quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

29/01/2015 - 08:46

"Nós jamais vamos ser um Estado que vai despontar em industrialização", declara vice da Famato Da Redação - Viviane Petroli
"A vocação do nosso Estado é a produção agrícola". A afirmação é do vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, diante os inúmeros resultados obtidos pelo Estado, que além de líder em produção agrícola e pecuária bovina, é líder também em produção de peixe. Grande produtor de grãos, o que falta, hoje, para Mato Grosso é a agregação de valores para exportar para o mercado interno e experto produto terminado, principalmente carnes e até mesmo etanol feito com milho e diesel de etanol. Na safra 2013/2014 Mato Grosso chegou a marca de 47,7 milhões de toneladas de grãos e as projeções para o ciclo 2014/2015 são de 49,7 milhões de toneladas. Entre 2014 e 2013 o rebanho bovino cresceu em 60.928 cabeças, atingindo 28,487 milhões de cabeças, após dois anos de queda. De acordo com Corral, o que faz Mato Grosso ser um grande exportador da matéria-prima é o fato do Estado estar na região Central, longe dos grandes centros de consumo e dos portos exportadores. Confira a seguir entrevista com o vice-presidente da Famato, Normando Corral: Agro Olhar - Como a Famato viu o agronegócio mato-grossense em 2014? Normando Corral - Vemos com bons olhos. Nós estamos vendo a nossa produção aumentar. Só não crescemos em produtividade por questão climática, mas estamos batendo recordes em produção constantemente, apesar de todos os problemas, não causados por nós e pelo clima, mas sim por questões públicas ou a falta de ações publicas. Mas, vemos que estamos em um caminho certo, pois muitos outros Estados vêm até aqui ver o que estamos fazendo, ou seja, com tanta dificuldade conseguimos produzir da mesma forma. Agro Olhar - Como está essa visão não apenas de outros Estados brasileiros, mas também do exterior, uma vez que temos recebido inúmeras visitas, em especial aqui na Famato? Normando Corral - Aí são duas coisas diferentes. Uma coisa é os outros Estados brasileiros virem até aqui ver como fazemos, porque alguns problemas são comuns. O custo Brasil é comum para quem produz em Mato Grosso, no Acre, São Paulo e Paraná. Já o exterior aí sim a curiosidade é maior, pois com tantos problemas que temos eles querem saber como estamos conseguindo competir com eles. Os países que normalmente vem nos visitar são países desenvolvidos e que fazem agricultura em clima temperado. E agricultura em clima temperado é bem mais fácil de praticar do que em clima tropical, que é o nosso, pois no clima tropical se está mais sujeito a praga e doenças. Eles têm um fator muito bom lá que é o clima temperado. Só isso aí já causa uma série de curiosidade e como nós nos últimos anos começamos a conquistar mercado e a exportar excedentes nós começamos a competir com eles. Agro Olhar - E como que o setor vê que vá ser 2015? Normando Corral - O produtor de uma maneira geral ele está otimista. A gente sempre acha que apesar de vez em quando achar que está ruim achamos que vai melhorar. Nós começamos aí um primeiro semestre 2014 com expectativa negativa do que ia acontecer em 2015. Os preços de grãos, principalmente, haviam começado a ficar reprimidos, mas os preços recuperaram e o fato deles recuperarem dá um novo alento. Então, estamos vendo 2015, também não com preocupação, mas com certo receio vou chamar, porque aí é uma questão política, pois nós estamos vendo uma explosão do dólar, alguns produtos são indexados ao dólar, principalmente a soja, mas o nosso custo também. Nós estamos tendo um aumento de custo, devido à alta do dólar, e vamos ver se compensa essa diferença cambial. E o restante é insegurança quanto à economia do país. A economia não vai bem, apesar da agricultura e pecuária estarem dando respostas positivas e esperamos que assim continue. Agro Olhar - Além da logística, quais são os entraves do setor produtivo hoje em Mato Grosso? É a falta de mão de obra? Falta de indústria? Normando Corral - O problema de logística é um problema grave. Muito grave, do qual não vemos soluções a curto prazo, até porque demanda investimento. Outro é o problema de restrições ambientais. Em Mato Grosso ainda não estamos adequados, estamos procurando fazer o Sicar. Nós temos aí um problema, que não é só em Mato Grosso, que é uma legislação trabalhista anacrônica. A legislação trabalhista remonta coisa de décadas que hoje não dá. É uma legislação onde o mesmo que acontece com o trabalhador urbano ocorre com o rural. Por exemplo, um trabalhador urbano do grande centro a jornada de trabalho dele começa quando ele chega em seu local de trabalho, enquanto no campo se não tem o transporte para levar esse trabalhador da cidade até a fazenda para trabalhar você tem que prover ele do transporte, ou seja, você tem que colocar um ônibus seu e a jornada de trabalho dele começa quando ele põe o pé no ônibus. Outro problema em comum em todo o país é o baixo nível de instrução, o que leva a pouca qualificação e hoje na agricultura está muito tecnificada e se você tem uma lavoura assim precisa de gente qualificada. Agro Olhar – E a questão da agroindústria? É necessária para alavancar a nossa produção agrícola, não apenas de soja e milho, algodão e a pecuária bovina, mas outros segmentos? Hoje, somos grandes produtores de milho pipoca, de girassol, borracha. Normando Corral - O estado da arte é quando você pega o produto primário, que é o que nós fazemos, transforma agregando valor e comercializa. Aí é ótimo. Você pega um produto e ao invés dele sair daqui o transforma aqui mesmo e depois consegue fazer a comercialização dele. Isso nós precisamos fazer. Ainda não é a própria característica do Brasil, mais ainda pelo Mato Grosso que é um Estado Central, longe dos grandes centros de consumo e também dos portos exportadores, o que nos fazer um grande exportador da matéria-prima. Nós precisamos ir em busca disso aí e para isso se precisa de ação pública, precisa do poder público, precisa de vontade política. Nós temos que fazer essa transformação aqui para agregar valor. A grande produção de grãos do Mato Grosso ela acaba gerando tributos e receita na indústria lá no Rio Grande do Sul ou em São Paulo, onde são fabricadas as máquinas (agrícolas) que nós utilizamos aqui. Não digo que vamos conseguir trazer fábricas deste tipo para cá inteira, mas digo que podemos fazer muita coisa para agregar valor em nosso produto. Transformação de proteína vegetal em animal é uma delas. Em vez de mandarmos milho daqui a gente manda aves, manda suínos, boi, peixe já agrega valor.
Agro Olhar - Combustível como etanol, biodiesel. Normando Corral - O etanol é a coisa com mais falta de lógica que eu vejo no comportamento do consumidor. Todo mundo defende o meio ambiente e não tem nada inventado no mundo menos poluente como combustível que o etanol. É uma coisa que se tivesse sido inventada pelo norte-americano a gente estava encharcado de etanol o dia inteiro e, no entanto ninguém faz opção por ser um combustível limpo e de fontes renováveis. Ele (consumidor) vai à bomba e vê que está mais barato e abastece e quase que é uma aceitação geral, porque 70% do preço da gasolina eu abasteço em etanol quando na verdade teria de ser 80%, mas não deveria ser isso. É um combustível que nós temos, é muito mais barato, de fontes renováveis de energia e principalmente não poluente. Entretanto, o Brasil deixou isso de lado. O governo brasileiro, a política pública brasileira deixou isso aí de lado. E o etanol no Estado de Mato Grosso, onde a gente produz em torno de 700 milhões de litros e consome entre 300 e 400 milhões de litros e o restante exporta para outros Estados, é onde nós temos de fazer uma transformação. Nós temos uma capacidade de aumentar a produção de etanol, não pela cana de açúcar, mas com o etanol de milho. Mas, nós precisamos transformar o que já há em pesquisa que é o diesel. Nós consumimos aí 3 bilhões de litros de diesel em Mato Grosso. É muito diesel que vem para cá e se a gente conseguir fazer o diesel do etanol, que já existe, tem ônibus que rodam em São Paulo já com diesel de etanol, aí nós vamos estar bem mais tranquilo. Agro Olhar - Ao final do ano passado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou pesquisas, referentes a 2013, em que mostra que Mato Grosso, além de principal produtor de bovinos, soja, milho e algodão, é também de peixe. Como a Famato e o setor produtivo vê este posicionamento de Mato Grosso, incluindo a piscicultura, neste cenário nacional? Normando Corral - É uma característica do Estado. Nós jamais vamos ser um Estado que vai despontar em industrialização. Assim mesmo tendo alguns pontos turísticos interessantes para ser visitados jamais a nossa economia vai se basear no turismo. A vocação do nosso Estado é a produção agrícola. Se você tem uma vocação natural você tem que seguir e fazer o melhor nela. Então, Mato Grosso pelo fato de ter uma extensão territorial vasta e o clima faz com que a gente faça da nossa vocação a melhor possível, que é a produção agrícola. Então, acho muito difícil a gente não começar alguma coisa aqui que a gente não se torne o maior produtor. Seja de peixe, de pecuária, de girassol, de algodão, de soja, de milho. Mato Grosso é muito grande. Se você somar Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo estes seis Estados concentram a maior população do Brasil, onde se concentram cerca de 100 milhões de pessoas, é o tamanho do Estado de Mato Grosso em extensão territorial e nós somos 3 milhões de habitantes, então o que nós vamos fazer? Nós vamos produzir coisas. Vamos fazer nossa vocação que é produção agrícola. Então, aqui temos extensão territorial e vamos fazer, mesmo com as restrições ambientais que nós temos, com as enormes reservas indígenas que nós temos.

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