quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Safra 2019/20 de soja da América do Sul demanda atenção na Argentina e Paraguai



Publicado em 30/10/2019 16:02 e atualizado em 30/10/2019 16:35

A safra de soja da América do Sul - considerando as colheitas do Braisl, da Argentina e do Paraguai - deverá alcançar 186,2 milhões de toneladas, de acordo com as últimas estimativas do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu reporte mensal de oferta e demanda de 10 de outubro. 
Caso estes números todos se confirmem, a produção mundial de soja seria de 338,97 milhões de toneladas, o que significa dizer que a oleaginosa sul-americana responderia por, aproximadamente, 55% da oferta global. O plantio da safra 2019/20 está em pleno desenvolvimento e já chama a atenção em algumas regiões produtoras nos três principais países produtores.
Na temporada 2018/19, o número do USDA para a safra global foi de 358,77 milhões de toneladas e da América do Sul, de 181,15 milhões. 
As condições de clima, ao menos por ora, não são favoráveis na Argentina e no Paraguai e as previsões para as próximas semanas ainda não indicam quaisquer melhoras substanciais. No Brasil, os problemas são pontuais e há algum atraso na semeadura da soja, porém, ainda nada que possa mudar as perspectivas de uma safra acima das 120 milhões de toneladas, segundo apontam especialistas. 
BRASIL
O USDA estima a nova safra de soja do Brasil em 123 milhões de toneladas. A estimativa da consultoria ARC Mercosul é de 121,9 milhões. Em ambos os casos, confirmado, o número traz uma safra recorde para o país. Além disso, como acredita o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a área 2019/20 também deverá ser recorde e alcançar os 37 milhões de hectares. 
A semeadura da oleaginosa avança neste momento na maior parte dos estados brasileiros neste momento, mas há ainda muitas regiões onde a falta de chuvas ou sua irregularidade têm promovido necessidades de replantio, atraso mais severo nos trabalhos de campo e preocupação com a produtividade. 
De acordo com o último levantamento da ARC, até a última sexta-feira (25), o Brasil tinha pouco mais de 34% da área prevista já semeada com soja. De lá para cá, algumas situações permitiram um melhor progresso do plantio. 
No Paraná, por exemplo, a chegada de chuvas um pouco melhores permitiu um avanço de 20 pontos percentuais do plantio levando o total a 65% da área, segundo números do Deral. Dessa forma, os números se aproximaram do registrado no mesmo período  da safra anterior, mas ainda assim a instituição afirma que a temporada 2019/20 exige atenção e cautela do produtor paranaense. 
Saiba mais na entrevista de Marcelo Garrido, economista do Deral ao Notícias Agrícolas nesta quarta-feira (30):
Plantio PR
Gráfico: Karen Braun - Dados: Deral
Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do país, os números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) mostram que o plantio da soja está concluído em 64,5%. " Se as condições climáticas continuarem favoráveis, a expectativa é de encerrar a semeadura de forma semelhante à série histórica", diz a instituição.
Plantio MT
Gráfico: Karen Braun - Dados: Imea
ARGENTINA
Para a colheita da Argentina, a estimativa do USDA é de 53 milhões de toneladas, contra 55,3 milhões da temporada 2018/19. E ainda segundo um levantamento feito pela ARC Mercosul, o plantio está concluído apenas em algo entre 1% e 2%, ainda caminhando com um ritmo bastante lento diante do excesso de chuvas nas principais regiões produtoras do país.
E este padrão mais chuvoso, onde vem sendo registrado, deverá se estender e continuar preocupando os produtores argentinos até o final de janeiro de 2020, como explica o diretor da ARC, Matheus Pereira. 
"E é importante lembrar que por lá os solos são diferentes, mais argilosos, com uma retenção hídrica maior. Dessa forma, muitas vezes na Argentina o excesso de chuva causa maiores estragos do que a falta de chuvas. Então, essas chuvas são ponto de atenção para a soja, o milho e a qualidade do trigo", diz. 
Segundo informações da Bolsa de Comércio de Rosário, metade de Buenos Aires já recebeu mais de 60 mm de chuvas nos últimos quatro dias. A parte central da província, que é a mais necessitada, já que continua sofrendo com a seca, não foi contemplada com as precipitações. Partes de Entre Rios receberam mais de 45 mm nos últimos dias. 
O clima, no entanto, não é a única preocupação dos produtores argentinos nesta próxima safra. O resultado das eleições presidenciais no último domingo (27) é outro ponto de atenção. Em 2020, o candidato de esquerda Alberto Fernández assume, com sua vice Cristina Kirchner, e o agronegócio já teme um retrocesso e uma maior carga tributária. 
"Fernández disse que vai pagar sua dívida com o FMI e um dos únicos caminhos que tem para isso é aumentando a carga tributária sobre o agronegócio", explica Pereira. Mais do que isso, o diretor da ARC afirma ainda que depois de domingo, a incerteza entre os representantes do agro argentino cresceu demais. 
"Não serão anos fáceis. O produtor argentino já tem enfrentado uma severa desvalorização da sua moeda, que vai continuar acontecendo. Ele comprou insumos mais caros para esta safra, então, digo que eles não têm boas notícias. Mas o produtor argentino vem de uma temporada de lucro, de safra cheia, então está, de certa forma, capitalizado", explica. 
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O consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, compartilha da opinião de Pereira e acredita que uma nova grande era de dificuldades se inicia para o agro argentino a partir da posse do novo governo. "Vamos assistir daqui, mais uma vez, a insolvência do setor do agronegócio da Argentina", diz. 
PARAGUAI
Se na Argentina a preocupação se dá com o excesso de chuvas, no Paraguai o quadro é crítico por conta da falta delas. Com quase 95% do plantio já concluído no país, as taxas de replantio deverão ser as mais elevadas da história. E a tendência é de que esse padrão de tempo mais seco persista até meados de novembro, sem trazer grande alívio aos sojicultores paraguaios. 
Para Matheus Pereira, o Paraguai já não tem força para alcançar o potencial produtivo inicialmente estimado. "Há produtores relatando que estão na sua terceira necessidade de replantio e isso, além de tudo, aumenta os custos de produção", diz. "A janela ideal já passou". 
A estimativa de Vlamir Brandalizze é de que a colheita paraguaia de soja deve alcançar algo entre 10 e 10,5 milhões de toneladas, número próximo das 10,2 milhões de toneladas estimadas pelo USDA para esta temporada 2019/20. 
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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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