Publicado em 30/03/2020 18:53
NOVA YORK/SÃO PAULO (Reuters) - A Raízen, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, declarou força maior em contratos de compra de etanol de usinas locais, em um mercado impactado pelos efeitos do coronavírus, enquanto a BR Distribuidora, a maior do setor, disse que identificou a necessidade de flexibilizar volumes.
A Raízen confirmou informações de fontes do mercado, que relataram mais cedo o movimento.
A empresa, joint-venture 50-50 entre Cosan e Shell, enviou uma carta a todos seus fornecedores de etanol na última sexta-feira afirmando que não vai cumprir contratos para compra de etanol devido à queda no consumo de combustíveis no Brasil, causada pelo isolamento relacionado à pandemia de coronavírus, afirmaram as fontes.
"Em razão da queda na demanda por combustíveis verificada por conta das medidas de 'lockdown' para combate à pandemia de coronavírus, a Raízen começou a sinalizar aos seus fornecedores de etanol a necessidade de revisão dos volumes originalmente programados", disse a companhia, em nota à Reuters.
A Raízen, além de distribuidora de combustíveis, também tem uma divisão que atua na produção de etanol, açúcar e bioenergia.
Embora ainda não estejam claros, neste momento, todos os impactos que esta crise trará para as suas operações, a Raízen está focada em fortalecer suas parcerias estratégicas com fornecedores de etanol", acrescentou.
"Neste sentido, optamos, como outras empresas do setor, por dar a notícia sobre o evento de força maior em curso o quanto antes possível, de maneira a permitir que os fornecedores possam planejar suas operações com base nisso."
"Nós recebemos a carta", disse um corretor de São Paulo que pediu para não ser identificado, uma vez que as negociações são privadas.
Ele afirmou que o mercado de etanol no Brasil está desordenado em meio ao isolamento, com apenas alguns negócios ocorrendo, uma grande diferença entre as ofertas das usinas e das distribuidoras, e muita incerteza para os próximos dias.
"A pandemia levou a uma queda imediata e expressiva da demanda pelos produtos comercializados pela Raízen em todo país, caracterizando-se, portanto, como um evento de força maior... A Raízen se vê impedida de cumprir com as obrigações decorrentes dos contratos", aponta uma carta enviada pela empresa, a qual a Reuters teve acesso.
"Não iremos retirar a integralidade dos volumes apontados para o mês de março, bem como faremos a revisão dos volumes aplicáveis aos meses subsequentes que forem necessários para a compatibilização das compras da Raízen com a efetiva demanda do mercado pelos seus produtos", completou a companhia.
A notícia foi divulgada inicialmente pela Bloomberg.
BR
Já a BR Distribuidora afirmou, após ser procurada, que o cenário atípico fez com que a companhia identificasse a "necessidade de flexibilizar o percentual de variação de volume assegurado em contrato até que todo o mercado se normalize".
Mas, ressaltou a empresa, isso não representa cancelamento de contratos de etanol.
O movimento da BR visa "somente reduzir o volume mensal de aquisição em percentual superior ao previsto em contrato, sem que isso implique em descumprimento do mesmo".
"Ressalta-se ainda que contratualmente há uma cláusula que exclui a responsabilidade das partes contratantes em caso fortuito ou de força maior."
Paralelamente, a BR disse que também tomou algumas medidas junto a sua revenda, prorrogando, por exemplo, o prazo para cumprimento do volume contratado, "entendendo que o momento é de espírito colaborativo, unindo forças para minimizar o impacto da crise em todos os atores envolvidos".
Demanda por óleo vegetal na Índia deve recuar pela 1ª vez em décadas
MUMBAI/NOVA DÉLHI (Reuters) - A demanda por óleos vegetais na Índia está a caminho de recuar pela primeira vez em décadas, com restaurantes fechando as portas para cumprir a ordem de isolamento do governo, que impôs um "lockdown" de 21 dias em todo o país para conter a propagação do coronavírus.
O consumo de óleos vegetais na Índia, maior importadora de insumos de cozinha do mundo, triplicou ao longo das últimas duas décadas, diante do crescimento populacional, do aumento da renda e da expansão dos restaurantes para atender a uma multidão que passou a comer fora de casa com mais frequência.
Agora, porém, a maior parte dos membros do setor e das autoridades comerciais concorda que a demanda indiana por óleos vegetais --em especial óleos de palma e soja-- vai cair abaixo dos 23 milhões de toneladas do ano passado.
O consumo no país deve recuar por pelo menos um trimestre durante o isolamento, que teve início na última terça-feira, disseram alguns comerciantes.
"Nossas estimativas iniciais sugerem que a demanda por óleo vegetal vai cair em cerca de 475 mil toneladas durante o lockdown de 21 dias", afirmou Sandeep Bajoria, presidente-executivo da importadora Sunvin Group.
Os indianos, conhecidos por seu apetite por comidas muito calóricas, como o curry, e por alimentos fritos, consomem cerca de 1,9 milhão de toneladas de óleo vegetal por mês. Os restaurantes utilizam principalmente óleo de palma, responsável por dois terços das importações de óleo vegetal do país.
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