sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Nossa independência profissional requer a construção bases sólidas, por Guilherme Lamb

Publicado em 29/09/2017 11:31 e atualizado em 29/09/2017 14:34



Guilherme Lamb é produtor rural em Maracai/SP




Ano após ano nos discutimos o problema da falta de lucratividade e endividamento dos produtores rurais Brasileiros. É um assunto que nos remete a diversos pontos que são agentes causadores dos nossos problemas, sendo a principal causa o Custo Brasil (burocracia, sistema tributário, corrupção, juros, instabilidade cambial, etc.) e seus efeitos que são a descapitalização do produtor, a falta de lucratividade e o endividamento.
Diante desta “eterna” crise, muitas vezes nos dedicamos a analisar como podemos lidar com esses problemas enquanto não se chega a uma solução concreta para os mesmos. Teoricamente existem várias ideias viáveis que se bem aplicadas trariam resultados para os produtores a curto prazo e consequentemente dando poder ao produtor econômico para conseguir posterior enfrentar a causa do problema, que é o Estado Brasileiro que gera o Custo Brasil.

Hoje durante uma conversa com amigos extremamente capacitados, citarei aqui os nomes Eduardo Lima Porto e Eloiza Zuconelli, foi mencionado pelo nobre amigo Eduardo a necessidade de os produtores se tornarem operadores de mercado, dar mais atenção a estratégias de comercialização futura, usando as palavras “formar um exército de produtores-operadores no mercado futuro”.
Sem dúvida alguma, melhorar nossas habilidades na comercialização seria uma solução concreta que amenizaria muito dos nossos problemas, em especial a bola de neve que se tornou a questão do endividamento, protegendo-nos das crises e instabilidades cambiais que na minha experiência é um dos principais causadores do endividamento, quando compramos insumos e plantamos uma safra com dólar em um patamar elevado e na colheita este se desvaloriza por alguma razão político econômica. Porem o foco aqui e agora não é discutir esses pontos e sim falar de uma questão pertinente que em geral é negligenciada.

A cara amiga Eloíza, respondeu prontamente à questão com a seguinte frase “Mas para isso precisamos formar o “exército da boa gestão””.
Irretocável, a base de qualquer atividade profissional lucrativa é a boa gestão do negócio e este aspecto tem sido relegado pela maioria.
Logicamente, para obtermos sucesso operando no mercado futuro, primeiro precisamos de bases solidas, no caso a gestão profissional da propriedade cabendo aqui a analogia com a construção de uma casa, onde precisamos começar pelo alicerce e seguir as etapas até concluir o telhado. Para chegarmos ao “exército de operadores de mercado” precisamos primeiro de um solido treinamento “militar” em gestão (aproveitando a analogia).
Para Chiavenato (2004), a Gestão é a "maneira de governar Organizações ou parte delas. É o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos organizacionais para alcançar determinados objetivos de maneira eficiente e eficaz."
Um dos fundamentos básicos para conseguir uma boa gestão é analisar informações confiáveis para tomar decisões bem fundamentadas e essas informações são geradas através de dados coletados.

Uma pesquisa mostrou que 80% dos Brasileiros não controlam suas finanças e 70% dos consumidores que têm pouco conhecimento sobre suas contas termina o mês sem dinheiro na conta corrente. “Os representantes políticos nada mais são que o fiel retrato da grande maioria do povo”, sendo essa pesquisa é uma grande prova dessa máxima, demonstrando que poucos se importam com controle e eficiência.

A grande maioria dos Brasileiros não tem nenhum apreço por registrar dados, que posteriormente se transformariam em informações a serem usadas no planejamento prévio de negócios, orçamento doméstico e profissional, controle financeiro, pesquisa e desenvolvimento dentre tantas outras utilidades.
O professor e pesquisador Eng. Agrônomo Dr. Roberto Antunes Fioretto escreveu um artigo técnico excelente que contem a seguinte citação:
“Como os brasileiros não avaliam nada, observam muito pouco e não medem praticamente nada, a sorte sempre é lançada a cada ano que passa, tentando produzir satisfatoriamente, por conta do acaso, sem ter a noção do tamanho do risco que estão correndo com seus investimentos. ”
Isso demonstra bem um dos principais motivos do nosso atraso, em todos os setores e no nosso cotidiano. “Odiamos” estatísticas, temos aversão a fazer relatórios, alergia metodologias e pavor de registrar informações.
Poucos se dedicam a registrar dados que possam ser avaliados e analisados posteriormente na solução de problemas diários. Todos vão seguindo “instintivamente”, quando alguém desenvolve algo com base em dados e informações essa manada acaba tomando isso como regra imutável e adere a mesma de forma incondicional sem avaliar os prós e contras, as particularidades especificas para cada local, se tornando adoradores de certas coisas e pessoas, do “supremo líder” que faz tudo isso por eles de maneira genérica e pouco confiável.

Focando na questão acima, para eu conseguir fazer bons negócios no mercado futuro dependo de ter prontamente a mão informações solidas sobre meu negócio (custos totais e parciais, contas a pagar em determinado período, fluxo de caixa, capital de giro, histórico de preços do produto na minha região, histórico de produtividade e correlações agronômicas e meteorológicas dentre outras informações), sem essas ferramentas a mão não tenho fundamentos para avaliar a viabilidade de uma venda futura de soja em relação as expectativas mercadológicas vigentes e fazer um bom negócio que me proteja de volatilidades e me dê margem para lucrar. Fazer isso sem essas ferramentas será um operação feita com base puramente em instintos que com certeza não trará resultados satisfatórios e poderá criar traumas quantos ao mercado futuro, coisa que é uma realidade entre muitos produtores.

Para que possamos avançar no quesito operação em mercados futuros precisamos apurar nossos conhecimentos sobre a atividades passadas e presentes de nossas propriedades, para isso precisamos de “sistemas de informação” onde fiquem registrados informações sobre compras e vendas (livro caixa), relatórios de atividades, resultados produtivos e financeiros como ocorre em empresas de outros setores, sendo imperativo que façamos um benchmarking com nossos fornecedores para entendermos a importância da gestão e das informações.
Necessitamos de informações confiáveis prontamente a mão para embasar nossas decisões e prevenir erros futuros, não só na comercialização como em outros aspectos da atividade também, como a máxima atribuída a Edmund Burke ensina:
- “Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti–lá“
Para conhecermos nossa história e nosso histórico precisamos fazer os registros precisos e sistemáticos, coletar dados e gerar informações.
Sem auferir dados, registra-los e relata-los nunca teremos desenvolvimento cientifico, tecnológico e econômico, sem registrar devidamente os fatos nunca teremos desenvolvimento social e político.
Precisamos quebrar o paradigma de que “não avaliamos nada, observamos muito pouco e não medimos praticamente nada” e mudarmos a maneira como administramos nossas propriedades ou nunca sairemos deste ciclo vicioso.
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Fonte: Guilherme Lamb

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