segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Revitalização da cajucultura é tema de seminário em Surubim (PE)





30/11/15 - 11:50 




A região de Surubim, no agreste pernambucano, por muito tempo foi um polo produtor de castanha de caju. O envelhecimento dos pomares e a estiagem de cinco anos que atinge a região fizeram com que a produtividade caísse, colocando em risco essa atividade econômica. Por causa disso, prefeituras de cinco municípios (Surubim, Casinhas, Santa Maria do Cambucá, Vertente do Lério e Bom Jardim) fizeram uma demanda para que a Embrapa pudesse auxiliar os produtores no processo de revitalização da cajucultura daquela região.
O primeiro passo, nesse sentido, foi a realização de um seminário na semana passada, em Surubim, seguido de visita técnica a propriedades. A intenção foi a de coletar dados que possam subsidiar ações futuras além de levar conhecimentos técnicos às pessoas que integram a cadeia produtiva. De acordo com Marlos Bezerra, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria Tropical, um dos resultados concretos do evento foi a parceria firmada com as prefeituras da região e com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). As prefeituras deverão induzir e fomentar as demandas, enquanto o IPA deverá conduzir as ações na região a partir de orientações e tecnologias fornecidas pelos técnicos da Embrapa.
A cajucultura representa uma importante atividade para os municípios da região. Elizadai Sousa, secretária de Agricultura de Santa Maria do Cambucá, estima que um terço da população do município tenha a produção de castanha de caju como sua principal fonte de renda. A pequena produção é a tônica: os lotes têm entre 1 e 10 hectares de extensão. O proprietário da Fazenda Santa Lúcia, no Sítio Manduri, costumava obter 600 sacos de 60kg quilos cada de castanha de caju. Hoje, esse número chega a apenas sete sacos por safra. Trabalhando há 30 anos com comercialização de castanha de caju para Surubim, ele afirma que hoje não tem produção para venda por causa da seca.
Além disso, a retirada de areia do solo prejudica a nutrição do terreno, contribuindo assim para o processo de desertificação naquela região.
O técnico do IPA, Josimar França, afirma que a seca é a maior dificuldade enfrentada pelos cajucultores, mas afirma que a estiagem é apenas um dos desafios. "Este ano, o acumulo de precipitação não chegou a 300 milímetros e o caju, embora seja uma cultura tolerante, exige água para produzir. A seca associada às doenças que aparecem, como o oídio, impede que a cajucultura prospere. Existe também a questão do manejo. Temos o caju como uma cultura extrativista e isso precisa ser repensado. Precisamos trazer tecnologias pra que a gente melhore a nossa cajucultura", comenta.
O técnico ressalta ainda a necessidade de mais recursos para a região. "Temos aqui mais de 3 mil hectares de caju conduzido de forma extrativista. Sabemos que a cajucultura da região não recebeu incentivos de crédito. Até hoje nenhum produtor teve acesso ao crédito, por ser considerada uma cultura de risco. Com o credito formalizado é possível trazer tecnologias para melhorarmos a cajucultura da nossa região", comenta Josimar França.
Clone é destaque
No município de Casinhas, o produtor Manoel Barbosa da Silva também enfrenta problemas por causa da estiagem. No entanto, uma planta vem chamando a atenção dele devido à resistência à seca. "Nasci numa região que sempre teve cajucultura, mas de uns 10 anos mudou muito. A produção caiu a ponto de as pessoas acreditarem que daqui alguns anos não haverá mais a cultura na região. Aqui na localidade de Areia de Chatinha eu produzo caju numa área de 5 hectares, sendo uns 400 cajueiros. Começamos a produzir agora. Com o caju nativo, nós vendíamos para diversos comerciantes da região e agora com esse cajueiro anão precoce nós estamos aguardando a produção para saber a quem vender. O clone BRS 226 me agradou muito, é um caju firme, bonito, com aparência muito boa. Entre esses 400 cajueiros, existem diversos tipos de caju, mas o BRS 226 me chamou a atenção. A esperança é que ele seja a salvação da cajucultura aqui na região".
Casinhas tem, em média, entre 3 e 4 mil produtores. As áreas de plantio são pequenas. Comenta Manoel Barbosa: "A maioria das propriedades é de meio hectare, por isso a quantidade de produtores chega a isso ou mais, por que o território de Casinhas é 30% de cidade, o restante é zona rural. A produção de caju começa na localidade do Sítio Fundão e segue para Areia de Chatinha, Montada de Cima, Montada de Baixo, Guaribas e Catolé de Casinhas. É uma área muito grande, como se fosse um rio perene".
Expectativa
O prefeito de Surubim, Túlio Vieira, afirma ter uma expectativa muito positiva, sabendo que a Embrapa é um órgão que detém os conhecimentos e tecnologias necessárias para recuperar a cajucultura: "Não é possível fazer isso sozinho, mas acredito que com o apoio dos prefeitos dos municípios da região, das associações que estão engajadas, dos sindicatos dos trabalhadores, o governo do Estado por meio do IPA, com esse conjunto de entidades, com essa rede que vai ser formada junto aos agricultores, a nossa expectativa é muito positiva".
Túlio Vieira detalha ainda os próximos passos que a prefeitura pretende realizar: "Vamos cadastrar alguns agricultores para desenvolver a tecnologia do anão precoce e a tecnologia da enxertia. Primeiramente, serão desenvolvidas algumas áreas como experiência. A gente pretende estudar e monitorar o que será aplicado. Futuramente, faremos uma análise do que foi feito e o que pode melhorar. Conversamos com o secretário do Estado e com o coordenador do IPA. Além disso, estamos buscando o Banco do Nordeste para entrar com linhas de crédito e como as prefeituras podem colaborar com a questão da distribuição de mudas e disponibilização de maquinários para os agricultores". 

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