Publicado em 30/07/2019 18:17
Embora a continuidade dessa guerra comercial entre China e Estados Unidos siga trazendo oportunidades para o mercado brasileiro de soja quando o assunto é a maior concetração de demanda chinesa, as alfinetadas de Donald Trump mantêm os preços da oleaginosa sob pressão na Bolsa de Chicago. No pregão desta terça, os futuros da oleaginosa voltaram a recuar e terminaram o dia com baixas de mais de 7 pontos entre os principais contratos. Mais cedo, as perdas passavam dos 8 pontos.
Assim, o contrato agostou fechou com US$ 8,78 e o novembro, US$ 8,96 por bushel, mais uma vez perdendo o patamar dos US$ 9,00.
Como explica o analista de mercado Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora, essa 'decepção' vinda das notícias políticas ajuda a confirmar a fraca demanda chinesa pela soja norte-americana, com embarques ainda bem modestos e consideravelmente menores do que em anos anteriores, o que ajuda a promover essa nova rodada de baixas para as cotações na CBOT.
"Os embarques norte-americanos para a China ainda estão bem aquém do desejado e impedem que o mercado retome a força como o esperado", diz Mariano.
A decepção a que o analista se refere vem dos tweets divulgados pelo presidente Donald Trump nesta terça-feira.
"A China está indo muito mal, seu pior ano em 27, e deveria começar a comprar nossos produtos agrícolas agora, mas não há nem sinais disso. Este é o problema com a China, eles nunca chegam efetivamente. Nossa economia se tornou MUITO maior do que a chinesa nos últimos três anos. Minha equipe está negociando com eles agora, mas eles sempre mudam o acordo no final para se beneficiarem. Eles deveriam, provavelmente, esperar pelas nossas eleições para ver se conseguem alguma coisa com um dos 'democratas durões' como o Joe Sonolento. Assim, eles poderiam fazer um ótimo negócio, como nos últimos 30 anos, e continuar a roubar os EUA, mais do que nunca. O problema como eles esperando, no entanto, é que se eu ganhar o acordo que eles irão conseguir será ainda mais difícil do que o que estamos negociando agora. Nós temos todas as cartas. Nossos líderes anteiores nunca entenderam isso".
Essas são as palavras do presidente americano Donald Trump, em sua conta no Twitter nesta terça-feira (30), esquentando ainda mais o clima na guerra comercial entre China e os Estados Unidos. Há meses o mercado já vinha ventilando a possibilidade de um acordo chegar somente depois das eleições presidenciais de 2020, mas a retórica mais ameaçadora do presidente americano começa a traçar novos caminhos para a disputa e ampliar as especulações do mercado global em torno desse conflito.
As negociações recomeçaram em Xangai nesta terça-feira na 12ª rodada de conversas entre líderes chineses e americanos. As expectativas de um acordo são bastante baixas dessas vez. "Ninguém entende a estratégia de falar com aquele tom bem no momento da reabertura das negociações", questiona Steve Cachia, consultor da Cerealpar e da Agro Culte. "Na minha opinião, está batendo um nervoso, enquanto a China está tranquila e o tempo está passando. Ao invés de usar um tom diplomático e conciliatório, usou palavras de crítica, pressão e até ameaçador", completa.
Assista a entrevista do professor Roberto Dumas Damas, especialista em China, sobre o desenvolvimento do conflito e os impactos na economia mundial:
Sobre um possível agravamento do conflito, Cachia diz acreditar em um status quo. "Com a China abrindo mão das taxas de retaliação quando convém e fechando logo em seguida, e os EUA subsidiando o produtor para impedir uma quebra", explica.
DEMANDA X PREÇOS E PRÊMIOS NO BRASIL
Se a demanda maior da China por soja está concentrada no Brasil, os efeitos sobre os preços formados no mercado brasileiro têm demorado a aparecer. A demanda um pouco mais lenta da nação asiática - em partes impactada pela grave epidemia de Peste Suína Africana - impede que as cotações reajam de forma mais consistente e os prêmios, neste momento, chegam até mesmo a registrar algum recuo.
Entre os prêmios, as principais posições de entrega têm entre 85 e 95 centavos de dólar acima dos valores praticados na Bolsa de Chicago, enquanto eram cerca de 5 cents mais altos na semana passada, ainda como explica Mario Mariano. Nos portos do país, as referências, portanto, ainda variam entre R$ 77,50 e R$ 78,50 por saca - registrando baixas de mais de 1% nesta terça-feira - entre o disponível e indicativos para agosto.
De acordo com o analista da Novo Rumo, a indústria brasileira teria um fôlego melhor para pagar pela soja neste momento em relação ao mercado exportador.
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Para o Brasil:
Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas
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