Publicado em 29/11/2019 17:07 e atualizado em 29/11/2019 18:28
Para a oleaginosa, base porto de Paranaguá, cotações podem ficar no intervalo de R$ 88 a R$ 90 por saca, enquanto milho deve ter preços médios de R$ 40 a R$ 42. Cenário mais desafiador ainda é para o algodão.
Victor Ikeda - Analista de Grãos da Rabobank
As perspectivas para os preços dos grãos em 2020 é bastante favorável, segundo a análise do Rabobank. Segundo o analista do banco internacional, Vitor Ikeda, apesar de algumas incertezas, as perspectivas são muito boas para os produtores brasileiros.
SOJA
Para Ikeda, a soja pode vir a testar o patamar dos US$ 9,70 por bushel na Bolsa de Chicago na medida em que um acordo seja efetivado entre China e Estados Unidos. Mais do que isso, o mercado precisa ver os chineses comprando volumes da oleaginosa no mercado norte-americano nos níveis pré guerra comercial.
Além disso, os EUA perderam boa parte de sua safra nesta temporada em função das adversidades climáticas e, com a demanda voltando à normalidade, podendo trazer os estoquea americanos também de volta a padrões mais normais.
"Um cenário de acordo comercial que faça a China importar soja na casa de 30 milhões de toneladas nos EUA com uma quebra da safra americana daria suporte para preços na casa dos US$ 9,70" diz Ikeda.
Caso estes dois fatores se fatores se deparem com problemas climáticos que ainda podem ser vistos na América do Sul ou até mesmo na nova safra dos EUA, as cotações da commodity poderiam vir a testar algo próximo dos US$ 10,50 na CBOT.
Na outra ponta, o analista aponta ainda para um quadro onde China e EUA firmem um acordo parcial, os produtores norte-americanos plantem a nova safra e, na sequência, a guerra comercial volte a valer. Isso acontecendo, os preços poderiam voltar a ceder.
Dessa forma, para o produtor brasileiro será necessário o monitoramento constante do prêmio, que deverá, novamente, ser um dos seus principais diferenciais. Com um cenário de preços a US$ 9,70, Ikeda acredita que os prêmios tendem a ficar em sua média histórica de 35 a 40 pontos acima de Chicago.
Dessa forma e com um dólar em R$ 4,00, a tendência é de que no porto de Paranaguá o valor da saca fique entre R$ 88,00 e R$ 90,00.
MILHO
2020 deverá ser o ano do milho. A demanda interna muito aquecida é um dos principais combustíveis para a manutenção dos preços em alta, que deverão contar com médias entre R$ 40,00 e R$ 42,00, indicador Cepea.
Além do setor de proteínas animais demandando muito do cereal, o esmagamento para a produção de etanol também deverá contribuir. Para o ano que vem, a expectativa do Rabobank é de que sejam consumidas mais 2,5 milhões de toneladas do grão para um produção adicional de 1 bilhão de litros de etanol.
De uma forma geral, a demanda interna de milho deverá apresentar um crescimento de 6% em 2020, o que significará um excedente exportável menor, portanto. Assim, o Rabobank estima que depois do recorde de 2019, no ano que vem as exportações brasileiras de milho podem ser um pouco menores.
ALGODÃO
Entre as commodities agrícolas, o algodão é quem tem um cenário em preços internacionais mais desafiador. Os preços vieram abaixo dos 70 cents de dólar por libra-peso ao longo do ano, testaram algo abaixo de 60 cents e agora buscam uma recuperação.
Ao longo do próximo ano, a perspectiva do Rabobank é de que os preços voltem a se aproximar de algo entre 65 cents cents/lp no primeiro semestre. "Mas no segundo semestre, com a possibilidade de que os EUA reduzam a área e a China vindo com um apetite forte por algodão dado que os estoques por lá os preços podem voltar aos 70 centavos de dólar por libra-peso em Nova York", diz Vitor Ikeda.
Análises do Rabobank, por Vitor Ikeda
SOJA
Cenários em meio a incertezas
Com momentos de escalada nas tensões comerciais entre China e EUA mesclados com períodos de otimismo em relação a um eventual acordo entre os países, o ano de 2019 foi marcado por intensa volatilidade nas cotações da soja no mercado internacional. Em linhas gerais, porém, os fundamentos exerceram pressão e limitaram os preços em Chicago (CBOT) abaixo dos USD 9,50/bushel ao longo do ano. Entre tais fatores baixistas, destacam-se o estoque de passagem recorde nos EUA, a demanda chinesa significativamente arrefecida por impactos decorrentes da peste suína africana e a recuperação da produção argentina na safra 2018/19 após umas das secas mais severas dos últimos 50 anos no ciclo anterior.
Em meio à incertezas sobre a Guerra Comercial e também dos fundamentos citados acima, os prêmios de exportação no Brasil também se mostraram pressionados no comparativo com o ano passado, quando houve o auge da disputa entre chineses e americanos. De abril/19 a outubro/19, os prêmios de exportação para março/20 foram, em média, de USD 0,30/bushel. Nesse mesmo período de 2018 (considerando o vencimento de março/19), a média foi de USD 0,80/bushel. Isso resultou em um cenário mais desafiador de preços, principalmente no que se refere às cotações em dólar no Brasil.
Considerando o período de abril a outubro de 2019 (pré-plantio da safra 2019/20), estima-se o preço médio FOB da soja em Paranaguá em USD 20,90/saca (60 kg) com base nos contratos futuros para março/20. Nesse mesmo período do ano passado, considerando as cotações para a safra 2018/19, o valor médio observado era de USD 22,40/saca. A desvalorização do real frente ao dólar no período, porém, amenizou quedas mais significativas nos preços FOB da soja em moeda local, com estimativa de R$ 84,20/saca na análise para vendas para a safra 2019/20 ante R$ 86,10/saca no ano anterior.
Assim, o Rabobank estima que a área de soja semeada no Brasil atinja 36,5 milhões de hectares na safra 2019/20, aumento de 1,7% em relação à temporada anterior. Embora esse percentual de expansão seja menor que a média das últimas 4 safras (2,8%), importante ressaltar que ainda é um crescimento indicando que mesmo em um cenário mais desafiador de margens e preços, ainda há espaço para conversão de pastagens subutilizadas para áreas agrícolas no país.
Com a perspectiva de expansão de área e retomada da produtividade para linha de tendência, após problemas climáticos impactarem algumas regiões produtoras no ciclo 2018/19, o Rabobank estima que a produção brasileira de soja alcance 121 milhões de toneladas na safra 2019/20.
O desenvolvimento das relações comerciais entre chineses e americanos seguirá no centro das atenções do mercado em 2020. Nesse caso, três cenários bem distintos (e possíveis) levariam a diferentes níveis de projeções para cotações da soja em Chicago ao longo do próximo ano.
Um cenário intermediário seria um período de trégua ou “fase 1” do acordo comercial entre os dois países. Nesse caso, a China retomaria compras de 7-8 milhões de toneladas de soja dos EUA por trimestre (além de outros produtos agrícolas, como proteínas animais). Além disso, ambos passariam a reduzir gradualmente e mutuamente as tarifas de importação. Dessa forma, seria observada a retomada de volume anual de exportações de soja americana para os chineses em níveis similares ao período anterior à Guerra Comercial. Com isso, e a produção estimada em 95 milhões de toneladas em
2019 (ante 120 milhões de toneladas no ciclo anterior), os estoques finais de soja do EUA retomariam a patamares próximos de 10 milhões de toneladas, dando suporte às cotações em Chicago que poderiam testar níveis ao redor de USD 9,70/bushel.
2019 (ante 120 milhões de toneladas no ciclo anterior), os estoques finais de soja do EUA retomariam a patamares próximos de 10 milhões de toneladas, dando suporte às cotações em Chicago que poderiam testar níveis ao redor de USD 9,70/bushel.
O segundo cenário leva em conta um acordo mais robusto, com a China intensificando ainda mais as compras de produtos agropecuários americanos. Esse ponto somado a eventual frustração de safra 2019/20 na América do Sul e/ou nos EUA em 2020, poderia fazer Chicago superar a barreira dos USD 10,50/bushel.
Esse nível de preços mais alto nos dois primeiros cenários resultaria em retomada de área de soja nos EUA em 2020 para patamares similares aos de 2018 (35 milhões de hectares). Isso geraria a possibilidade de um terceiro cenário, em que os americanos retomam o crescimento de área e os dois países voltem a escalar a Guerra Comercial com novo embargo da soja dos EUA pela China com a safra já em andamento no Hemisfério Norte. Nesse caso, que poderia ser intensificado caso a peste suína africana se espalhe por mais regiões do mundo, reduzindo o comércio internacional de soja, as
cotações em Chicago poderiam voltar a recuar abaixo dos USD 8,30/bushel.
cotações em Chicago poderiam voltar a recuar abaixo dos USD 8,30/bushel.
MILHO
Mercado doméstico fortalecido
A safra 2018/19 de milho marcou uma série de novos recordes alcançados pelo Brasil. A produção no país superou pela primeira vez na história a marca de 100 milhões de toneladas, volume puxado principalmente pela forte expansão de área da segunda safra e aos bons níveis de produtividade. Essa elevada oferta nacional aliada aos problemas climáticos enfrentados na safra dos EUA e a desvalorização do real frente ao dólar contribuíram também para impulsionar as exportações brasileiras do cereal em 2019. Segundo dados da Secex, de janeiro a outubro de 2019, as exportações de milho do Brasil somaram 36,3 milhões de toneladas, superando em 24% o antigo recorde atingido em todo o ano de 2017, de 29,3 milhões de toneladas.
Em meio a esse cenário, os preços do milho apresentaram intensa volatilidade ao longo de 2019. Em um primeiro momento, no início do segundo trimestre desse ano, o bom desenvolvimento das lavouras de segunda safra no Brasil pesou sobre as cotações do cereal no mercado doméstico, com o indicador de milho Esalq/BM&F chegando a ser cotado abaixo de R$ 32/saca (60kg). Posteriormente, o excesso de chuvas durante a semeadura da safra americana deu suporte às cotações internacionais que se refletiram também em valorização nos preços locais do cereal no Brasil – nesse momento, em junho/19, o indicador Esalq/BM&F chegou a superar R$ 38/saca.
Mesmo após a consolidação de colheita recorde do milho segunda safra, as cotações do cereal se mantiveram em alta no segundo semestre de 2019, com o indicador Esalq/BM&F ultrapassando a barreira dos R$ 40/saca, em função da forte desvalorização do real frente ao dólar, fato que sustentou os níveis de paridade de exportação. Além disso, as perspectivas de estoques de passagem menores que aqueles observados na última safra passaram a se consolidar, pois, apesar da maior produção da história, a demanda de 2019 também se mostrou recorde, puxada pelo forte ritmo de exportações e também pela demanda interna aquecida.
Em meio a esse cenário de preços relativamente elevados, a perspectiva é que a área destinada ao cereal volte a apresentar novo incremento no próximo ciclo. O Rabobank estima que a área de milho (verão mais segunda safra) atinja 18,4 milhões de hectares na safra 2019/20, 5% superior àquela observada na temporada 2018/19 – vale destacar que essa expansão deve se concentrar especialmente na segunda safra.
Um dos sinais dessa expansão de área do milho segunda safra em 2020 pode ser avaliada pelo ritmo de comercialização. Segundo o IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), até novembro/19, 44% da produção estimada de milho referente à próxima safrinha estava negociada pelos produtores de Mato Grosso, 16 pontos percentuais acima da média das últimas 5 safras para esse período do ano. De certa forma, a valorização do milho ao longo de 2019 refletiu em oportunidades interessantes de contratos futuros para 2020, o que justificaria esse movimento de antecipação de vendas. Cabe ressaltar também o forte interesse comprador para o próximo ano decorrente da forte demanda do setor de proteína animal e, no caso específico de Mato Grosso, da busca por garantia de originação de grãos oriunda da indústria de etanol local.
Nesse sentido, a demanda interna por milho tende a ser um dos grandes destaques de 2020. Os bons patamares de preços e demanda internacional, tendem a puxar a produção de carnes (ver seção de proteína animal) e, consequentemente, o consumo do cereal para ração no Brasil. Além disso, com a possibilidade de incremento de produção de 1 bilhão de litros de etanol de milho em 2020, a demanda adicional somente dessa indústria seria equivalente à aproximadamente 2,5 milhões de toneladas do cereal. No total, o consumo doméstico brasileiro pode alcançar 68 milhões de toneladas em 2020, 6% superior ao ano anterior.
Assumindo um retorno à linha de tendência de produtividade, após um ciclo 2018/19 de excelentes condições climáticas para o desenvolvimento das lavouras na maioria das regiões produtoras, a perspectiva do Rabobank é que a produção de milho atinja 99 milhões de toneladas na safra 2019/20. Dados esses cenários de produção e consumo doméstico, a estimativa é que o volume de exportações de milho em 2020 seja menor, podendo retornar para patamares mais próximos de 30 milhões de toneladas.
ALGODÃO
Novas realidades, novos desafios
A safra 2018/19 de algodão trouxe resultados históricos para o Brasil. O principal deles refere-se ao fato de o país superar a Índia e assumir o posto de segundo maior exportador mundial da pluma. Com perspectiva de alcançar 1,3 milhão de toneladas de pluma (agosto de 2018 à julho de 2019), o Brasil ficará atrás apenas dos EUA, que lidera as exportações globais com volume estimado em 3,2 de toneladas. Nos campos brasileiros, observou-se mais um ano de significativa expansão da cotonicultura, com a área destinada ao algodão alcançando 1,6 milhão de hectares no ciclo 2018/19, 40% superior ao verificado na temporada anterior.
Apesar da leve redução da produtividade no comparativo com o ciclo 2017/18, a forte expansão de área impulsionou significativamente a produção brasileira, estimada em 2,7 milhões de toneladas de pluma na safra 2018/19, um novo recorde para o país. Se em termos produtivos, os resultados foram positivos aos cotonicultores, na questão de preços, o cenário se mostrou mais desafiador. Em linhas gerais, a expressiva expansão da área e da produção mundial de algodão em 2019 pressionou as cotações internacionais da pluma no mercado internacional. Os preços que iniciaram o ano acima de USD 0,70/libra-peso em Nova York (ICE), chegaram a recuar para patamares inferiores à USD 0,60/librapeso em setembro/19.
Ainda assim, a desvalorização do real frente ao dólar, ao longo do ano, ajudou a amenizar as quedas dos preços da pluma em moeda local. Além disso, a comercialização de volumes significativos de forma antecipada, prática típica dos cotonicultores brasileiros, ainda garantiu níveis de preços médios de vendas relativamente bons no ciclo 2018/19. O Rabobank estima que as margens operacionais (excluindo custos fixos, de arrendamento e de beneficiamento) do algodão em Mato Grosso tenha alcançado 37% na safra 2018/19. Esse patamar, embora abaixo dos 45% observados na temporada anterior, ainda se mostra acima dos 34% de média dos últimos 5 ciclos.
Para a safra 2019/20, a perspectiva é de custos mais elevados, principalmente devido a insumos valorizados pela alta da taxa de câmbio. Por outro lado, os preços de vendas da pluma tendem a ser inferiores aos verificados no ciclo anterior, pressionados pelos patamares das cotações no mercado internacional (mais próximos de USD 0,65/libra-peso) – ainda que o real desvalorizado frente ao dólar amenize a queda da cotação da pluma, quando analisados preços em moeda local (R$).
Segundo dados do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), cerca de 63% da produção esperada da safra 2019/20 de algodão de Mato Grosso, principal estado produtor da pluma no Brasil, estava negociada até novembro/19. Com parte significativa desses negócios fechados com patamares de taxa de câmbio futuro, para dezembro/20, acima de R$ 4,00, o Rabobank estima que os preços médios de comercialização tendem a ficar ao redor de R$ 85/@ de pluma. Nesse cenário, a estimava é de margens operacionais entre 25% e 30% no ciclo 2019/20 ao cotonicultor.
Apesar dessa perspectiva de margens mais apertadas na safra 2019/20, no comparativo com as anteriores, a estimativa é que não ocorram impactos significativamente negativos sobre a área. O Rabobank espera que a área destinada ao algodão nesse ciclo fique próxima a 1,55 milhão de hectares ante 1,6 milhão de hectares na temporada anterior. Seguindo a linha de tendência de produtividade, a produção é estimada em 2,6 milhões de toneladas de pluma na safra 2019/20.
A relativa estabilidade da área, em relação à safra passada, está ligada principalmente à dois fatores. O primeiro deles é que os grandes grupos cotonicultores costumam fazer um planejamento de longo prazo, no que tange a investimentos em equipamentos e dimensionamento da área. O outro é que mesmo com a perspectiva de queda das margens em termos percentuais, os resultados absolutos (R$/hectare) do algodão ainda se mostram superiores ao do milho na segunda safra. Assim, aqueles grupos com conhecimento no cultivo da fibra e com condições financeiras tendem a seguir priorizando o algodão, principalmente onde há viabilidade de semeá-lo como “safrinha”.
Um dos grandes desafios para o próximo ano será buscar rotas alternativas ao porto de Santos para escoamento da produção de algodão. Estimativas preliminares do Rabobank apontam para um potencial de exportações brasileiras na ordem de 1,8 milhão de toneladas de pluma na safra 2019/20 – muito próximo ao que se estima ser a capacidade máxima anual de exportação pelo porto paulista.
Por: João Batista Olivi e Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas
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