem se recuperar. "Meu dever é tirar o Japão do feitiço da deflação e da perda de confiança", declarou o primeiro-ministro em uma reunião recente com líderes comerciais em Tóquio. Apesar dos sinais de sucesso da "abenomia", há muita gente que duvida do futuro. Muitos economistas afirmam que é impossível julgar o desempenho de Abe até que ele lance as duas outras medidas econômicas que tem em mãos, especialmente as mudanças estruturais que acreditam ser necessárias para reavivar os interesses comerciais esclerosados do Japão, encorajando o empreendedorismo e a competitividade. Eles também alertam que a menos que a riqueza seja distribuída com rapidez – por meio do aumento de salários, por exemplo – essa tendência vai perder força rapidamente, exatamente como as outras ou ainda pior, levando o Japão à deflação com crescimento zero. "Sem um ressurgimento real da economia, isso não passa de bruxaria", afirmou Yukio Noguchi, professor de finanças na Universidade Waseda, em Tóquio. Na verdade, muitos japoneses reclamam que os salários continuam a cair, apesar do aumento dos preços. "As únicas pessoas que estão se beneficiando com esse crescimento são os gestores estrangeiros e os ricos", afirmou Yuichi Magata, taxista que esperava por um cliente em uma noite recente de fim de semana na área de bares e restaurantes chiques de Ginza. Cada vez mais pessoas estão comendo e bebendo depois do trabalho, mas Magata reclamou que eles ainda se negam a pegar um táxi para voltar para casa, como fariam há uma década, durante outro momento de crescimento similar e de curta duração. Ainda assim, Abe possui invejáveis 70 por cento de aprovação. Depois de anos em que o Japão parecia um caso de má sorte, a mídia financeira internacional voltou a elogiar o país, afirmando que o Japão "está com tudo" novamente.

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