domingo, 1 de junho de 2014

Mais de 180 mil famílias brasileiras vivem da controversa cultura de fumo

Mais de 180 mil famílias brasileiras vivem da controversa cultura de fumo Rio Grande do Sul é responsável por 44% da produção nacional. Plantio do fumo é feito em sistema de integração com a indústria fumageira 01/06/2014 08h50 Do Globo Rural A cultura do fumo no Brasil tem venda garantida, mas também é uma das mais controvertidas. Quase 200 mil agricultores investem neste plantio e fazem do país o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da China. Quase seis trilhões de cigarros são consumidos no mundo por ano. É esse hábito que garante a renda de pessoas simples, moradoras da zona rural de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, estado onde, em 2013, foram arrecadados R$ 2,6 bilhões com a produção de fumo. Em 2005, a Organização Mundial de Saúde (OMS) implementou um tratado internacional chamado Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). O documento traz medidas para reduzir o consumo de cigarros no mundo, como a proibição de propaganda, advertências sobre os malefícios do cigarro nas embalagens e, no que diz respeito aos produtores rurais, o apoio a atividades alternativas para geração de renda. Vários países, incluindo o Brasil, aderiram à convenção. Apesar do crescimento na quantidade de fumantes por conta do aumento da população mundial, o consumo proporcionalmente vem caindo: 3,3% só de 2012 para 2013. Porém, segundo Benício Albano Werner, presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), isso não afetou os agricultores brasileiros: “No Brasil, temos queda de consumo. Agora se olharmos os países do Oriente Médio, todos eles estão aumentando o consumo. Isso está mantendo a nossa produção, porque a exportação brasileira está em torno de 87%”. Segundo estimativas a Afubra, a produção de fumo que saiu dos campos este ano deve ficar em torno de 725 mil toneladas. São 183 mil famílias vivendo da cultura em estados do Nordeste e do Sul do país. O principal produtor é o Rio Grande do Sul, responsável por 44% da produção nacional. Hiro Shünke, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), defende a indústria, mas admite que a atividade é discutível: “É controversa em função do produto final, mas se nós considerarmos que o Brasil é tão importante no mundo, sendo o segundo maior produtor e o maior exportador, e se considerarmos que enquanto houver demanda, haverá produção, nós temos que defender a manutenção dessa cultura nos nossos produtores e municípios”. Para muitos agricultores, o tabaco é o ganha-pão, um plantio como outro qualquer. Na propriedade de Clóvis Miguel Bartz, em quatro dos 11 hectares são cultivados fumo. Ele é um antigo produtor de hortaliças, que vem investindo no fumo há sete anos. A colheita do fumo é feita em várias etapas, começando pelas folhas da parte de baixo. Conforme a planta vai se desenvolvendo, vão sendo retiradas as folhas da parte de cima. Esse é um trabalho que vai de outubro até fevereiro. Segundo Clóvis, a produtividade este ano foi boa: “Por hectare, vai passar de três mil quilos de fumo. De renda, entre R$ 15 mil a R$ 20 mil por hectare. É uma boa renda no campo, comparando com as outras culturas, como soja e milho. O fumo aqui na pequena propriedade é o que melhor se adaptou. O milho me daria uma renda em torno de R$ 3 mil por hectare”, relata. O plantio do fumo é feito num sistema de integração. A indústria fumageira fornece sementes, insumos, assistência técnica e garante a compra do produto. O agricultor paga pelos insumos quando negociar o fumo. Do campo, as folhas vão para um barracão e depois para uma estufa pra secagem. “Aí começa o processo de amarelação e secagem. Até ficar pronto esse fumo dentro da estufa, leva sete, oito dias”, explica Clóvis. As folhas de fumo devem ser cuidadas a cada duas horas, inclusive à noite. A fornalha tem que receber lenha para manter a temperatura. Depois, vem a separação das folhas por qualidade: cor e tamanho definem a classificação e o agricultor já fica na expectativa do pagamento que vai receber. Quando o fumo chega à indústria, a primeira parada do produto é na classificação das folhas. É nessa etapa que vai ser definido o preço pago aos produtores, que acompanham de perto a avaliação do seu produto. Os agricultores dizem ter autonomia para vender para quem quiserem, mas alguns contam que há indústrias que descadastram aquele que vender mais de 10% para a concorrência. Carlos Palma, agrônomo e gerente de assuntos corporativos de tabaco em uma indústria, explica a situação: “Pode ter opção de ambos os lados, para isso existe um contrato. É uma relação que foi negociada no começo da safra. Se chega no final da safra e há uma discordância de que essa relação deva seguir adiante, ambas as partes vão conversar e chegar a uma conclusão, mas tem muito mais produtores do que indústria”. Melhorias na produção O sistema de integração é um sistema de dependência, mas em contrapartida, a indústria está sempre em busca de novas tecnologias para melhorar o rendimento da lavoura: interesse para os dois lados. Da colheita até ir para a indústria, passando pela secagem, o fumo dá muito trabalho, mas já existem estufas mais modernas, como a LL, uma sigla em inglês para loose leaf, que significa folha solta. É solta que a folha de fumo é colocada dentro dessa estufa. “Você separa um montinho de folhas, separa um pouco para passar o ar e coloca em estrados do fundo da estufa até a frente. É mais fácil do que o sistema de costurar e colocar as varas e o descarregamento também é mais fácil”, explica o agricultor Beto Klafke, dono da estufa, considerada modelo. Beto Klafke investiu R$ 30 mil na estufa, toda em alumínio, um valor que pode ser financiado junto à indústria. “A empresa tem uma linha de crédito, de forma a financiar esse investimento. Normalmente o prazo médio para isso é de seis anos e a cada ano, ele vai amortizando o pagamento com a comercialização da sua safra de tabaco”, explica o agrônomo Carlos Palma. tópicos: Organização Mundial de Saúde, Santa Cruz do Sul

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