Publicado em 29/11/2019 15:49
Fabricantes de máquinas agrícolas estão trabalhando com bancos no Brasil em alternativas para evitar que uma queda brusca nas vendas não se repita no ano que vem, quando o financiamento público deve se esgotar, disse à Reuters o chefe da unidade brasileira da Deere.
No último ano, os recursos do Plano Safra para financiamento de máquinas agrícolas terminaram antes do esperado, deixando uma lacuna de crédito no setor e afetando o comércio de tratores, colheitadeiras e outros equipamentos.
"O dinheiro acabou e ninguém disse que ia colocar mais. Daí ficamos de 90 a 120 dias com atividade muito baixa, e isso impactou no resultado do ano", lembrou Paulo Hermann, presidente da John Deere Brasil.
Hermann afirmou esperar que o crédito do Plano Safra, política governamental anual que garante linhas de crédito subsidiadas, vá terminar por volta de março do próximo ano, alguns meses antes de um novo pacote ser iniciado.
"Neste ano novamente o dinheiro vai ser curto. Não vai dar até junho do ano que vem, em março vai terminar. Mas já tem sinalização do governo, que disse 'não venham buscar mais, porque não vai ter'. Então (isso) está fazendo empresas e agentes financeiros buscarem alternativas", disse ele.
O governo do presidente Jair Bolsonaro, que economicamente segue uma pauta alinhada ao livre mercado, deseja reduzir gradualmente seu papel no financiamento privado, inclusive para a agricultura.
Com a taxa básica de juros (Selic) em uma mínima histórica, o Ministério da Economia quer que produtores e fabricantes de máquinas encontrem opções de crédito no setor privado --o que Hermann classificou como uma transição.
"Transição é transição, você sai de uma região de conforto para uma desconhecida. Isso gera apreensão, principalmente para o agricultor, que tem que tomar a decisão de investimento", afirmou.
O executivo da Deere disse concordar com a ação do governo, apesar dos problemas vistos no último ano e das possíveis dificuldades nos próximos meses, quando o dinheiro do Plano Safra acabar.
Ele acrescentou que vê um ambiente estável para a inflação no Brasil, com uma possível nova redução na taxa Selic amenizando a transição rumo à elevação do financiamento privado para equipamentos agrícolas.
Hermann disse ainda que o panorama é positivo para a nova temporada de grãos, com um aumento de cerca de 1 milhão de hectares na área cultivada no Brasil.
No entanto, o executivo acredita que o Brasil poderia fazer um melhor trabalho no que diz respeito à comunicação, considerando as críticas internacionais que o país enfrenta devido a problemas ambientais.
Ele disse que a agricultura brasileira tem muito a mostrar em termos de sustentabilidade, como o plantio direto, a integração lavoura-floresta e uma moderna legislação para o uso de terra, mas comentou que o país não tem conseguido passar a mensagem.
Fonte: Reuters
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