quinta-feira, 2 de maio de 2019

Mamona vira alternativa de tratamento a vítimas de acidentes no Brasil

Descoberto na década de 90, polímero de óleo da planta é usado para reconstruir estruturas ósseas de coluna e face após traumas

Uma descoberta feita na década de 90 pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, está transformando a vida de pessoas vítimas de traumas causados por acidentes. Ele desenvolveu um polímero, material semelhante ao plástico, a partir do óleo de mamona que, por causa de sua porosidade, adere à estrutura óssea com o passar do tempo. O material biocompatível, isto é, que não provoca rejeições no corpo, agora, é também usado por cirurgiões dentistas no tratamento de traumas nos ossos da região da face.
Um dos pioneiros na utilização do polímero de mamona para reconstrução óssea facial foi o cirurgião buco-maxilo-facial, Renato Marano Rodrigues, de Vitória (ES). Ele defendeu tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) por meio da qual comparou o uso de dois materiais biocompatíveis consagrados pela medicina (titânio e polietileno poroso de alta densidade) com o originado da mamona. Ao todo, 67 pacientes foram submetidos a procedimentos cirúrgicos que variaram o uso dos três biomateriais.
Segundo o profissional, os resultados obtidos com o polímero da planta foram satisfatórios. “Os ossos da face são finos e difíceis de serem reconstruídos. Os biomateriais, como o de mamona, são uma alternativa ao tratamento clássico. O diferencial da mamona é que se trata de um produto acessível, nacional e, portanto, com custos mais baixos. A grande maioria dos materiais que são usados na reconstrução óssea são importados e de custo mais alto. Por esse motivo, a mamona contribui para o acesso mais rápido do paciente ao tratamento que ele precisa”, explica.
Desde que foi descoberto, o polímero de mamona vem sendo usado em procedimentos cirúrgicos da medicina ortopédica, como correções de traumas da coluna. A composição química da planta é o que explica a aceitação do material no corpo humano, uma vez que sua estrutura molecular possui gorduras existentes no organismo do homem e faz com que as células não interpretem a resina da planta como corpo estranho.
O cultivo da mamona teve seu auge no início dos anos 2000 no Brasil, quando o governo decidiu estimular a produção de biodiesel. Em 2017, o país produziu 13,4 mil toneladas."

O cultivo da mamona, de maneira geral, é destinado à extração do óleo da semente, que é usado na lubrificação de motores com alta rotação e como matéria prima para a produção de biocombustíveis, um deles é o biodiesel.
A mamona é uma das plantas arbustivas mais disseminadas no Brasil. Após declínio no final do século XX, o cultivo da planta teve seu auge no início dos anos 2000, quando o governo decidiu estimular a produção de biodiesel. Em 2005, o país produziu mais de 168 mil toneladas.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, mostram que a produção da mamona no Brasil tem diminuído com o passar dos anos. Em 2014, o total produzido no país ultrapassou 37 mil toneladas e, no ano seguinte, houve um acrescimento de 24,3%, ou seja, chegou a 46 mil toneladas. Já em 2016, o número caiu pela metade (24 mil t) e, em 2017, diminuiu ainda mais, chegando a 13.481 toneladas.
Versatilidade
A exploração comercial do potencial da mamona, contudo, não parece estar perto de acabar. A partir do líquido viscoso da mamona são fabricados graxas e lubri?cantes, tintas, vernizes e espumas. Derivados do óleo da planta também podem ser encontrados em alimentos e cosméticos devido aos nutrientes que carrega, como o nitrogênio e fósforo. Além disso, a torta residual da semente é outro produto da oleaginosa recomendado como adubo orgânico para plantios.
E não para por aí. Lançada em 2015, a marca We Step Clean inovou o mercado de produtos voltados aos cães e gatos e criou comedouros fabricados a partir de resina de óleo da mamona.
O Biobowl, como é chamado o comedouro dos pets, é biodegradável, atóxico e biocompatível. O produto não possui nenhum componente tóxico para os animais e se decompõe rapidamente no meio ambiente, sem deixar resíduos.
Eduardo Bertasso, sócio proprietário da empresa, explica que decidiu fugir do modelo industrial de fabricação do produto, isto é, não utilizar plástico, porque entende que a sustentabilidade é o único caminho possível. “Eu e minha sócia Andrea sempre nos preocupamos com a questão ambiental e sentimos a necessidade de fazer a nossa parte. Tem também o viés da saúde porque as toxinas deixadas pelo plástico acabam retornando para o ser humano”, explicou.
Além disso, o empresário também elenca a destinação final como fator determinante para venda de comedouros sustentáveis. Segundo ele, a legislação que trata dos resíduos sólidos se torna cada vez mais rígida em prol do descarte correto dos diversos materiais. “Nossa logística, diferente da dos outros, é reversa. Não precisa de destinação. Nosso produto, ao invés de poluir, pode ser descartado no quintal onde irá se decompor e ainda deixará o solo rico em nutrientes”, finalizou.

Data de Publicação: 02/05/2019 às 09:20hs
Fonte: Globo Rural


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