segunda-feira, 30 de setembro de 2013

30/09/2013 - 14:30

30/09/2013 - 14:30 Precisão traz salto de produtividade DCI A aplicação de insumos de acordo com a variabilidade da lavoura, técnica conhecida como agricultura de precisão, ainda é pouco difundida no Brasil, mas pode ser o meio para um novo salto de produtividade do agronegócio. O ganho econômico depende de inúmeros fatores, mas em cooperativas gaúchas chegou a 11,7%. Outros relatos indicam incremento de produtividade de 20% e economia de insumos de 30%. O método consiste em traçar um diagnóstico da área de plantio, mapeando as necessidades de cada microárea, e aplicando a quantidade exata de cada insumo, em vez de aplicar uma taxa média em toda a lavoura. “O campo não é uniforme”, diz o coordenador da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, Ricardo Inamasu. “Há diferenças de paisagem, topografia, solo, clima, umidade; é tudo diferente.” Na cooperativa Farol, com atuação focada na agricultura de precisão, e que possui 2.500 produtores na região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a aplicação de fertilizantes e corretivos de solo garantiu alta de produtividade de “no mínimo 20%”, afirma Vilmar Merotto, que preside o conselho de administração. Segundo ele, os produtores da cooperativa atuam em uma área onde o solo é muito manchado. Por isso, o diagnóstico do terreno e a aplicação de insumos de acordo com a variabilidade acabam sendo muito importantes. “Em 10 ou 20 metros já percebemos diferenças. O que fazemos é tentar homogeneizar essas áreas.” Para Merotto, é difícil mensurar o ganho dos agricultores. Mas ele afirma que alguns têm tido ganhos “muito substanciais”. No caso da soja, por exemplo, ele diz que a produtividade ultrapassa 3.600 quilos por hectare. Se comparada com a média nacional de 2.937 quilos, apurada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção da cooperativa é 22,6% maior. Na Central de Cooperativas Gaúchas (CCGL), a estimativa é que 5.500 dos 170 mil produtores (3,2%), trabalhem com agricultura de precisão. Segundo pesquisa da instituição, esses agricultores têm ganhos 11,7% maiores, mesmo considerando os custos adicionais. “Os números são muito significativos. E a fração dos que usam o método tem crescido 30% ao ano”, afirmou o pesquisador Jackson Fiorin, da CCGL. Segundo ele, também é importante considerar que em torno de 80% dos produtores associadas à CCGL atuam no sistema de agricultura familiar. Em menor escala, o investimento em equipamentos e consultoria técnica acaba ficando mais caro. Segundo Fiorin, o grande produtor consegue investir em máquinas e ferramentas para aplicar os conceitos da agricultura de precisão. “Mas para pequenos, a cooperativa cumpre esse papel.” Fiorin também destaca que a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) contribuiu bastante para o desenvolvimento de tecnologia na região. A universidade gaúcha é a única no Brasil com um programa de mestrado voltado especialmente para a agricultura de precisão, além de programas de graduação e curso técnico na área. Com isso, a região também hospedou, na semana passada, o 2° Congresso Sul-Americano de Agricultura de Precisão e Máquinas Precisas, na cidade de Não-Me-Toque (RS). Segundo o professor Telmo Amado, que coordena o programa de mestrado profissional em agricultura de precisão da UFSM, o encontro reuniu mais de 1.000 pessoas. “A ideia é dar ferramentas para as pessoas que vão adotar a técnica e dispor de um fórum de discussão e mostra de trabalho.” Telmo também coordena o projeto Aquarius, iniciado em 2000, fruto de uma parceria entre as empresas Massey Ferguson e Stara, de equipamentos agrícolas; a Yara, de fertilizantes; a cooperativa Cotrijal; e a universidade. A iniciativa tem como objetivo desenvolver técnicas para o ciclo completo (fertilização, plantio, cultivo e colheita) de agricultura de precisão. No começo, o projeto contava com duas áreas comerciais, a Schmidt, de 124 hectares e a Lagoa, com 132 hectares, ambas no município de Não-Me-Toque. Hoje são 16, com 729 hectares. Segundo o professor, o início do projeto consistiu no diagnóstico do solo das lavouras para a elaboração de mapas de atributos químicos e a aplicação de insumos com taxa variável. Atualmente, Telmo diz que já existe uma série de técnicas mais avançadas que complementam a correção do solo. “Trabalhamos com sensores que identificam onde estão ervas daninhas e pragas, por exemplo.” Outra área, é a semeadura precisa, que permite identificar falhas no processo de plantio. Por outro lado, ele diz que sem treinamento adequado, essas tecnologias acabam sendo desperdiçadas. “Não adianta essa tecnologia sem treinamento.” Para a formação de operadores de equipamentos agrícolas que atuam com ferramentas da agricultura de precisão, o Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), tem oferecido um curso especial em agricultura de precisão. “Treinamos 45 instrutores no ano passado. E estes vão dar aulas para os operadores”, disse o coordenador do programa, Igor Borges. Segundo Borges, os produtores investiram em máquinas, mas sem saber usá-las. “É comum que os operadores inclusive desliguem parte dos eletrônicos por falta de instrução.”

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