sábado, 31 de agosto de 2013

Safra norte-americana: à beira de uma nova quebra?

Postado em 31/08/2013 as 11:17 por Redação em NoFonte: Agrolink Aumentam a cada dia os rumores sobre uma nova quebra na safra norte-americana. Observadores nas regiões produtoras dos Estados Unidos trazem relatos de atraso e preocupações. Essa semana o mercado internacional de grãos reagiu às previsões do tempo, enquanto o “Crop Tour Pro Farmer” divulgou projeções abaixo das estimativas oficiais do USDA. Segundo essa expedição, a safra de milho seria de 341,9 milhões de toneladas – 2,23% menor que a previsão do Departamento de Agricultura dos EUA, de 349,73 milhões. O Crop Tour Pro Farmer estimou ainda a safra de soja em 85,95 milhões, o que representa 3,07% menos do que o USDA projetou (88,59 milhões de toneladas). O jornalista Rogério Recco, que visitou a cidade de Champaign, Estados Unidos, afirmou ao Agrolink que a situação das lavouras de milho e soja “pode ser considerada crítica na região de Chicago, Meio-Oeste dos Estados Unidos, parte importante da principal área produtora de grãos do país”. Ele conversou com o produtor Jeff Fischer, cuja família cultiva 600 hectares no estado de Illinois: “Definitivamente, não é um ano bom. Ficamos totalmente fora de época, o que é muito perigoso”, disse o norte-americano ao receber em sua propriedade um grupo formado por produtores e técnicos ligados à Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá (PR). Recco conta também que “já se admite a possibilidade de uma quebra mais severa que o estimado pelo mercado. O calor é intenso, ao redor de 30 graus, o que potencializa o risco de perdas. Mas os agricultores estão ficando ainda mais preocupados porque existe a possibilidade de, já em setembro, o tempo sofrer uma reviravolta e o frio trazer as primeiras geadas - que podem ampliar os danos. A colheita está prevista para outubro”. Integrando a comitiva paranaense, o engenheiro agrônomo Sérgio José Alves, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), estima que, à primeira vista, o prejuízo dos produtores do Meio-Oeste norte-americano em relação ao milho pode ser de 20% a 25% até agora. “A lavoura está desuniforme e requeimado muito”, explica. Quanto à soja, o dano é calculado em 10% a 15% por cento. “Como ela está em fase de enchimento de grão, pode piorar bastante se o tempo continuar assim", aponta. Para o agrônomo Antônio Luiz Fancelli, especialista em produtividade de grãos, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (Usp), também no grupo, o milho já quebrou em pelo menos 15%, e a soja em 10%. “Não tem previsão de chuva pelos próximos dez dias. O cenário é muito preocupante”, alerta. Já o superintendentede operações da Cocamar, Arquimedes Alexandrino, notou o solo das lavouras com rachaduras, detalhe típico de seca prolongada, mas disse que as perdas ainda podem ser amenizadas se chover bem, “mas não pode demorar”. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Glauber Silveira, também visitou os Estados Unidos e tem as mesmas observações: “Após cortar a zona produtora dos EUA de leste a Oeste, saindo de Illinois e chegando ao Colorado, passando por Iowa e Nebraska, foi possível ter um sentimento importante que a safra dos EUA está frente a sérios riscos. Primeiro porque teve o plantio muito atrasado, segundo porque a pouca chuva que seria até normal em anos anteriores pegou a maior parte da soja e o milho em uma fase sensível, que é o enchimento de grãos. O detalhe é que há um agravante: existe risco de geada mais adiante na colheita”. Glauber, que também é engenheiro agrônomo e produtor rural, conta que conversou com produtores em Iowa. “Eles nos disseram que desde 1983 não tinham um clima tão irregular. A primavera foi chuvosa e fria e se estendeu, o que atrasou o plantio. Depois secou de vez por um período longo demais, prejudicando as culturas no início. Em seguida, o clima esfriou por duas semanas, o que já impactou no desenvolvimento das plantas. E por fim, agora em algumas regiões está quente demais. “Todos estes fatores fizeram com que a safra dos EUA ficasse muito irregular. Tanto que o percentual de lavouras boas e ótimas está diminuindo e aumentando o percentual de regulares. E isto foi possível constatar em nosso percurso: soja desparelha, muitas não fecharam a carreira, milho com enchimento de grãos muito desuniformes na mesma área”, explica. O dirigente vai além e analisa que, “por mais que o USDA diga que está tudo normal, não é o que vimos e sentimos dos produtores. Os próximos dias serão cruciais para a consolidação dos prognósticos de produção, afinal a umidade do solo caiu muito a níveis críticos. A soja e o milho em mais quinze dias completam seu ciclo de enchimento de grãos, na maior parte das lavouras. E daí vem a principal preocupação dos produtores. Se houver atraso de dez dias na colheita e o inverno chegar mais cedo, pode significar uma tragédia, pois haverá chuvas e geadas”. Por fim, Glauber conclui que, para os produtores brasileiros, a safra dos EUA “é crucial na formação do preço futuro da nossa safra”. “Mas não estaríamos tão dependentes de preços melhores se os custos da safra brasileira não estivessem 25% mais altos, afinal eles já não seriam tão baixos. Aí ficamos assim, esperando que a safra do vizinho quebre para que nós produtores brasileiros não quebremos”, lamenta.

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