domingo, 27 de janeiro de 2013

Foco é na mão de obra feminina

Atualmente as mulheres ocupam diversos cargos dentro da Granja Quatro Irmãos, em Rio Grande. Mas até 2004 o ambiente era exclusivamente masculino. Observando a necessidade de oferecer postos de trabalho às mulheres de funcionários, os responsáveis pelo agronegócio decidiram criar em 2005 uma leitaria. O projeto começou com 400 vacas em ordenha e oito funcionárias. Hoje tem mais de 800 animais em ordenha e quase 20 mulheres empregadas. Agora elas desempenham diversas funções dentro da propriedade. Setor administrativo, oficina e outras atividades também utilizam mão de obra feminina, mas foi a leitaria que deu às esposas de trabalhadores da granja a primeira oportunidade de fazer parte da empresa como funcionárias. “Até então só empregávamos os homens”, esclarece o diretor-administrativo do agronegócio, Leandro Flores. O primeiro passo foi analisar quais atividades poderiam atrair o público feminino. A pecuária leiteira foi a mais votada. Um plano de negócios também identificou o leite como uma boa oportunidade de retorno financeiro. Superada a etapa de pesquisa, teve início o projeto-piloto. Cursos de qualificação foram oferecidos às novas funcionárias. Bem pensado e planejado, o projeto da leitaria foi o que proporcionou retorno de investimento mais rápido aos administradores da propriedade. Em menos de cinco anos, o empreendimento pagou todo capital inicialmente aplicado. Aproximadamente 20 mulheres são responsáveis pelo trabalho de ordenha. E Flores revela que ao contratar novos funcionários para a lavoura, atualmente um dos quesitos levados em consideração é a possibilidade da esposa ser uma potencial mão de obra para as atividades da leitaria. As trabalhadoras A função por elas exercida não é tão fácil assim. As jornadas de trabalho são extensas, dez horas por dia. O trabalho não pode parar e, por isso, ocorre de segunda a segunda. Durante o mês, as funcionárias folgam uma vez por semana em dias aleatórios e um fim de semana. O significado da palavra feriado, já esqueceram. “O nosso serviço é diferente dos outros da granja, ele não pode parar porque os animais precisam que o leite seja retirado todos os dias”, diz a encarregada de ordenha, Iara Machado. A primeira turma começa a trabalhar às 3h20min. A essa equipe é que pertence Iara, de 38 anos. Ela está entre as pessoas que ajudaram a leitaria a dar certo. Esposa de funcionário, fez parte do primeiro grupo de trabalhadoras. Há sete anos desempenhando a atividade, ela conta que o empreendimento da granja lhe trouxe muitos benefícios. A mulher que antes trabalhava em uma serraria, diz que tudo foi facilitado com a oportunidade. “O deslocamento foi reduzido e até para adquirir as coisas ficou mais fácil”, ressalta. Segundo Iara, mesmo tendo sido criada na zona rural não sabia lidar com animais. Quatro cursos capacitaram a encarregada de ordenha ao trabalho. “Mesmo hoje continuamos, frequentemente, nos atualizando e fazendo treinamentos”, explica. Para a mulher de 38 anos que estudou apenas até a terceira série, chegar onde chegou faz com que se sinta valorizada. “Aqui cada uma é parte importante da engrenagem”, esclarece. Luana Machado, de 25 anos, também pertence ao turno da manhã. A ordenhadeira afirma que já tinha experiência na atividade, pois costumava ajudar os pais na lida do campo. Embora na propriedade familiar o leite fosse retirado de forma manual, o que dificulta o trabalho, ela diz que na granja o processo é mais fácil por causa da mecanização, mas mais complexo devido a todo cuidado com a higiene. Mesmo assim, Luana diz gostar muito do emprego. A jovem sente-se valorizada, explica que o serviço é bom e que possui fortes vínculos de amizade no ambiente de trabalho. Quando questionadas sobre a hora que precisam acordar - Iara, por exemplo, levanta às 2h - elas afirmam não ser um problema. Segundo a encarregada de ordenha, a maior dificuldade é com relação à vida social, pois acabam tendo pouco contato inclusive com filhos e maridos, que muitas vezes reclamam a falta de atenção. Qualidade A ordenha ocorre duas vezes por dia e por vez mais de 800 animais têm o leite retirado, fechando um total de quase 20 mil litros do alimento diariamente. Segundo Flores, esta é a maior produção do Estado e nona do país. A qualidade do produto é o que mais preocupa quem está envolvido no processo. Empresa e funcionários são bonificados com gratificações mensais em dinheiro pela qualidade do leite entregue às compradoras do produto. Quem trabalha na leitaria afirma ser dado um cuidado especial à higiene. Tendo início às 3h20min da manhã o trabalho de retirada do leite se estende até 9h ou 10h. Luana explica que o primeiro passo da ordenha é realizar o teste da caneca. Ele serve para verificar se o animal não está com mamite, uma inflamação da glândula mamária causada por diversos fatores. A pessoa responsável por essa verificação fica incumbida também por desinfetar os tetos da vaca. Outra mulher seca os tetos e vai colocando os animais no coletor. Depois de retirar leite de todas as vacas, as funcionárias da granja dão início à etapa de limpeza do ambiente de ordenha. A equipe que entra às 15h20min realiza todas as etapas novamente. Microcidade Dividida em três vilas, a Granja Quatro Irmãos tem estrutura de uma pequena cidade. Pelo menos 95% dos trabalhadores do empreendimento vivem no local. O número total de moradores é de aproximadamente 600 pessoas, o que significa mais ou menos 200 a 230 famílias. Além da moradia gratuita para os funcionários, o empreendimento oferece dentro do espaço da propriedade uma escola de Ensino Fundamental ligada à Secretaria de Educação e condução gratuita que leva e traz as crianças da escola. Tem ainda ambulatório odontológico e refeitório. Flores conta que o objetivo desses e outros benefícios concedidos aos trabalhadores é manter os funcionários na granja, evitando a escassez de mão de obra gerada muitas vezes pelas oportunidades da cidade, no caso de Rio Grande, para o Polo Naval.

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