sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Ciência adverte que a pressa é inimiga da felicidade
Ciência adverte que a pressa é inimiga da felicidade
02/11/2013 00h03
Estudo feito em dez empresas paulistas revelou dados ainda mais preocupantes: 90% das pessoas entrevistadas com cargo de gerência ou diretoria, tinham a síndrome da pressa.
A vida precisa dessa velocidade toda?
“Eu sou uma pessoa ansiosa por natureza, então eu vivo correndo”, diz Kelma Yaly, jornalista.
Onde queremos chegar tão rápido?
“Me considero muito apressado”, revela Gilberto Pereira, consultor comercial.
Globo Repórter: O que você faz correndo?
Gilberto: Tudo. Tudo para ontem.
“Essas tecnologias todas do mundo que a gente vive, elas nos foram oferecidas com a promessa de economizar tempo e, no entanto, as pessoas sentem cada vez mais falta de tempo”, explica Eduardo Giannetti, cientista e escritor.
A ciência adverte: A pressa é inimiga da felicidade. E já virou doença.
“A pessoa que tem a síndrome da pressa, ela tem dentro dela, assim, uma sensação muito desagradável de que ela tá lutando contra o tempo, que não vai dar tempo. Então ela começa a sentir aquela angústia muito grande, então ela está cronicamente correndo contra o tempo, cronicamente apressada”, explica Marilda Lipp, PhD em psicologia.
A síndrome da pressa é diagnosticada mais cedo do que se imagina.
“Quando ele foi tendo uns oito, nove anos, aí que eu comecei a perceber que ele não conseguia esperar. Então, assim, tudo que ele queria teria que ser na hora, no momento que ele pedia e ele não conseguia esperar”, conta Márcia Maria Bignotto, psicóloga e mãe de Gabriel.
Globo Repórter: Você se considera uma pessoa assim apressada ou não?
Gabriel Bignotto Pereira, 12 anos: Ah, mais ou menos. Se for pelo meu ponto de vista eu não acho, agora, minha mãe fala.
“Ele entra às sete horas no colégio, o colégio é aqui pertinho e de carro a gente vai em cinco minutos. Seis e meia ele começa assim: ‘mãe eu tô atrasado, mãe eu tô atrasado’. Como tá atrasado, né? O colégio é às sete. Então tem que seis e meia tá lá. Tem dia que eu chego e nem abriu o portão ainda. A pessoa para poder ser feliz tem que aprender a esperar, senão sempre vai tá frustrado”, conta a mãe de Gabriel.
A pressa e o stress correm lado a lado. Desencadeiam a liberação excessiva de substância que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial, como a adrenalina e o cortisol. Com o tempo, provocam derrames, infartos e queda do sistema imunológico.
“Ela vai ter naturalmente problemas em relacionamento interpessoais, porque ela não tem tempo de dedicar aos amigos, não tem tempo de dedicar ao outro”, explica Marilda Lipp.
Sem tempo para os amigos e à saúde a felicidade fica frágil.
Uma pesquisa feita pelo Centro de Controle do Stress, mostrou que em São Paulo de cada dez moradores, dois têm pré-disposição a se tornar um apressado crônico.
“Pessoas que escovam o dente e penteiam o cabelo ao mesmo tempo, falam no telefone e escrevem ao mesmo tempo, é querer ser duas pessoas ao mesmo tempo, né?”, alerta Marilda Lipp.
Um estudo feito em dez empresas da capital revelou dados ainda mais preocupantes: 90% das pessoas entrevistadas com cargo de gerência ou diretoria, tinham a síndrome da pressa.
Mas quando é que a pressa deixa de ser coisa de rotina e vira doença? Para responder a essa pergunta a doutora Marilda Lipp elaborou um questionário. Com seis perguntas que ajudam a identificar quem tem pré-disposição a ter a síndrome da pressa. Em um shopping de São Paulo, algumas pessoas foram abordadas para vêr se elas teriam tempo de responder o questionário, sem pressa.
Globo Repórter: Seis perguntinhas, você vai responder um questionário rapidinho, vamos lá?
Entrevistado 1: Tá bom. Vamos lá.
Marilda Lipp, PhD em psicologia: Quando alguém está conversando com você, você tem a tendência de apressar a fala dizendo, por exemplo: “Claro; Sim, sim; evidente!”
Entrevistado 1: Eu dou uma encurtada.
Marilda Lipp: Você sente um vago desconforto, ou até mesmo um certo remorso, quando você não está fazendo nada?
Entrevistado 1: Sinto.
Marilda Lipp: Que tipo de coisa você faz ao mesmo tempo?
Entrevistado 2: Dirijo e falo ao celular, lavo louça e pego o celular, e cozinho.
Marilda Lipp: Você fica irritado quando uma pessoa inclui detalhes demais na fala?
Entrevistado 3: Sim. E a pergunta seis ali também.
Marilda Lipp: Você já está até lendo a sexta questão antes de eu falar.
“Das seis perguntas que podem levar a um diagnóstico você respondeu todas elas verdadeiras. Isso quer dizer que você tem indicações de ter uma pressa muita exacerbada, uma pressa muito exagerada. Quem tem muita pressa é mais vulnerável ao stress”, explica Marilda ao primeiro entrevistado.
André Lofiego é um maratonista da vida. Estudante de Direito, pela manhã faz faculdade, à tarde tem estágio em um escritório de ad vocacia, percorre o Fórum protocollando processos. E no dia da gravação da matéria ele passou mal. Aos 41 anos é hipertenso.
Globo Repórter: Quatro horas da tarde e como é que você está?
André Lofiego, estudante universitário: Tô exausto na verdade muita correria, muito trânsito, o calor também colabora para que a gente fique mais esgotado ainda. Aqui, dá até para ver as olheiras aqui, então, durmo muito pouco também.
Globo Repórter: Você dorme quanto?
André Lofiego: Três horas e meia, quatro por dia, no máximo.
No fim da tarde, ele recheia o orçamento com produção de esfirras.
“O dia para mim tinha que ter pelo menos 30 horas”, diz André.
À noite, André vende em média 150 salgados na porta de uma escola.
“Não tem outro jeito. Não tem como você não conquistar as coisas se você não se desdobrar em três, quatro, cinco”, diz André.
Como saborear os momentos felizes se a pressa é a prioridade? Para gente como o André é preciso reservar uma parte do dia para tirar o pé do acelerador.
“Esse exercício, André, é para você fazer várias vezes por dia. Então, de manhã, antes de você sair para o trabalho, na hora do almoço e também à noite, antes de dormir”, orienta Marilda Lipp, PhD -em psicologia.
“Levante os ombros, como se estivesse escondendo o pescoço. Inspire profundamente. Mantenha a atenção e expire soltando toda a tensão e aliviando. Imagine que você é um boneco de pano, jogado, solto. E agora inspire profundamente e solte a tensão”, ensina Marilda.
Marilda Lipp: Para você ser feliz, você tem que dar tempo ao tempo. E vivenciar cada minuto dessas oportunidades que a vida lhe oferece
Globo Repórter: Sem pressa?
Marilda Lipp: Sem pressa.
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