quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Crédito: novo ciclo de expansão, por Roberto Padovani



Publicado em 26/12/2019 10:08


Estabilidade econômica, juros baixos, mercado de capitais e tecnologia ampliam o crédito e os efeitos da política monetária sobre a economia.
A comunicação recente do Banco Central mostra que um dos riscos para o controle da inflação são as transformações na intermediação financeira. A ideia é que a ampliação do mercado de crédito potencialize os estímulos monetários e gere um crescimento econômico mais rápido que o esperado. Esta avaliação faz sentido. 
Depois do salto de cerca de 30 pontos percentuais do PIB na carteira total de crédito entre 2004 e 2015, a combinação de estabilidade, juros baixos e inovações tecnológicas abre espaço para um novo ciclo de expansão, elevando a sensibilidade da economia aos estímulos monetários. A diminuição dos recursos direcionados e a maior relevância do mercado de capitais reforçam este cenário. 
A estabilidade política e econômica é clara. Desde 2016 o Brasil tem uma gestão responsável na economia e avança em reformas, possibilitando a estabilização da dívida pública e a ancoragem de câmbio, inflação e juros. Como resultado, o ambiente se torna mais previsível e favorece a confiança de empresários e consumidores, estimulando o crescimento e reduzindo o risco político. 
Dificilmente os próximos anos irão trazer um segundo mergulho recessivo, protestos de ruas, tensões eleitorais agudas ou reformas decisivas, como no passado recente. Mais importante, a queda lenta do desemprego incentiva a manutenção da agenda de mudanças e reforça um círculo virtuoso entre estabilidade e expansão. 
Este contexto beneficia o crédito. No caso das famílias, emprego, juros e inflação fazem com que o comprometimento da renda e a inadimplência fiquem controlados mesmo com a alta do endividamento. Já o segmento corporativo deverá ser beneficiado pela maior competição bancária e expansão do mercado de capitais, fazendo com que a menor alavancagem, prazos mais longos e a queda de custos ajude a superar a crise financeira. 
Mas além das questões econômicas, as novas tecnologias também trazem mudanças relevantes. Em apenas uma década, os smartphones e a maior capacidade de processamento ampliaram o acesso à internet, viabilizando aplicativos que otimizam o uso do capital e corrigem ineficiências do mercado consumidor. 
Na mesma linha, a internet das coisas, o big data e a inteligência artificial coletam, armazenam e analisam dados, expandindo o conjunto de informações disponíveis para a tomada de decisões data driven, mais racionais e eficientes. Clientes passaram a ser melhor atendidos e o capital mais bem utilizado em setores tão distintos quanto logística, meio ambiente, turismo, saúde, entretenimento e educação. 
A indústria financeira não ficou de fora das transformações. Internet e mobile banking, bancos digitais, open banking e FinTechs trazem mudanças nas áreas de meios de pagamento, crédito e investimento. Além de estes avanços possibilitarem maior concorrência, cria-se um ambiente que incentiva a inovação. Novos métodos, mais ágeis, flexíveis, multidisciplinares e voltados para resolver problemas dos clientes fazem com que a tecnologia se espalhe com maior velocidade pelo sistema. 
Com mais instrumentos para resolver insatisfações cotidianas, os consumidores passaram a ser valorizados, levando a mudanças na estrutura, cultura e gestão das organizações. Em termos práticos, a automação, a digitalização de processos, as plataformas eletrônicas e a criação de novos canais de distribuição de produtos e serviços financeiros, mais rápidos e com mais qualidade, reduzem as despesas administrativas e aumentam a eficiência, levando a custos e riscos mais baixos. 
A gestão financeira das empresas também é impactada. Com mais informações e maior eficiência na logística, estoques e contas a receber são minimizados ao mesmo tempo em que o financiamento obtido com bancos e fornecedores passa a ser mais fácil e barato. O resultado é a menor necessidade de caixa e de capital de giro, permitindo que a estrutura de capital privilegie os investimentos. 
Todos estes movimentos sugerem que depois de quatros anos de retrocesso, o crédito irá retomar sua trajetória de convergência em direção ao patamar dos países desenvolvidos. Há ainda muitos gargalos a serem superados, como a insegurança jurídica e a dificuldade em se executar garantias. Mas estabilidade, juros e tecnologia são novidades com força suficiente para explicar um novo ciclo de expansão. 
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Fonte: Roberto Padovani

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