sexta-feira, 29 de março de 2019

CNC: Países produtores solicitam apoio para solucionar crise de preço



Publicado em 29/03/2019 15:19 e atualizado em 29/03/2019 17:19


Em comunicado, nações pedem atuação rápida e responsável na solução do problema, que está devastando comunidades inteiras de produtores
Na terça-feira, 26 de março, o Grupo de Coordenação do Fórum Mundial de Produtores de Café emitiu um comunicado solicitando, com urgência, a todos os atores da cadeia produtiva, que atuem de forma rápida e responsável na solução da atual crise internacional de preços, a qual está devastando comunidades inteiras de produtores em todo o planeta. O Conselho Nacional do Café (CNC) é signatário do documento, que traduzimos abaixo.
DECLARÇÃO DO GRUPO DE COORDENAÇÃO DO FÓRUM MUNDIAL DE PRODUTORES DE CAFÉ
NAIRÓBI, QUÊNIA
26 DE MARÇO DE 2019
Nairóbi, 26 de março de 2019 - A atual crise social e econômica criada pelos preços internacionais do café extremamente baixos chegou a um ponto em que a cadeia de valor do café, como um todo, não pode seguir falando a respeito sem tomar medidas sérias e imediatas.
De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), aproximadamente 25 milhões de famílias, em sua maioria pequenos produtores, produzem café no mundo. Atualmente, a maioria deles sequer pode cobrir os custos de produção e muitos desses produtores nem sequer podem ganhar a vida para eles e suas famílias

O mundo consome 1,4 bilhão de xícaras de café ao dia (*) e os consumidores pagam preços muito altos por elas (US$ 3,12 nos Estados Unidos, US$ 4,60 em Shanghai e US$ 6,24 em Copenhague, em 2018**). Em muitos casos, chega-se a esses preços com a promessa de que o café é sustentável. No entanto, a promessa de sustentabilidade geralmente se concentra apenas em dois de seus três aspectos: ambiental e social. A sustentabilidade econômica, a renda dos cafeicultores de fato, tem sido negligenciada pela cadeia de valor do café sob a premissa de que "o mercado é o mercado" e devemos deixá-lo governar.
O atual Contrato "C" foi criado como referência de preço para uma cesta de cafés arábicas suaves, de qualidade similar, conhecidos como "Centrais". Hoje, com várias mudanças introduzidas ao longo do tempo, é amplamente reconhecido que o preço baseado no contrato futuro "C" não cobre os custos de produção para a maioria dos produtores devido a vários fatores, incluindo a especulação dos fundos, que não compreendem ou não se importam com o café.
Em 1982, o preço do café flutuou entre US$ 1,18 e US$ 1,41 no mercado internacional e uma xícara de café ficou em US$ 1,10 nos Estados Unidos; em 2018, o preço médio de um quilo de café arábica no mercado internacional foi de US$ 1,01. Em 22 de março de 2019, o preço ficou abaixo de US$ 0,95. Os produtores de café têm perdido mais de 80% de sua capacidade de compra nas últimas décadas.
O atual processo de empobrecimento dos produtores de café está destruindo o tecido social nas áreas rurais de mais de 40 países na África, Ásia e América Latina, o que leva a um aumento da criminalidade nas nações produtoras, a uma maior pobreza nas cidades e a migrações em massa para Estados Unidos e Europa. Em alguns países, a crise atual se tornou incentivo para os produtores mudarem para cultivos ilegais porque não podem viver apenas do café.
A qualidade e a disponibilidade também estão ameaçadas. Os produtores que permanecem na cafeicultura não poderão pagar pelo cuidado adequado de suas lavouras e seu café, o que leva à fertilização e a cuidados inadequados nas plantas, afeta a qualidade e priva os consumidores da diversidade que eles desfrutam hoje em dia. A adaptação e a mitigação dos efeitos da mudança climática são outros encargos que recaem sobre os ombros dos produtores.
Os países produtores e os outros atores estão preocupados com o fato de o Contrato "C" não ser o mecanismo correto para formar referência de preço e que, ao permitir o empobrecimento dos produtores, a indústria de café está arriscando seu próprio futuro.
A atual crise de sustentabilidade econômica dos produtores de café deve ser abordada imediatamente antes que se converta em uma crise humanitária. Deve-se implementar um enfoque embasado no princípio de corresponsabilidade e transparência total para garantir que todos os elos da cadeia de valor sejam rentáveis e saudáveis. Mesmo que um café resulte em uma excelente bebida, se isso ocorre a custas da dignidade, do valor ou do bem-estar das pessoas e da terra, não pode ser realmente um café sustentável. A ICE (bolsa de Nova York) não pode estar ausente nessa discussão.
Os produtores de café de todo o mundo estão procurando, durante anos, o resto da cadeia de valor com a esperança de uma abordagem coletiva, construtiva e realista para garantir a sustentabilidade econômica dos produtores. A resposta – infelizmente – tem sido muito fraca. Quando se trata da sustentabilidade econômica dos produtores de café, está claro: NÃO AGIR NÃO É UMA OPÇÃO!
* Pesquisa: Organização Internacional do Café
** Pesquisa: Statista
Lista de Associações, Federações e países que assinam a declaração
ACRAM – Agence des Cafés Robusta d’Afrique et Madagascar
Camarões, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Gabão, Madagascar, República Democrática do Congo, Togo
AFCA - African Fine Coffees Association
Burundi, Camarões, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Quênia, Malawi, Rwanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue
AMECAFE - Asociación Mexicana de la Cadena del Café
ANACAFE - Asociación Nacional del Café Guatemala
BSCA - Brazilian Specialty Coffees Association
CNC – Conselho Nacional do Café – Brazil
CONAPROCAFE - Coalición Nacional de Organizaciones de Productores de Café – México
FNC - Federación Nacional de Cafeteros de Colombia
IACO - Inter-African Coffee Organization
India Coffee Trust
PROMECAFE
México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana, Jamaica
SCA – Specialty Coffee Association USA
VICOFA - Vietnam Coffee and Cocoa Association
Tags:
 
Fonte: CNC

Nenhum comentário:

Postar um comentário