terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Prova de fogo para o agronegócio
30/12/14 - 10:52
Os altos e baixos de 2014 no agronegócio foram determinados pelo clima, pelo mercado global, pela política nacional e até pela Copa do Mundo. Mas o ano termina com resultados satisfatórios. A produção de grãos cresce no país apesar do aperto nas cotações. A pecuária tem boas perspectivas e a expectativa é de mudanças para setores como o da cana-de-açúcar.
O quadro não é confortável, diante de uma safra volumosa de grãos a caminho na América do Sul. A renda do setor não tem caído de forma alarmante devido à valorização do dólar, que sustenta os preços internos dos produtos destinados à exportação.
O quadro de janeiro – de pressão sobre os preços e dúvidas em relação ao impacto da oferta além da demanda – parece se repetir. Porém, uma retrospectiva mostra que, apesar de alguns fundamentos estarem em situação parecida, dificilmente as mesmas reviravoltas acontecerão duas vezes.
Janeiro
O agronegócio abre 2014 renovado, com a soja a preço de entressafra apesar das previsões de queda nas cotações internacionais. Uma colheita recorde seria a melhor notícia do ano.
Oportunidade – A saca da oleaginosa acima de R$ 60 no Paraná estimula negócios e põe em xeque as previsões de que a retomada da produção norte-americana saciaria a demanda global.
Exceção – O feijão carioca a R$ 75 por saca e a quebra na safra de café parecem ser os principais problemas do ano, que logo entraria numa fase de solavancos.
Fevereiro
O clima seco castiga o Paraná e leva embora mais de 2 milhões de toneladas de grãos no estado, alterando o cenário nacional.
Quebra – A região Norte do Paraná perde um terço da produção de soja, forçando revisões na previsão de que a safra nacional renderia mais de 90 milhões de toneladas.
Contrastes – Excesso de chuva em Mato Grosso assusta o setor, num momento em que a nova fronteira do Centro-Norte também passa a depender de mais chuvas.
Susto – Previsão de que as lavouras de verão sofreriam intensos ataques da lagarta Helicoverpa armigera não se confirma.
Março
Confirmadas as perdas, o Brasil passa a contar com safra de 87 milhões de toneladas de soja, 5 milhões a menos do que a estimativa inicial, mas ainda assim o maior volume já registrado.
Medição de força – Os portos do Sul, preparados para uma safra mais abundante, passam a disputar cargas com o Sudeste e o Norte, na expectativa de elevar embarques em pelo menos 10%.
Alívio parcial – Centro-Norte e Centro-Oeste confirmam bons resultados e sustentam boa safra de milho, que atingiria 34 milhões de toneladas, volume próximo da previsão inicial.
Rodízio – O produtor rural de Mato Grosso Neri Geller assume como o terceiro ministro da Agricultura do governo Dilma Rousseff, com a missão de encerrar o mandato.
Abril
O Brasil se depara com oportunidades paralelas à produção de soja, com o boi gordo em picos de mais de R$ 120 a arroba pela primeira vez e o trigo batendo em R$ 42 a saca (40% acima do preço atual).
Inverno de recorde – O Paraná volta a plantar mais de 1,3 milhão de hectares de trigo, com expansão de 35% em um ano, e dá lastro para que o país aguarde recorde de 7,7 milhões de toneladas.
Pecuária limitada – Os preços recordes da pecuária inspiram investimentos, mas num setor com resultados de longo prazo, o rebanho segue restrito. Com exportações limitadas, o Paraná registra queda da casa de 9,4 milhões para a de 9,3 milhões de cabeças.
Maio
Começa a se desenhar nos Estados Unidos uma safra gigante de grãos, que novamente colocaria os preços em queda. A previsão inicial de 96 milhões de toneladas de soja mostra-se suficiente para espalhar preocupação no Brasil.
Difícil para todos – Curiosamente, a queda na rentabilidade do milho é que faz os EUA ampliarem o plantio de soja, que é a grande aposta da América do Sul .
Reforço no crédito – Para estimular a produção, governo brasileiro lança o Plano Agrícola e Pecuária com R$ 20 bilhões adicionais ao agronegócio empresarial, que passa a contar com R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comercialização.
Junho – Julho
Com a safra 2013/14 encerrada, o Brasil passa a planejar a temporada seguinte, mas as incertezas tomam conta do agronegócio no mercado e na política.
Sobe ou desce? – A Copa do Mundo prometia elevar a demanda por carnes, mas teve impacto reduzido. A avicultura, que não apostava em grande impacto, acerta ao dosar a produção, enquanto a suinocultura passa a depender da abertura de novos mercados no exterior.
Clima perfeito – Os EUA confirmam, mês a mês, condições climáticas excelentes de produção. A dúvida passa a ser o tamanho do tombo nas cotações.
Aposta certeira – Com importância cada vez maior no leite, estados sulistas lançam Aliança Láctea, para manter crescimento e definir o destino da produção regional, que chega a um terço da nacional.
Agosto – setembro
O clima mostra-se mais uma vez desfavorável aos grandes planos do agronegócio brasileiro, desta vez derrubando a safra de trigo e afetando o ânimo para o plantio de verão.
Chuva demais – O Noroeste do Rio Grande do Sul registra chuvas concentradas que somam 200 milímetros em dez dias e levam embora mais de 1 milhão de toneladas de trigo.
Aposta na soja – O agronegócio repete aposta na soja com plano de plantar mais de 30 milhões de hectares (3,8% a mais que na safra anterior), mas com nova redução na área de milho de verão, que cai a 6,45 milhões de hectares (-6,45%).
Outubro
Os EUA confirmam safra gigante, dois anos após quebra climática histórica, e testam o poder de compra da China.
Novas marcas – As previsões passam a ser elevadas em plena colheita e chegariam a 365,97 milhões de toneladas de milho e a 107,7 milhões de toneladas de soja. As novas sementes, enfim, expressam seu potencial após sequência de safras com clima desfavorável.
Pé no freio – Produtores norte e sul-americanos seguram vendas, num esforço para conter queda nas cotações que tem funcionado mais pela escassez de estoques do que expansão da demanda, que cresce em ritmo menor que a produção.
Novembro
A pressão sobre as cotações dos grãos reforça a tendência de verticalização do agronegócio em setores já tradicionais como o do frango.
Carne branca – A cadeia das aves põe em prática investimentos que prometem expansão na produção e no abate em 2015, com aportes que passam de R$ 500 milhões puxados pelas cooperativas.
Um passo atrás – Já o setor de máquinas agrícolas teve de recuar na produção ao se deparar com queda de 20% nas vendas, com marca novamente abaixo de 70 mil unidades por ano.
Dezembro
As contas do ano estão fechando em patamares bons diante de tantas turbulências e reviravoltas. E 2015 promete mudanças.
Moagem em queda – Seca antecipa fim da moagem e canaviais sentem os efeitos do clima. Mas, na reta final, setor revisa números para cima e Centro-Sul fecha a safra com 31,5 milhões de toneladas de açúcar e 25,2 bilhões de litros de etanol.
Renda – O Valor Bruto da Produção fecha 2014 com recuo de 1% a 2%, em R$ 461,5 bilhões no país e em R$ 68 bilhões no estado. Para 2015, previsão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é de alta de 2,7%, o que depende de a soja se manter próxima de R$ 60/sc.
Novo comando – Uma mulher é anunciada como 120ª ministra da Agricultura. Kátia Abreu assume nesta quinta com o desafio de retomar planos estratégicos e garantir mais apoio ao setor .
Gazeta do Povo (AgroGP)
Autor: José Rocher
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