quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Apesar de BC, dólar sobe ante real com tensão eleitoral e crise argentina



Publicado em 30/08/2018 17:13


Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) - A disparada do dólar acima de 4,20 reais nesta quinta-feira obrigou o Banco Central a atuar extraordinariamente no mercado de câmbio, o que aliviou a pressão de alta, mas não impediu que a moeda norte-americana renovasse a segunda maior cotação do Plano Real.
Uma combinação de cautela com a cena eleitoral e preocupações com a situação da Argentina puxaram a moeda norte-americana em uma sessão altamente volátil: na máxima, a moeda foi a 4,2155 reais, com quase 2,50 por cento de valorização e, na mínima, chegou a 4,1197 reais.
O dólar avançou 0,78 por cento, a 4,1463 reais na venda. O dólar futuro avançava 0,85 por cento.
"Não havia nenhuma demanda genuína por dólar em 4,20 reais, era apenas efeito manada", argumentou o diretor de Tesouraria de um grande banco estrangeiro.

O BC, percebendo o movimento, não perdeu tempo. Anunciou leilão de até 30 mil contratos de swap cambial tradicional --equivalentes à venda futura de dólares--, o equivalente a 1,5 bilhão de dólares, mas só conseguiu completar a venda em uma segunda oferta, minutos depois.
Essa atuação extraordinária, no entanto, pode não ter passado dum movimento pontual, sem necessariamente se manter nos próximos pregões, avaliaram especialistas ouvidos pela Reuters.
A última vez que o BC tinha feito oferta adicional de swaps --numa atuação conjunta com o Tesouro Nacional-- foi em junho deste ano, depois que a greve dos caminhoneiros acabou levando a uma reprecificação dos ativos.
A autoridade já havia concluído mais cedo a rolagem dos contratos de swaps que venciam em setembro, totalizando 5,255 bilhões de dólares.
Em outubro, segundo dados do site do BC, vencem 9,801 bilhões de dólares em contratos de swap e há uma expectativa no mercado de que o BC, a exemplo do que fez com a linha --venda de dólares com compromisso de recompra-- também possa anunciar após o fechamento do mercado sua intenção de rolar integralmente esse volume, para evitar qualquer especulação.
Na terça-feira, o BC anunciou leilão de 2,15 bilhões de dólares para sexta-feira para rolagem dos contratos que vencem em 5 de setembro.
A valorização do dólar nesta quinta-feira teve influência do avanço ante divisas de emergentes no mercado externo e também a cautela com a cena eleitoral. O movimento ganhou tração quando a Argentina elevou os juros a 60 por cento ao ano, de 45 por cento, o que causou um movimento forte de stop loss (quando o investidor zera posição para reduzir as perdas).
"A Argentina foi a cereja do bolo hoje", disse o diretor de operações da Mirae, Pablo Spyer, ao comentar o cenário nervoso desta quinta-feira.
Embora os especialistas comentem que o quadro doméstico é diferente do argentino, por exemplo, com nossas contas externas muito mais saudáveis, os investidores acabam promovendo ajustes generalizados em suas carteiras de emergentes quando há preocupação em algum dos lugares em que investem.
A pesquisa DataPoder360 divulgada de madrugada não trouxe um cenário muito diferente dos outros levantamentos, com Lula liderando a disputa e Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato do mercado, sem decolar.
Mas mostrou que se Lula tiver que abrir mão da candidatura para Fernando Haddad, este teria potencial de receber 8 por cento de votos "com certeza", enquanto 26 por cento "poderiam votar" nele no caso de ser apoiado pelo ex-presidente. Ou seja, seriam grandes as chances de um segundo turno com a presença de um petista.
"Se esses números forem reais, a chance do candidato do PT chegar ao segundo turno são grandes. Triste perspectiva para o mercado financeiro, que trabalha em um ambiente de alta volatilidade, pressão e especulação com o atual cenário eleitoral", afirmou a Advanced Corretora em comentário.
É por essa razão que a possibilidade de julgamento na sexta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da participação de Lula na propaganda de rádio e televisão está sendo acompanhada de perto pelos investidores e ajuda a trazer cautela nos negócios.
O TSE também pode vir a decidir na sexta-feira sobre as impugnações ao registro de candidatura de Lula. O petista está preso desde abril no âmbito da Operação Lava Jato.
A pauta da sessão do TSE de sexta-feira divulgada nesta quinta-feira, no entanto, não prevê qualquer processo ligado à candidatura de Lula, embora possa ser alterada até uma hora antes do início previsto para a reunião, que é 14h30 de sexta-feira. Quando a sessão foi convocada, na quarta-feira, no entanto, havia a expectativa do julgamento de Lula.
Fonte ouvida pela Reuters disse que houve uma avaliação de que julgar o registro do Lula no dia seguinte ao prazo de apresentação da defesa dele às impugnações, nesta quinta, poderia passar a impressão de pressa.
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Fonte: Reuters

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