sexta-feira, 29 de junho de 2018

Os mercados de Produtos Florestais no Brasil em 2017 e 2018



O Brasil se destaca no cenário internacional por suas extensas florestas nativas tropicais e pelo plantio de florestas homogêneas com espécies exóticas



Segundo dados da FAO, em 2015, o Brasil detinha 59% do território coberto com 493,5 milhões de hectares de florestas (naturais e plantadas), o que representa 12% do mundo. A maioria delas é natural (485,7 milhões de hectares), mas que muitas vezes não são exploradas de maneira sustentável. Segundo a FAO, entre 2010 e 2015, o Brasil reduziu em 984 mil hectares suas florestas naturais.
O País também se destaca pelo plantio de florestas homogêneas, em especial de pinus e eucalipto. Em 2016, essas florestas totalizaram 7,84 milhões de hectares, sendo 72,3% de eucaliptocultura e 20,2%, de pinocultura. Essas espécies exóticas permitem a produção de diversos produtos, como celulose, papéis, chapas de madeira, madeira serrada e lenha, que são negociados em mercados distintos.
CELULOSE – Ano a ano, o Brasil tem ampliado sua produção de celulose, que foi de 17,4 milhões de toneladas em 2015, de 18,8 milhões de toneladas em 2016 e de 19,5 milhões de toneladas em 2017, segundo a IBÁ (Indústria Brasileira de Árvores). Desde 2016, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de celulose, destinando a mercados exteriores 2/3 de sua produção.
Essa commodity não é negociada em mercado futuro, mas se caracteriza por expressivos ciclos de preço. A produção de celulose cresce por saltos, enquanto a demanda por celulose sobe linearmente ano a ano. Não há novas unidades produtivas de celulose desde 2017, o que faz com que a demanda cresça mais do que a oferta.
Existem dois tipos básicos de celulose negociada nos mercados: a de fibra longa (NBSKP) e a de fibra curta (BHKP). Nos EUA, por exemplo, o preço da tonelada de NBSKP passou de US$ 990 em dezembro de 2016 para US$ 1.300 em abril de 2018 (segundo dados da Natural Resources Canada), alta de 31,3%. Já no Brasil, o preço sem desconto da tonelada de BHKP passou de US$ 655 em dezembro de 2016 para US$ 1.050/t em junho de 2018, elevação de 60,3% (segundo dados do Cepea).
Essa alta no preço da celulose em dólar nos últimos 18 meses, associada a fases de desvalorização do Real frente ao dólar, deveria elevar as cotações em Reais dos demais produtos florestais oriundos de florestas plantadas, considerando-se a transmissão de preços entre as cadeias produtivas. No entanto, isso não ocorre. Por quê?
PAPÉIS – O Brasil é o oitavo maior produtor mundial de papéis, mas sua produção não tem crescido nos últimos anos, tal como no caso da celulose. O País produziu 10,4 milhões de toneladas de papéis em 2015, 10,3 milhões de toneladas em 2016 e 10,5 milhões de toneladas em 2017. Cerca de 80% da produção nacional de papéis é vendida no mercado doméstico, que teve forte recessão em 2015 e 2016 e tímido crescimento em 2017 e 2018. Essa orientação da produção a mercado pouco dinâmico (no caso, voltado a vendas domésticas) explica, também, o fato de os preços em Reais dos papéis pouco se alterarem em cenário de alta dos preços em dólar da celulose.
Cotado em Reais, o preço sem desconto da tonelada de celulose de fibra curta passou de R$ 2.196 em dezembro de 2016 para R$ 3.818 em junho de 2018, aumento de 74%. Nesse mesmo período, o preço em Reais da tonelada de papéis off set vendida pela indústria a grandes compradores no estado de São Paulo aumentou apenas 3,7%, e o preço em Reais da tonelada de papéis kraftliner, 10,1%.
PAINÉIS DE MADEIRA DE REFLORESTAMENTO – Esse mercado tem poucos itens (MDF/HDF, MDP e HB), produzidos por apenas alguns agentes e é voltado especialmente ao mercado doméstico. Segundo a IBÁ, a produção passou de 7,5 milhões de metros cúbicos em 2015, para 7,3 milhões de metros cúbicos em 2016 e chegando a 7,8 milhões de metros cúbicos em 2017. A elevação da produção em 2017 está atrelada, em grande parte, ao aumento das exportações desses painéis. Em 2016, cerca de 14% da produção nacional desses tipos de painéis de madeira foi exportada, percentual que passou a 15,9 em 2017.
MADEIRAS SERRADAS – Os dois principais mercados de madeiras serradas no Brasil são os de essências nativas (oriundas, principalmente, da Amazônia e do Centro-Oeste) e o de essências exóticas (pinus e eucalipto). Os dados do Cepea sobre os preços desses tipos de madeira negociados em São Paulo mostram pouco crescimento em 2017 e 2018.
Os preços em Reais do metro cúbico da prancha de eucalipto na região de Bauru (SP) caíram 7,7% entre dezembro de 2016 e maio de 2018, passando de R$ 1.400,00 para R$ 1.292,33. Para a prancha de pinus, houve aumento de 2,4% no mesmo período, saindo de R$ 741,03 para R$ 759,11. Também em Bauru, entre dezembro de 2016 e maio de 2018, os preços médios das pranchas cumaru, ipê e peroba subiram 7,1%, 5,6% e 3,9%, respectivamente (dados do Cepea).
LENHA E CAVACOS – Um dos mercados menos dinâmicos em termos de variações de preços nos últimos 18 meses foi o de lenha, em especial no estado de São Paulo. Os dados do Cepea para a lenha cortada e empilhada na fazenda de eucalipto indicam aumento de 2,5% nos preços entre dezembro de 2016 e maio de 2018 na região de Bauru, mas queda de 1,1% em Sorocaba no mesmo comparativo.
Considerando-se os preços da madeira em pé de eucalipto para produzir cavacos, permaneceram em R$ 34,00 por estéreo na região de Sorocaba em dezembro de 2016 e em maio de 2018 e passaram de R$ 29,00 para R$ 31,50 na região de Bauru, alta de 8,6% (madeira em pé na fazenda). Esse cenário foi observado apesar de a alta do preço em Reais da celulose vendida no mercado paulista ter sido de 74%.
O mercado de madeiras in natura no estado de São Paulo tem enfrentado duas situações desvantajosas aos agricultores nos dois últimos anos: excesso de oferta e contratos indexados no preço da madeira. Diferente da Bahia, em que os contratos de fornecimento de madeira são corrigidos pelo IGP-DI, há muitos contratos em São Paulo corrigidos pelo preço de mercado. Porém, são os grandes compradores, detentores de grandes florestas, que fixam esse preço de mercado.
ASPECTOS IMPORTANTES – Produtores agropecuários devem se atentar a dois aspectos fundamentais do mercado de madeira: o relativo longo prazo de retorno do capital investido e o tipo de contrato que fixam para a venda da madeira. O contrato ideal deve contemplar uma parte do preço da madeira in natura corrigida por um indicador de inflação, outra parte pelo preço do produto industrial que irá utilizar a madeira e a outra parte pelo preço de mercado ao qual a madeira pode ser alternativamente alocada. Isso evita que um fazendeiro veja o preço da madeira in natura que vende ficar com preços estáveis em Reais nos últimos 18 meses, enquanto produtos industriais que utilizam essa madeira tenham altas de preços em Reais de até 74%.
Carlos José Caetano Bacha - Professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea


Data de Publicação: 29/06/2018 às 10:00hs
Fonte: CEPEA

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