sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Mercado brasileiro de trigo se prepara para mais um ano de restrição de oferta na Argentina
Mercado brasileiro de trigo se prepara para mais um ano de restrição de oferta na Argentina
TRITICULTURA
27/12/2013 | 21h10
Na avaliação de analistas do mercado, a dependência do cereal de outros mercados pode gerar uma pressão inflacionária
A indústria moageira nacional espera contar com maior oferta de trigo do Mercosul em 2014, mas se prepara para conviver com liberações controladas na Argentina e com a possibilidade de recorrer a outros mercados já no segundo trimestre. No último ano, o tradicional parceiro do bloco colheu uma das menores safras da história, obrigando o Brasil a se abastecer nos Estados Unidos. Em 2013/2014 a produção argentina cresceu, mas os estoques quase zerados do grão e a preocupação em evitar que os preços internos voltem a disparar por falta de produto devem fazer com que o governo do país limite mais uma vez as vendas externas, na opinião do mercado.
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Para os moinhos brasileiros, que três anos atrás compravam da Argentina 90% do trigo importado, a falta de previsibilidade no fornecimento é o maior problema. Negociar com a Argentina é vantajoso, pois a operação pode ser feita rapidamente e a logística é favorável. Já recorrer ao mercado norte-americano demanda um planejamento de prazo mais longo, além de significar maior desembolso – o frete é mais caro e sobre a importação incide Tarifa Externa Comum (TEC), de 10%.
– Não tememos desabastecimento, mas a questão será onde buscar trigo – resume o diretor-presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.
Nos cálculos de um comprador de trigo do Nordeste, a Argentina deve assegurar estoques de pelo menos 1,5 milhão de toneladas de trigo e liberar para exportação o excedente, de cerca de três milhões de toneladas, volume a ser disputado pelo Brasil e outros países da América Latina. O Uruguai destinará ao exterior aproximadamente 800 mil toneladas e o Paraguai terá oferta pouco expressiva pois, como o Paraná, foi prejudicado pelo clima. O Brasil poderia contar então, segundo as fontes ouvidas, com cerca de 3,5 milhões de toneladas do Mercosul e 4,5 milhões de toneladas da safra nacional. Como a moagem é de 10,5 milhões de toneladas/ano seria necessária a compra de 2,5 milhões de toneladas de terceiros países. Em 2013, esse foi o volume buscado pelo Brasil nos Estados Unidos – mais precisamente 2,499 milhões de toneladas entre janeiro e outubro.
Na avaliação de analistas do mercado, a dependência do cereal de outros mercados pode gerar uma pressão inflacionária no próximo ano. Os preços do trigo não devem oscilar muito no mercado internacional, já que a produção global cresceu, mas o câmbio valorizado e a TEC elevarão a despesa. Se isso se confirmar, os moinhos devem voltar a pedir ao governo a isenção da TEC. Em 2013, esse pedido foi apresentado em fevereiro e a partir de março a importação sem o imposto foi liberada e se estendeu até novembro.
No próximo ano, o setor produtivo espera que isso não se repita para não desestimular o plantio da safra nacional. O Paraná, maior produtor de trigo pão, deve continuar investindo na cultura, em especial na região centro-sul do Estado, onde não é possível cultivar milho segunda safra.
– O preço está bom, bem acima do mínimo de garantia – destaca Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Ele lembra o governo autorizou a inscrição de novos campos de produção de sementes de trigo para compensar a perda de produção em 2013 por causa das geadas, o que garantirá o insumo aos produtores que optarem pelo trigo.
Além disso, há uma expectativa de que o Plano de Safra de Cereais de Inverno seja divulgado ainda em fevereiro para sinalizar como será o apoio ao setor no próximo ano. Além do reajuste do preço mínimo de garantia, triticultores esperam contar com a garantia de contratos de opção de venda futura ou de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), mecanismo que assegura a comercialização a preços remuneradores na entrada da safra.
A perspectiva, porém, é positiva para o trigo nacional ao longo do primeiro semestre, na avaliação de Mafioletti. Segundo ele, o atraso na oferta do grão na Argentina e a inexistência de estoques de trigo por parte do governo favorecem o produtor, em especial os gaúchos que colheram mais de 3 milhões de toneladas em 2013.
– Até setembro/outubro do próximo ano não vamos ter trigo novo no Brasil. Os agricultores gaúchos não devem ter pressa em negociar – disse ele.
Agência Estado
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