domingo, 28 de fevereiro de 2016

Conheça os inúmeros produtos e encantos da Serra da Mantiqueira

Edição do dia 28/02/2016
28/02/2016 09h35 - Atualizado em 28/02/2016 09h35


Conheça os inúmeros produtos e encantos da Serra da Mantiqueira



Além de belas paisagens e de muitas histórias, a Serra da 
Mantiqueira é um lugar de aventura e produção agropecuária.

Ivaci MatiasDo Globo Rural


 A  Serra da Mantiqueira, de belas paisagens e de muitas histórias, é também um lugar de aventura e ainda um paraíso para quem gosta de provar as delícias cultivadas pelos agricultores da região.
Com 2.791 metros de altitude, o Pico das Agulhas Negras, na divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro, é uma das regiões mais frias da Serra da Mantiqueira. A temperatura média anual é de 11ºC.
As águas frias que nascem no Parque Nacional de Itatiaia, a 2.300 metros de altitude, são aproveitadas para a criação de trutas, uma atividade tradicional da Serra da Mantiqueira. Em Bocaina de Minas, a especialidade do criatório é a truta cor de rosa.
Parte da criação recebe um pigmento misturado na ração para salmonar a truta - isto é deixar sua carne cor de rosa, imitando o salmão. Quem quiser pode provar os pratos da cozinha da fazenda. Tem até sashimi e truta ao molho de alcaparras.
Alcaparras da Mantiqueira. Essa raridade é cultivada por Sérgio Di Petta em Brazópolis, na Matinqueira de Minas. A alcaparra é uma planta do Mediterrâneo, usada normalmente como tempero.
A Mantiqueira também tem oliveiras. Essa cultura foi introduzida em 1937, graças ao pai do agricultor Jorge dos Santos que saiu de Portugal para viver na Mantiqueira. Jorge tinha oito anos e, durante a viagem de navio, ficou encarregado de vigiar as mudinhas, que vieram escondidas em uma mala. Boa parte das plantas cultivadas hoje na região são filhas das mudinhas que Jorge trouxe há 78 anos.
Hoje a região produz cerca de dez mil litros de azeite por ano e tem muito espaço para crescer, pois o Brasil importa mais de 70 mil toneladas por ano. O engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi, de São Bento do Sapucaí, na Mantiqueira paulista, já escolheu a variedade ideal para o clima e a altitude da região dele: é a Maria da Fé, a mesma que Jorge trouxe escondida na mala.
“Ela produz uma média de muito elevada de frutos por pé, ela nos dá um rendimento satisfatório de azeite e tem dupla aptidão, porque as olivas também são muito saborosas para a mesa”, explica. Há dez anos, Rodrigo se tornou também produtor de uvas e vinhos.
Os agricultores Marinaldo e Silmara Pegoraro moravam e trabalhavam em Curitiba, no Paraná. Hoje, são produtores de verduras e frutas orgânicas, em consórcio com sete hectares de oliveiras. “A aceitação é fenomenal, há um enorme espaço para que mais produtores venham se somar nisso”, diz Marinaldo.
CAFÉ
Um dos produtos mais importantes para a economia da Mantiqueira é o café. As lavouras de cafés especiais viraram atração turística da região. Dá para visita-las voando de balão. O passeio é organizado pela Fazenda Sertões, que já conquistou várias vezes o primeiro lugar em café de qualidade nos concursos nacionais e internacionais.
Compradores de vários países visitam a região para provar as bebidas. Cristian representa uma indústria de café dos Estados Unidos. “Estou impressionado com o café da Mantiqueira. Encontrei fragrâncias de cereja, de limão e várias outras frutas. Essas bebidas ácidas são ótimas para fazer misturas com outros tipos de cafés.”
A Fazenda Baixadão, no município de Cristina, é outra campeã em café de qualidade. “O motivo é exatamente essa combinação única que ocorre na Mantiqueira: o clima, o solo, a topografia favorável e principalmente a altitude. A altitude, de fato, é um diferencial. Muitas pessoas comparam a altitude do Brasil com a altitude dos outros países. É importante entender que há uma compensação pela latitude. Como estamos mais ao sul, a altitude de 1.200 a 1.300 metros equivale, por exemplo, na Colômbia, a 1.800, 2.000 metros de altitude. Então nós temos essa combinação altitude e latitude como um evento único nessa região da Mantiqueira de Minas”, explica o agrônomo da Universidade Federal de Lavras Flávio Borem.
MONTANHISMO
A cidade de Passa Quatro, no sul de Minas Gerais, é uma das portas de entrada para as terras altas da Serra da Mantiqueira. É um lugar muito procurado para a prática do turismo de aventura como conta o fotógrafo César Saulo. “Um turismo que está despontando com toda força é o montanhismo”.
O Pico dos Três Estados é um ponto geográfico muito importante da Serra da Mantiqueira. É nele que os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro se encontram. O pico está localizado a 2.665 metros de altitude. No topo, uma escultura de ferro marca o ponto de união dos três estados da Mantiqueira. Nossos repórteres fizeram a caminhada até a Serra Fina. Foram 12 quilômetros pela crista da Serra Fina até alcançar os campos de altitude a 2.050 metros.
O nome da cidade de Passa Quatro foi inspirado na passagem dos bandeirantes por essa região no século 17 à procura de pedras preciosas. Dizem que eles atravessaram as curvas desse rio quatro vezes, antes de conseguir pouso seguro dentro da Mantiqueira. Dai o nome: Passa Quatro.
Depois de oito horas de caminhada chegamos no Alto do Chapadão, que abriga os campos de altitude. A Pedra da Mina é uma das maiores montanhas do Brasil. Longe da cobiça humana os campos que cobrem os pés da Pedra da Mina formam uma ilha biológica quase intacta e ainda pouco conhecida da ciência.
“O fato da Serra Fina ter ficado muitos anos desconhecida e com pouca visitação faz com que ela tenha hoje áreas expressivas altamente preservadas, com espécies endêmicas, que não são conhecidas ainda, é uma relíquia biológica do mundo”, explica o geógrafo Lorenzo Baggini.
Mas a situação da vegetação das encostas da Mantiqueira abaixo dos mil metros de altitude é bem diferente. O geólogo Newton Litwinsk diz que os produtores vão ter que recuperar essas áreas urgentemente para segurar a água da chuva que está se tornando escassa na região.
“Nós temos pelo menos 1.400 milímetros de índice pluviométrico por ano, mas agora isso tem reduzido. Como o nosso sistema de armazenamento da água é um sistema fraturado, profundamente fraturado, ele é um sistema furado. A Serra é uma caixa d’água, mas ela tem uns furos, que são as cachoeiras, as nascentes. Se a alimentação não for constante, em menos de um ano ela já saiu do sistema. Então, é preciso que esses furos, essas saídas de água, sejam fechadas”, explica.
Para não ficar só no discurso, Newton resolveu recuperar o solo de um sítio de 83 hectares emDelfim Moreira, na Mantiqueira de Minas. Ele está regenerando a mata nativa e cultivando 14 hectares de oliveira, em consórcio com outras culturas. “Como as linhas das oliveiras são de seis em seis metros, nós temos 35 espécies vegetais que cultivamos nesse intervalo. Cada uma tem uma função, uma finalidade.”
Com seu pomar de oliveiras e sua sabedoria, Newton revela um modelo sustentável de uso da terra: uma prova de que é possível o agricultor viver e produzir sem degradar o solo, a água e a paisagem belíssima da Mantiqueira.

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