segunda-feira, 30 de março de 2020

Guedes se divide entre isolamento de 2 meses e retomada econômica "que desaba"



Publicado em 30/03/2020 08:12 e atualizado em 30/03/2020 09:18

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a estimativa do governo é que a área da saúde precisa de três meses de isolamento para superar o novo coronavírus, mas ponderou que talvez o País não aguente todo esse tempo. "Como economista, gostaria que pudéssemos retomar a produção. Como cidadão, ao contrário, aí já quero ficar em casa", disse Guedes, durante videoconferência promovida pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Durante o encontro, Guedes falou também que o contágio pelo novo coronavírus está se acelerando no Brasil, com a previsão de aumento do número de casos até junho. "Do ponto de vista da saúde, o isolamento teria que ser de três meses. Do ponto de vista econômico, na medida em que (a covid-19) sobe vertiginosamente, a atividade desaba", avaliou Guedes.
O ministro da Economia afirmou que a economia brasileira aguenta ao menos parte do período necessário de paralisação por causa do isolamento, desde que a linha básica para entrega de itens essenciais como alimentos, suprimentos e medicamentos continuar a funcionar.
Ele disse que, para o Ministério da Saúde, seria precipitado interromper o isolamento antes de pelo menos dois meses.
"Do ponto de vista da economia, a gente sabe que um mês a economia aguenta. A Tereza (Cristina, da Agricultura) e o Tarcísio (de Freitas, dos Transportes) estão fazendo belíssimo trabalho. Se a linha básica de alimentação, suprimento, remédio funcionar, pedir comida em casa. Se isso pelo menos funcionar, você estica um pouco. Aguenta 1 ou 2 meses, isso funcionando você talvez aguente os três meses sem o colapso completo da economia. Passou dos dois meses e meio, três meses, a economia começa a se desorganizar. Estamos esticados, espremidos", considerou.
Em meio aos embates internos no governo federal sobre a importância do distanciamento social e da retomada econômica mais imediata, Guedes disse que é preciso "ter respeito pela opinião dos dois lados".
-- "Vamos discutir de forma construtiva. Essa linha de equilíbrio (entre saúde e economia) é difícil. Em dois, três meses vai rachar para um lado ou para o outro."

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Principais pontos:
• Esforço enorme em mostrar que equipe econômica está fazendo tudo o que é necessário para este momento de crise, sempre com cuidado para não criar gastos permanentes.
• Fala convicta de que não há discussão alguma sobre sua saída e que relação com Congresso continua boa. “Sair? Conversa fiada total! Não vou sair. Estamos combatendo um meteoro. Como que eu vou deixar o país nesse momento?”

• Algumas das cias citadas:
- Vale e Ambev doando testes de coronavírus
- Stone e PagSeguro serão canal para as políticas para pequeno e microempreendedor
- Banco do Brasil tem acionistas minoritários e não pode fazer o que Caixa e BNDES fazem
- Azul e outras aéreas precisam de ponte de liquidez neste momento, foi o que Warren Buffet fez com Goldman Sachs em 2008
Notas detalhadas:
• Impacto será forte, mas no Brasil estamos em posições diferentes do ciclo vs outros países. Mundo era um avião pousando, e COVID-19 acelerou isso. Nós não, nós estávamos em aceleração econômica, 1Q20 estava girando a quase 3% de crescimento de PIB (arrecadação 20% acima do esperado) quando chegou o vírus.
• Nossa primeira reação foi infraconstitucional. Começamos pela liberação de compulsório. Atacamos rapidamente setor de saúde e outros setores-chave.
• Ia ser um trimestre excepcional com recuperação econômica e reformas caminhando no Congresso, tudo já estava combinado e negociado.
• Vimos a seriedade da crise e trouxemos a discussão no dia da pauta-bomba do BPC. Naquele dia, Mandetta nos explicou a gravidade que a crise teria.
• Primeiras medidas foram essas: liberação de compulsório para bancos proverem liquidez às empresas e liberação de recursos ao Mandetta. Injetamos muitos recursos logo nesse primeiro momento.
• Por outro lado, não podemos nos esquecer da Lei de Responsabilidade Fiscal, não podemos criar despesas novas. O que fizemos foi postergação de impostos e antecipação abono salarial e benefícios a aposentados. Tudo infraconstitucional.
• Todas as reformas estavam caminhando muito bem, todos os relatores muito animados. Clima era interessante. Não sem fricção política, como de costume, mas caminhando. Em meio a isso, fomos atingidos por essa onda de fora.
• Liberamos compulsório (R$200b), empréstimos de BNDES e Caixa (R$150b) e fizemos diferimentos/antecipações (R$150b). No total, tudo isso significa R$500b de liquidez a mais na economia. Além disso, auxílio a informais (R$50b) e empréstimos de folha de pagamento (R$50b).
• Fila do Bolsa Família cresce em ano eleitoral. Neste ambiente, decidimos colocar todo mundo pra dentro e depois vamos checar quem é fraude. No passado era o contrário: demorávamos a aprovar.
• Ninguém é contra transferência de renda para os mais frágeis, somos contra benefícios perversos. De repente, trabalhadores, autônomos foram pegos de surpresa.
• 38m de brasileiros terão direito a R$600/mês. 
• Nós, governo, vamos ajudar as pequenas empresas. Vamos complementar parcela de salário que empresas não puderem pagar.
• Além disso, estamos fazendo empréstimo na folha salarial. Isso evita o empoçamento de liquidez que estava acontecendo nos bancos após liberação de compulsório.
• Teremos um déficit extraordinário, mas não tem problema. Não podemos deixar os brasileiros para trás nesse momento.
• O pacote atual é de ~R$750b, e ele pode aumentar se for necessário.
• Não podemos esquecer nossas conquistas. Corrigimos gasto público, baixamos juros, fizemos reforma da previdência, desalavancamos banco públicos. Tudo isso destrava investimentos. 
• No fim, todo mundo vai entender que gastamos muito, mas fizemos o que era necessário. Nós vamos pagar isso, não vamos deixar isso para gerações futuras. Não haverá mais endividamento em bola de neve.
• Vamos gastar 4,8-5,0% do PIB esse ano.
• Equipe está focada, presidente está focado. Estamos em uma democracia. Perfeitamente normal que presidente faça um alerta. Preocupação legítima. Passada a primeira onda da saúde, pode vir a segunda, econômica. Em democracia, todo mundo tem direito a opinião.
• Nosso Banco Central não pode interagir com setor real, só com bancos. Isso é um problema e será resolvido. O problema atual é esse, liberamos liquidez e ficou empoçado nos bancos.
• Tem 10-15 decisões relevantes a serem tomadas todo o dia. Exemplo: Mandetta pede pra bloquear exportação de máscara, 6 dias depois me falam que temos um problema diplomático com a Itália porque não mandamos mais máscara.
• Reclamam que eu não estou em Brasília, mas no Rio eu consigo fazer reunião por telefone, videoconferência. Eu morava em um hotel em Brasília. Recebi ligação dizendo que hotel seria fechado. Eu fui despejado! Tinha teste negativo do vírus, e vim pro Rio.
• Sair? Conversa fiada total! Não vou sair. Estamos combatendo um meteoro. Como que eu vou deixar o país nesse momento?
• Eu passei a aparecer menos porque estou trabalhando muito, 24h por dia. Tenho que escolher: ou faço reformas ou apareço. Quem anuncia é Roberto Campos, Pedro Guimarães, Solange Vieira. Eu estou trabalhando com todos.
• Nenhum brasileiro vai ficar para trás. É um gasto grande, mas é necessário.
• Temos interagido também com o setor real. Montamos 12 grupos de monitoramento e escutamos 190 entidades, das quais 103 enviaram pleitos, média de 7 pedidos cada um. Entidades representando companhias aéreas, bares e restaurantes etc. Analisamos esses 720 pedidos e separamos em 4 categorias: trabalhista, tributária, regulatória e disponibilidade de crédito. Estamos analisando tudo.
• Essas empresas de maquininha como PagSeguro e Stone estão ajudando os pequenos empreendedores e pequenas empresas, vão nos ajudar também. Estamos discutindo isso.
• Vamos ajudar quem mantem emprego. É a defesa da saúde e do emprego do brasileiro.
• Ponto de estrangulamento será os ventiladores pulmonares. Há 4 produtores no Brasil. Produzíamos 250/semana no Brasil. Passamos para 1000, mas precisamos de 1400/semana. Não é muito simples produzir. Nos EUA, GM prometeu produzir, depois viu que não conseguiria e Trump acabou tuitando contra a GM.
• Precisamos escalabilizar os testes. Se formos passar de isolamento horizontal para vertical mais para frente, isso será necessário.
• Empresas estão ajudando. Vale importou testes e testou funcionários. Ambev anunciou que vai comprar 1m de testes, usar 70k e doar o resto. XP poderia comprar testes também e nos ajudar.
• Calamidade pública é caso agudo de emergência fiscal. É temporário. Não podemos aprovar nenhuma medida permanente.
• Temos que destravar investimento. Em infraestrutura, saneamento, privatizações, cabotagem. Vamos dar um exemplo para o mundo.
• Temos democracia sólida. Muito barulho, discussão, o que é natural. Conseguimos aprovar reforma da previdência.
• Estamos em isolamento para conter a primeira onda, da saúde; mas não podemos esquecer da segunda onda. Daqui 4-5 meses, com reformas, juro baixo e câmbio mais alto; vamos dar exemplo de retomada para o mundo. Brasil está apontado para cima.
• Microempresário que interage com maquininha, vai ter que contactar pessoal da maquininha. Quem interage com banco, vai continuar assim. Mensagem ao empresário é: “não demita”.
• Salário de servidor público subiu acima da inflação nos últimos 17 anos. Conversávamos sobre como travar isso daqui pra frente. Demoramos muito, a ponto de chegar demanda da rua para redução de salário do funcionalismo público. Isso está sendo discutido. Existe também discussão de tributar mais as empresas grandes.
• Nâo me atraem essas medidas deflacionárias. Não acho que é momento de fazer isso. Acho mais construtivo ao país travar reajuste do funcionalismo público. Não podemos quebrar as duas pernas das grandes empresas.
• No início, ninguém tem dúvida que o isolamento é necessário. Mas é preciso encontrar um ponto ótimo para evitar colapso econômico. Eu não me arrisco em assuntos de saúde. Não há entendimento entre ministérios sobre duração do isolamento. Não entendo de saúde, mas no campo econômico, precisamos (i) manter safra agrícola, (ii) manter supermercados e farmácias funcionando. Se isso for feito podemos segurar o isolamento um pouco mais. Mas sobrevida econômica com lockdown total é curta. Não há consenso ainda. Saúde fala em necessidade de 3 meses; equipe econômica acha que empresas não sobrevivem mais de 2 meses. Precisamos discutir.
• BNDES e Caixa são 100% nossos, temo mais flexibilidade. Banco do Brasil tem acionista minoritário, é diferente.
• Precisamos dar uma ponte de liquidez para companhias aéreas como Azul. Warren Buffet fez isso com Goldman Sachs na crise de 2008.
• Vamos colocar dinheiro do Tesouro no crédito, mas bancos tem que ter skin in the game, risk-sharing.
• Tenho certeza absoluta de que vamos superar essa crise e sair melhores disso. Cada um de nós tem que ajudar.
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Fonte:
 Estadão Conteúdo/XP

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