Publicado em 24/05/2019 09:33
No final do mês de abril de 2019, chegaram à Embrapa Trigo solicitações referentes a um conjunto de sintomas que estaria ocorrendo em lavouras de trigo em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, as quais apontavam para a ocorrência de manchas nas folhas com a coalescência das mesmas a ponto de provocar a morte das plantas. Com o objetivo de estabelecer um diagnóstico sobre a causa desse quadro sintomatológico, pesquisadores da Embrapa Trigo, Embrapa Cerrados e Epamig1 percorreram essa região tritícola do País para avaliar a situação. Durante cinco dias, de 06 a 10 de maio, foram visitadas 18 lavouras (seis em MG, sete em GO e cinco no DF). Também foram visitadas parcelas experimentais conduzidas pela Embrapa Trigo em Uberaba, MG; na Fazenda Experimental de Sertãozinho da Epamig em Patos de Minas, MG; e na Embrapa Cerrados em Planaltina, DF.
Nas parcelas experimentais e na maioria das lavouras visitadas, confirmou-se quadro compatível com o descrito nas solicitações que chegaram à Embrapa Trigo, havendo variações de acordo com o estádio de desenvolvimento das plantas. Nas lavouras com plantas em estádio de perfilhamento e alongamento, percebia-se grande ocorrência de manchas nas folhas mas, na grande maioria dos casos, sem a ocorrência de coalescência das lesões. A característica principal destas manchas é a de que apresentavam formato em elipse, com centro claro e bordos escuros (Figura 1). Nas lavouras já em fase de espigamento, havia muita coalescência de lesões nas folhas, com grande parte delas já totalmente secas na parte inferior das plantas. Também foi observado que, nas folhas de algumas plantas, havia algumas lesões mais escuras. As espigas geralmente estavam secas, com tons variando de branco a branco amarronzado (Figuras 2). A partir das observações feitas a campo, ficou claro que havia diferentes sintomas foliares ou de espiga, cuja presença e severidade dependiam da cultivar, local e época de semeadura (Figura 3).
Além da observação visual das plantas nas lavouras, foram estabelecidos 27 pontos de coletas de amostras de folhas de trigo nos locais visitados, cujos municípios são apresentados na Figura 4. Para cada ponto foi estabelecido um formulário protocolar em que foram anotadas as características das plantas e ou das lavouras de onde as amostras foram coletadas. Entre os itens listados, foram incluídos aspectos como data de semeadura, dados de georreferenciamento, adubação, cultivar e fungicida(s) aplicado(s), dentre outros.
O exame das amostras coletadas foi realizado no Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Trigo em Passo Fundo, RS. As folhas destas amostras foram utilizadas em procedimentos culturais para determinação do agente causal do sintoma caracterizado como ‘mancha foliar’. 1 Epamig - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais NOTA TÉCNICA De cada amostra, três folhas sintomáticas foram analisadas. Em duas delas, foram selecionadas lesões características, as quais foram recortadas e submetidas ao plaqueamento em meio de cultura com BDA+estreptomicina. De cada folha, foram plaqueadas de 3 a 10 lesões (Figura 5), separadas em dois grupos: (a) as de formato em elipse; e (b) as de formato diferente de elipse, podendo ser escura ou clara. A terceira folha foi submetida a outra técnica cultural para identificação de agentes fitopatogênicos, qual seja, a câmara úmida.
Os resultados obtidos com o crescimento de fungos a partir das lesões das folhas determinaram a presença de Pyricularia oryzae, agente causal da brusone em todas as 27 amostras coletadas. Do total de 182 lesões em formato de elipse avaliadas, 76% delas apresentaram estruturas de P. oryzae. Das 217 lesões com formato diferente de elipse, 70% apresentaram estruturas de P. oryzae. Também foi constatada a presença de estruturas do fungo Bipolaris sorokiniana, agente causal da mancha marrom do trigo, em 15,3% das lesões avaliadas, especialmente nas amostras coletadas em plantas já em fase de espigamento.
Os resultados obtidos pela técnica de câmara úmida permitiram a identificação da presença de estruturas do fungo P. oryzae em 23 das 27 amostras avaliadas. Adicionalmente, foram realizadas avaliações da presença de fluxo bacteriano no tecido foliar de amostras escolhidas aleatoriamente dentre as coletadas. No entanto, o referido fluxo, que poderia indicar a ocorrência de infecção bacteriana, não foi constatado em nenhuma das amostras avaliadas.
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