segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Profissionalização é desafio na vitivinicultura

29/09/14 - 11:10 Mesmo sendo responsável por mais de 90% da produção nacional de vinhos, espumantes e suco de uva, a vitivinicultura gaúcha carece de mão de obra qualificada e de profissionalização nos modelos de gestão, indica levantamento recente, realizado junto a 346 empresas, entre as 545 registradas no Cadastro Vinícola do Estado. Além do fraco desempenho administrativo na avaliação geral, o estudo revelou que não basta conhecimento técnico no desenvolvimento agrícola, tem que colocar a mão na massa. Ou na uva, no caso. Um dos principais entraves citados no censo ? realizado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) ? é a escassez de trabalhadores capacitados para realizar estágios operacionais de produção, como safra e colheita. "O que falta é o chefe de cantina, uma pessoa normalmente com maior experiência na área, que cumpra determinações técnicas. É quem vai acompanhar a vinícola no dia a dia, para serviços mais práticos e menos estratégicos", explica Carlos Paviani, diretor executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), entidade que encomendou a pesquisa. Segundo Paviani, o popular "cantineiro" atua em um estágio anterior ao do enólogo, realizando desde trabalhos agrícolas à assepsia dos tanques de fermentação e limpeza das mangueiras. "É quem põe a mão na massa", resume. Embora o Rio Grande do Sul conte com graduações especializadas, essa ainda é uma área não abrangida. O diretor revela que o Ibravin já entrou com uma minuta junto ao Ministério da Educação para a criação do curso técnico de "chefe de cantina". A intenção é que o acesso seja gratuito, via Pronatec. Por outro lado, enólogos não faltam. Desde a fundação do curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), em 1995, foram 336 graduados, que se somam aos 1.233 profissionais de nível técnico, também formados na instituição, localizada em Bento Gonçalves. Larissa Dias de Ávila, coordenadora do curso, informa que em torno de 90% dos egressos ? boa parte oriunda da própria cadeia produtiva da região ? atue na área. Uma consulta realizada junto ao empresariado resultou na diminuição do número de vagas oferecidas pela graduação. De 60 por ano, passaram a 30, revela a docente. "São indícios de que o mercado está ficando saturado", complementa. De acordo com ela, quase todos os produtores em escala comercial contam com ao menos um destes profissionais, responsáveis pela análise e desenvolvimento técnico de todo o ciclo produtivo. Larissa acredita que o mercado esteja bem servido de tecnólogos, mas o atual cenário tem exigido a alocação, ou participação efetiva, em outras etapas do processo, sejam agrícolas ou administrativas. "É necessário uma série de cuidados na própria colheita, muitas vezes não respeitados pela falta de conhecimento. É o enólogo quem deve instruir nesse processo", explica. Erros comuns acarretam em uma baixa qualidade do produto final. A fermentação precoce da uva por excessiva exposição ao sol, por exemplo. Para diretor do Ibravin, tradição pode impedir a inovação Outro grande desafio para a expansão da vitivinicultura no Estado é a profissionalização nos modelos de gestão empresarial. Um indicativo significante é que 86% das empresas gaúchas não contam com equipe específica de vendas. Os próprios proprietários acumulam essa função. Alguns sequer conseguiram ser contatados pelos pesquisadores da UCS para a aplicação do questionário. Para o diretor executivo do Ibravin, existe uma resistência do pequeno produtor em investir nesse tipo de serviço. "Temos muitas empresas familiares mais tradicionais que seguem produzindo o que aprenderam com o pai ou com o avô", afirma Carlos Paviani. "A tradição às vezes impede a inovação." Para estimular a formulação e aplicação de métodos administrativos, o Ibravin tem promovido, em parceria com o Sebrae, atividades de capacitação. "Nosso objetivo é dar mais ferramentas de gestão, como treinamentos para a completa avaliação dos custos de produção e de vendas, os tipos de material a serem produzidos para a promoção da imagem e estímulos para a participação em feiras e circuitos de degustação", explica Paviani. O censo promovido pelo instituto contribuiu para a maior compreensão do setor ? responsável pela produção anual de 40 milhões de litros de vinhos finos e espumantes. "Existem perfis muito diferentes, uns produzem vinho de mesa, outros vinhos finos, espumantes, suco de uva", enumera o diretor. "Uma ação que eu desenvolva para uma vinícola às vezes não serve para outra. Temos que promover ações direcionadas para cada tipo de produção", completa. Um dos coordenadores da pesquisa, o professor Fabiano Larentis, ressalta a necessidade de se investir em estratégias de produção e comercialização. "As empresas de pequeno porte trabalham com produtos mais simples, como a venda vinho a granel, e apresentam modelos de gestão também mais simplificados, no aspecto técnico. Menor valor agregado complica a sustentabilidade destas empresas." Segundo ele, o estudo identificou a insuficiência de políticas empresariais para áreas fundamentais de gestão, como financeiro, RH e comercial. O levantamento, no entanto, indica que 60% dos entrevistados não sentem a necessidade de buscar financiamentos para ampliar seus negócios. Larentis destaca o trabalho do Ibravin como liderança no segmento na busca de alternativas para fortalecer o setor. "Para desenvolver um trabalho mais forte tem que se conscientizar sobre os resultados que uma gestão competente pode trazer. Muitas vezes o produtor não investe por falta de conhecimento e não por não querer mudar." Jornal do Comércio RS - Online Autor: Mateus Frizzo

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